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domingo, 24 de agosto de 2008

30ª Edição

A Susi pode não andar sozinha, mas faz outras coisas, nem sempre sozinha.

Nesta edição o tema é o não recomendado aos menores de 18 anos, sexo. Portanto não nos responsabilizamos por porra nenhuma. Literalmente ;-)

E se sexo escrito é como a perpetuação do prazer, desça o scroll do mouse e seja eterno conosco.

Até a próxima.

=*

Como uma febre


Vinham à memória os filmes adolescentes, recorrentes na sessão da tarde, nos quais o relacionamento sexual dos protagonistas sempre envolvia um vínculo amoroso. Deitada, a mulher sorria imaginando viver esse papel enquanto um estranho a invadia. Ela não o amava e nem mesmo o conhecia; quanto a ele, sabia que só a silhueta feminina e curvilínea já era reconhecida antes do contato impetuoso. Nome, ocupação ou qualquer dado igualmente superficial eram desnecessários para o personagem másculo desta história.

O pesar no dilaceramento das expectativas da mulher nada tinha de religioso ou puritano, sendo somente uma questão de ter a fragilidade escancarada para atormentar o seu orgulho. Mostrar-se sempre confiante não foi o suficiente para impedir a corrupção de seus ideais, uma vez que o sexo também parte de princípios particulares. Agora havia alguém que a adentrava sem o seu consentimento e causava repulsa, insegurança e medo, variáveis de acordo com os movimentos dos corpos ali jogados.

“Let me put my love into you, babe
Let me cut your cake with my knife”


O sexo se configurava como uma guerra de predominância dos temperamentos, alternando do prazer ao desespero. Os gritos e gemidos das duas partes compunham uma melodia confusa e ofuscavam qualquer outro sentimento pacato que pudessem ter. A energia se esvaia e derramava ácida em um ambiente inóspito, o qual abandonava seu caráter restrito e evidenciava-se à mercê da necessidade e força alheia.



* Título e trecho de Let me put my Love into you, do AC/DC

Essencial


Não achava possível fazer amor. Se fosse verdade as pessoas não sofreriam pela ausência desse sentimento, simplesmente o fariam. Só mais uma mentira criada para pessoas inseguras lidarem com o sexo, porque soa melhor do que trepar como animais que, no fundo, é o que todo mundo faz.

Para os médicos ela era sexualmente ativa e para os puritanos, uma puta. Só não era uma Geni porque não dava para qualquer um. Sabia o que queria e quem era capaz de oferecer isso. Sexo era algo simples, comum a todos. Valia tudo por prazer. Entre quatro paredes ou não. Acompanhada ou sozinha.

Não gostava de sexo morno e mudo. Chegou a experimentar o estilo de transa contida de muitos casados, dos gemidos disfarçados de ser uma família na cama, mas o único efeito foi o tédio. Tinha que ser agressivo, falado e com força. Era isso o que determinava a intensidade do que viria.

Gostava de ser dominada e ficar que quatro, como todos os animais na busca do prazer primitivo. Se excitava em pensar que naquele momento era igual a uma cadela, uma vaca, uma gata ou qualquer outra fêmea que fosse. Era um reencontro com seus instintos. Um retorno à natureza. Gozar era fazer parte do mundo novamente.

Imagem: Vagina Jewel, de Lillit Keogh

Quem Cala Consente

Acordei agitado. Sonhei com sexo, na verdade, uma orgia. Eu não me sentia a vontade àquela manhã, não me sinto muito bem com pessoas suando e amontoadas. Liguei a TV, mais sexo. Meus hormônios me diziam o que fazer, e eu nunca nego a vontade do corpo. No caminho, tudo o que eu via era sexo, sexo, sexo. Sou uma pessoa normal, como todas as outras, sei das minhas vontades e necessidades. Mas não me masturbo, acho nojento. Prefiro me guardar para minha amada, a única que já transei sem ter asco daqueles líquidos e cheiros.

Trabalho no mesmo hospital onde ela estava. Entrei devagarinho como sempre, tirei suas cobertas e lá estava, à minha espera. Linda, branca, frágil como vidro. E tão sozinha, tão carente... Nunca me traiu, eu também sempre me mantive fiel. Dei um tapão no lado direito de seu rosto: "ACORDA amor, pronta pra mais um encontro?"

Ela sempre me espera nua, nunca nega fogo e quase não fala - perfeita! Faço tudo como um ritual, passo gel entre suas pernas, enfio dois dedos de uma só vez e ela adora, entra fácil fácil. Bato meu pau já duro e carregado em sua boquinha maravilhosa e ressecada e, logo em seguida, enfio em sua buceta. É a melhor sensação do mundo, enfio bem devagarinho, pra ela se acostumar com a sensação. Nunca nos olhamos nos olhos.
A deito de bruços, lambo seu cu, bato em sua bunda até que fique bem vermelha, então enfio todo meu pau e a como com força, com um ódio sem culpa. Puxo seus cabelos loiros
como se fosse arrancá-los, mordo suas orelhas e sua nuca, aperto seus peitos como se quisesse tocar seu coração - Bata, bata mais forte. Trocamos juras de amor: "Eu te amo sua filha-da-puta, e nunca vou te abandonar!". Então ela me tem dentro dela até o próximo encontro.

Quando acabamos, cantando baixinho nossa música preferida penteio seus cabelos, retoco seu batom, limpo minhas lágrimas, dou um beijo em sua testa e a cubro de volta. "Foi bom pra você meu amor?" Ela nunca responde, talvez no próximo encontro...






Sexo verbal não faz meu estilo

Os corpos respondiam como corpos. As intenções sumiam. As mãos correndo pelo meu corpo. Meu corpo percorrendo aquelas mãos. A respiração falha, os dedos respondem. Não importava nada do passado, nem um depois que não existiria, nos queriamos com a urgência da chama.

Animais em combustão. Cada beijo acendendo a inconseqüência. O seu corpo meu, eu sua. Meus toques sempre tiveram o termômetro do desejo. Sou melhor quando quero. Foi assim que acendi toda sua curiosidade. Seus olhos procuravam minhas mãos e eu procurava você.

Fechamos os olhos, fechamos o desejo em um acordo com o diabo e a recompensa era prazer. O seu cheiro velho conhecido em mim, de um jeito que nunca esteve, não pensava em nada, queria você e você naquele instante era um corpo e só. Tudo jorrava como vida, você pronto, eu pronta. Um só e nada faltava naquele momento que você era eu.

Sempre achei que te teria diante da curiosidade. Mas o jogo mudou, você comandou os atos.



Por mero prazer,
agora sua.

desejos

De todas as palavras que te disse ontem, quais não passaram despercebidas? Porque parece que pelo meu discurso, você só sentiu tesão.

A marca dos dedos ainda ardiam