Um riso, alguma lágrima e qualquer palavra. Não muito mais que isso, nem em variedade de emoções e nem no aprofundamento delas. As demonstrações foram aprendidas e já parecem habituais, mas o sentimento propriamente dito é negligenciado, perdido. Não têm tanta importância. Diante de acontecimentos catastróficos mostra-se o horror, uma surpresa minuciosamente preparada por alguém estimado justifica a exaltação e a mais ínfima decepção pode ser boa razão para o pranto que perdura por semanas. Ao fim de tudo isso, a expressão imparcial domina a face e dissimula sensações anteriores.
O aspecto de desinteresse é mais uma dessas síndromes urbanas em que o auge da impessoalidade é almejado, contudo, uma vez alcançado, não pode mais ser descartado. Diversas situações parecem impor apatia às pessoas mais sensíveis, que se adaptam ao perfil e ingressam no que chamamos de sociedade. Com verdadeiras armaduras que protegem dos fatores externos de sensibilização, elas já estão aptas a encarar qualquer situação sem se abalar. Assim, quem não veria uma boa razão para buscar incessantemente pela indiferença em sua essência, que todos possuímos?! Atingir tal nível é certamente um objetivo de vida para muitos e, hoje em dia, não há nada de questionável nisso. Ou melhor, nada que alguém tenha interesse em questionar.
É cômodo estar alheio aos milhares de problemas indiretos que nos circundam, só esperando alguém mais assumir a responsabilidade para que não seja necessário um envolvimento. Os movimentos mecânicos tomam lugar de atitudes sinceras e atentas, como quando mães perguntam aos filhos se estão bem vestidas e ouvem um “sim”, sem ao menos serem olhadas. Ainda que não haja nada melhor para fazer, parece perda de tempo dar atenção para quem só pediu uma opinião. Se responder o que o outro quer ouvir é rápido e evita problemas, por que não? A honestidade aflige àqueles que entram em contato direto com ela por não estarem preparados para lidar com esse horrível golpe, então, em prol de uma humanidade menos tensa, é válida a sua extinção! Oba!
Entranhados no hábito de ignorar a presença alheia, a sociedade caminha diariamente num imenso bloco de seres à parte, um tanto robóticos e distantes. Aí, eu imagino seu movimento surpreendentemente sincronizado, já que não há comunicação, e posso ouvir o ruído dos passos conjuntos. Essa imagem me remete à cena de The Wall e eu quase consigo sentir o cheiro de carne processada em que todos acabariam se transformando no fim da longa esteira, comumente chamada de avenida. Parte de uma mesma massa, indiferente pela presença dos demais elementos e padronizada para consumo, somos salsicha, somos mortadela.
Temos mesmo um quê de coisa morta e fedida.
sexta-feira, 3 de agosto de 2007
Salsicha social
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5 comentários:
sempre viajo nos seus textos.
acho que desisto de entendê-los! :P
Tivemos uma conversa um dia.
Lembra do cerébro de pipoca do cinemark?
É os Deuses já´previam isso, mas ainda quero meu quadradinho de chocolate...
Nossa.....comparar a avenida com a esteira de carne é perfeito!
Ótimo Nana!
Embutidos apenas.
Ah, eu não sou não!!
Fugir ao comum é meu lema diário!!
Exercitar a fraternidade e o carinho mútuo em uma troca recíproca de sentimentos bons!
A Milla me conhece, sabe que é verdade!!
Mas acredito que valha para a maioria sim!!
Bjs!
Toad
hahaha, genial a parte do "the wall". hahaha. meu passeio pela "avenida" não será mais o mesmo.
=]
beijo, nana.
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