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segunda-feira, 13 de agosto de 2007

As aulas começaram. Professores novos e alguns velhos. Teremos assessoria de imprensa com o professor de segurança no trabalho. Faremos blog, site e o diabo com o tema educação.

Teremos provas e trabalhos. Mais do que os do dia-a-dia.

Todas as pessoas desse zine esperam o line-up do tim festival e as suas respectivas bandas favoritas. Uns se martirizam por ser pobre e não ir ao show do Incubus e uma alma dessas nós representará.

Entre shows de bandinhas em infernos e sescs, voltamos as aulas e ao zine com uma novidade. Passamos a ser de 10 em 10 dias, com eventuais e já pedidas desculpas, atrasos.
Além disso tem outra novidade que a gente informa no número 5.

Enquanto isso, divirta-se tanto quanto nós cinco no quatro.

Amor com fritas, por favor.

Sábado, 23hs vou à locadora com meu namorado alugar um filme.
Estou na fila para pagar e presencio a seguinte cena:
Uma moça entra e pergunta para a atendente:
-Você tem “Em busca da felicidade”?
-Xii não tenho, está todo mundo procurando pela felicidade, mas ninguém está achando, mas também procurar felicidade num sábado a noite é algo difícil mesmo.

E você acredita na felicidade? Creio que tudo depende do ponto de vista em que o objeto (no caso você ou eu) se encontra. Se você está morrendo de fome, a felicidade significa um prato de batata frita e por aí vai.

Mas eu quero mesmo é falar do clichê, de um casal como os da propaganda do danone saudável, que vive sorrindo por ai. Que absurdo, isso não existe, o casal teria câimbra em menos de dois dias de ficar rindo aquele sorriso amarelo insistentemente por tanto tempo, que besteira credo.

A maior mentira já inventada é a da tampa da panela sabe?

E se sua tampa na verdade não for de panela e sim aquelas de plásticos, da Tupperware que com o tempo fica torta e nunca mais se encaixa no pote? Ferrou! Pronto a pessoa está fadada a morrer sozinha ou no máximo com alguém meio torto.

Eu não sou tampa, panela, chinelo velho, metade da alma de alguém do outro lado do mundo, eu sou eu e é o suficiente, para ter bons momentos comigo mesma ou acompanhada oras.

Eu encontrei alguém que me proporciona momentos felizes e ele não é nada bizarro como uma tampa, juntos somos muito mais do que bocas abertas. Não se deixe enganar achando que seu par (seja homem ou mulher) saberá exatamente o que você sente e o que você quer ninguém nunca sabe essas coisas. Somos, no nosso ritmo, contexto e momento, o que quisermos ser, menos panelas.

Não existe pessoa perfeita, existe alguém que nem sempre te entende, mas se esforça pra isso, que te faz chorar mesmo não querendo isso, que discute com você porque se importa a esse ponto ao invés de te ignorar, que te anima com piadas esdrúxulas, uma pessoa que ri das suas babaquices sem te julgar, uma pessoa que te faz melhor, que acredita e confia em você.

Ah é claro que depois de tudo isso a pessoa deve te amar ou algo do gênero, mas pode ser masoquismo também porque tem gente estranha no mundo.

Eu escrevo com conhecimento de causa, porque essa pessoa ai em cima descrita é meu namorado. Já nos aturamos há um bom tempo e olha que nem percebo isso. Pode chamar de amor se quiser, se assim ficar mais fácil para entender, mas eu acho que é muito mais do que simplesmente amor, muito mais do que já vimos nos filmes, muito mais complexo que felicidade e muito mais substancioso que paixão.

Imagine só um dia que eu estou morta de fome e aparece meu namorado com um prato de batata frita?

Nossa!Que momento feliz.

Espero que todos encontrem suas fritas e afins.

Inside the cage

Sabe, desde que você foi, o que eu achava ser solidão necessária, perdeu o gosto bom. Pra que pensar se as pessoas só ouvem e não entendem nada. Você entrou naquele maldito avião e desde então tudo me irrita. A boa vontade das pessoas me irrita. Me irritava antes, tudo me irritava, mas dessa vez não tem você aqui para fingir que entende. E só você finge bem.

Continuo escrevendo e fingindo que é para nada. Talvez queira ser como eles. Nunca te falei, mas sinto falta da normalidade. Certas coisas só são legais em vidas alheias e essa é a minha.

Eu tô lendo um deles mas não quero as palavras dele. Quero as suas, nem que seja em uma noite bêbada, a ligação longe e ecoando. E você ali tentando me falar alguma coisa. Como naquele dia que você falou, falou, falou e eu não ouvi nada. Meu cérebro desligava quando encontrava o seu olhar. Podia ver minha alma dissolvida na sua vida. E tudo virava só um líquido como aqueles sucos em pó. Mas você não bebeu até o fim e o resto ficou concentrado no fundo do copo. Eu também fingia que entendia, ou talvez, lá no fundo eu entendesse mesmo.

Escrevo na minha agenda fofa pra te trazer para junto de mim nesse metrô. É aquela da qual você riu quando viu. Era inacreditável eu quebrar minha pose em uma coisa tão menininha enquanto eu tentava ser mulher. A sua mulher.

Talvez, você também pense algumas coisas parecidas enquanto está aí onde um dia pensamos que estaríamos juntos.

Acabei de encontrar uma moeda no banco ao meu lado. O cara levantou e eu fiquei com preguiça dele e da interação. A moeda continua no banco ao lado. Ele era legal. Se abaixou para pegar o meu relógio que se soltou do meu braço quando sentei. Lembrei daquelas moedas que nos procurávamos pela casa para completar o preço dos nossos vinhos vagabundos. Aqueles que nós molhávamos em salgadinho para ver o quanto nossos fígados nos odiava. O salgadinho azul e as nossas risadas. Bebíamos mais e mais. Eu peguei a moeda para guardar junto com essa lembrança. Mas agora eu tenho outras, trabalho para espantar as saudades e comprar alguma diversão na adega da esquina. Você não sabe, mas eu não bebo mais vinho. Ele tem o seu gosto e eu passei mal daquela vez. Quase tão mal quanto o que você me faz. Só que eu pus pra fora e você continua aqui dentro.

Cheguei na Saúde. Estranho pensar que a minha saúde é frágil graças aos excessos de besteiras e a secura de você.

Lembra de quando ríamos dos casais programados para dar certo? Acho que desde então, sabíamos que nós não daríamos.


Sabe qual é o seu problema? Você fica aí tentando me decifrar e pensando coisas feias. Enquanto, eu estou aqui pronta para responder as suas perguntas. Ou não. Mas, estou aqui, como sempre estive e você com essa sua maldita distância. Daí ninguém entende as coisas e todos ficam falando, falando, falando e eu cansei de ouvir. Todas aquelas vozes que não são a sua. Todas aquelas coisas que não são as suas. Toda aquela vida que não é a sua. Vou pegar um gato vagabundo e livre e afofar ele. Cuidar, alimentar e limpar. Como se fosse você. Na verdade ele é melhor do que você. Vai se apegar a minha casa e depois dar no pé com uma gata borralheira da mesma espécie. Então, eu aumento a família e a trago pra cá. Formaremos um triângulo amoroso muito mais interessante do que este.

Quando o telefone tocou ontem pensei que pudesse ser você. Corri para buscar o celular e a voz do outro lado parecia uma gravação. Tudo muito longe. Tudo muito perto. Você me pedindo coisas que eu não conseguia entender. Parecia bêbado, confuso e mentiroso. Como naquele dia no qual você falou que seria para sempre. O para sempre ainda não acabou. Minha imaginação queria acreditar que você não sairia daqui. E eu podia dormir e acordar olhando as suas costas. Sempre as suas costas. Mas você levantou aquele dia e falou que ia. Perguntei qual era o seu problema e voltei a dormir. Achei que era mais uma brincadeira. Achei até ver aquele avião partir e você ir sem mim.

Todas as noites penso em como tudo poderia ser diferente se eu não olhasse essa rotina nos olhos. Pouca coisa faz sentido. Alguns planos que me levam de volta aos seus braços. Você sempre sorria e nem era para mim. Era pra minhas mentiras e histórias surreais envoltas em uma névoa de fumaça. Sempre lembro de você quando vou naquele bar. Ele agora é enfrequentável. Seja pelas lembranças ou por não suportar aquelas pessoas. E ele ainda esquenta minhas mãos, mas não tem a sua jaqueta para eu transpor e formar um laço na sua cintura.

Quando eu acho que acabou. O filme recomeça e você impregna em um corpo consumido. Falo as coisas que seriam suas para qualquer um. Só porque consigo sentir o seu cheiro no corpo deles.

Ainda tenho os livros que você me deu enquanto falava que eu ainda tinha muito a aprender. As músicas que ouvimos juntos, naqueles cds que não lembro como você conseguia, aquelas mentiras que bebíamos em forma de vinho barato.

Vou ali gastar aquela moeda com um doce para tirar o seu gosto da minha boca enquanto não o tiro do coração.

Com amor,
sue.

domingo, 12 de agosto de 2007

Escrito de aspiração

Como quem não possui pretensão alguma, menciono Deus para ateus, carne para vegetarianos, promiscuidade para monógamos e iminência sentimental para apáticos. Espero uma expressão retraída precedendo argumentação consistente, mas vejo a dissimulação habitual de quem já não sabe o porquê de suas convicções.

Fingindo não me importar, desminto a possível relevância do sonho alheio. Espero fúria, contestação e afirmação de ideais impulsionada pelo otimismo latente. Ao contrário, presencio o desmoronamento de quem inventa um objetivo para se iludir que não caminha às cegas, temeroso pelo que vem adiante.

Supondo serem as minhas preferências mais válidas, ridicularizo a restrição feita à arte popular como se fosse a única tangível para toda a sociedade. Não ouço elogio por parte desta que justifique tal exclusividade e, no entanto, nenhuma demonstração de interesse pelo acesso a qualquer outra expressão artística, assim como por sua maior exposição.

Procurando aparentar segurança, questiono o não posicionamento político dos que acompanham escandalosas falhas no sistema vigente. Percebo a indignação calada de quem possui conhecimento histórico, informação aprofundada sobre acontecimentos contemporâneos e nula perspectiva futura.

Forçando um moralismo desqualificado, critico o abuso daqueles que se entorpecem com o intuito de permanecerem distantes daquilo que os desagrada em um triste mecanismo de fuga. Vejo, então, olhares vagos de quem já perdeu o interesse por medidas mais enérgicas e prósperas.

Escuto rumores sobre um império de desanimados da última geração. Ele se alastra e converte os dissidentes encontrados na contra-direção de sua marcha. E, como quem ainda busca estar alheio a tudo isso, vejo alguns que inventam uma força sobrenatural para se manterem firmes na barreira contra a imposição de conformidade que se aproxima.

Com o vigor estampado nas bandeiras desse obstáculo, pressinto o perigo de desistência em massa sucumbir.
E, como quem ainda não havia dado por conta do próprio otimismo, esboço um sorriso aliviado.

Do blue ao rosa

Hoje o dia está coberto de nuvens e isso me deixa mais sonolento que o normal. Eu lembro de dias assim, quando estamos deitados no colchão que colocamos, propositalmente, na sala e alí ficamos debaixo do edredon assistindo programas da tarde e fazendo todos os planos que esperamos concretizar um dia.
Hoje o dia está coberto de nuvens e é diferente porque eu não estou no seu apartamento e não há edredon, programas, risos, abraços, beijos nem nada a mais. É sempre inevitavel eu me perguntar o por que de toda essa distância. Acho que foi por culpa dela que aprendi o que é morrer aos pouquinhos.

Sabe, os dias tem sido meio insossos, tão sem graça quanto àquela vez que fizemos macarrão e esquecemos de colocar o sal. Um dia eu espero ter uma casa com um quintal para podermos plantar alguns tempeiros. E nesse dia não haverá mais distância e não precisaremos mais nos preocupar com a falta de sal ou qualquer coisa que tempere nossa comida, teríamos tudo alí. Também não precisarei mais me preocupar em usar minha mente para me refugiar pensando na sua imagem. Eu te verei todos os dias, e sinceramente, me sinto tão bem assim.

Hoje eu saí, mesmo com toda essa neblina que encobre a cidade e todo esse vazio que você deixa quando pega o ônibus de sexta. Na feirinha da cidade vizinha, comprei umas coisinhas que achei que você gostaria. Não é nada demais. Faço isso porque, também, é impossível andar sem pensar em você, e qualquer coisa que me faz lembrá-la ainda mais, tenho vontade de te mostrar. Como aquele lugar que eu ainda vou te levar, lembra? Eu sempre digo que lá é meu paraíso. E é pra lá que eu quero te levar, pro meu paraíso.

Na viagem de volta pra casa, aproveitei o tempo que embaçava o vidro do carro e escrevi, com o dedo, aquelas palavras que sempre dizemos um ao outro. Imaginei se você no ônibus faria o mesmo. Os dias deveriam demorar menos quando estamos assim, os pensamentos atordoam minha mente quando sei que, assim que chegar em casa, minha cama vai estar vazia.
Então eu simplesmente espero. Eu, agarrado à minha esperança, espero que o relógio dê mais voltas que o normal, que a noite não tarde em chegar e que o metrô corte as ruas com mais velocidade que já fez um dia.

Daí serei eu, despido de qualquer coisa que esconda meu contentamento, caminhando de novo por aquelas ruas cheias de poças, assobiando nossa música, e depois de dar passos que beiram os pulos, esperarei inquietamente o elevador alcançar o seu andar. A ansiedade é tanta que fico com vontade de escancarar a porta pra te ver.
Mas é tão melhor quando você a abre pra me atender e me presenteia com o sorriso mais largo de todo o país, minhas dúvidas se acabam alí e não há forma maior de eu me sentir o cara mais sortudo de todo o mundo.

É, você tem todo esse poder. Salva minha semana em um segundo. Você e suas famosas bochechas róseas.

Paris

Cheguei em Paris no dia 26 de dezembro, enquanto famílias passeavam pela Champs Élysées, lá estava eu, sozinha. E foi assim sozinha que eu ficava sentada horas e horas em bancos que encontrava pelo caminho, observando as pessoas. Não há nada mais legal do que rir da mulher de casaco de pele tropeçando na calçada, do crepe de chocolate caindo da mão da criança (aquele berreiro) e do monte de turistas fazendo poses, batendo fotos e pulando de ponto em ponto, cumprindo a via sacra turística.

Naquela tal noite da Smirnoff fui para o quarto. Comi, não bebi (alguem pensou em trazer um abridor de garrafas para Paris? Eu não. A smirnoff serviu de café-da-manha do dia seguinte), e fiquei frustrada no quarto. Queria sentir a cidade, mas andar sozinha de madrugada pelas ruas estava fora de cogitação. Era meia-noite quando eu estava no metro pronta para voltar pro hotel após mais um dia de caminhada solitária, e então eles surgiram. Dois garotos falando português passaram por mim. Seria só mais dois brasileiros que tiveram a brilhante idéia de passar o reveillon em Paris. Não liguei, continuei e sentei para esperar o metro. Eles voltaram, tinham errado o caminho, e sentaram do meu lado. Daí já é demais né, não agüentei: Oi! Ficaram receosos é claro, brasileiro não é bicho muito confiável. Mas acho que afinal foram com minha cara. Graças a esses dois anjinhos que me apareceram pude rodar Paris pela madrugada toda. Tudo é mais lindo a noite, o nome cidade-luz poderia valer pela iluminação também. No dia seguinte nos encontramos, e rodamos Paris a luz do dia. Foi triste me despedir, mas alguns dias depois me encontraria com um deles em Berlim. Ele decidiu colocá-la na rota do mochilão, já que iria com uma intérprete.

Em um desses dias perdida e desacompanhada, sai para andar com os dois chineses do Hotel, que foram incumbidos de tirar minhas fotos. De pé, sentada, fazendo pose, parada. E a cada foto eles davam aquele sorrisinho típico e diziam: “ri ri ri, foto-fan, foto-fan!” Não dava pra deixar de rir. Eles só me abandonaram quando disse que iria na roda-gigante, estavam mais interessados nas lojas de carros. Entrei na fila, e logo na minha vez me avisaram: “Ô Branca-de-Neve, não pode ir sozinha não. Vou te arranjar uma família”. E eu ganhei uma família na roda-gigante, uma senhora alemã, sua filha e neta, que me mostraram tudo lá de cima, enquanto o controlador gritava lá de baixo: “Tá gostando Branca-de-Neve?”!

Ahan, gostei. Bastante. No último dia me despedi no cemitério, visitando Allan Kardec, Jim Morrison e Sartre. E voltei para “casa”, pronta pra trocar fraldas e dar mamadeiras.


Em alguns dias viajaria para Berlim. Mas essa é outra história, não tão feliz assim. Porque pra mim, Berlim sempre será uma cidade marcada e triste.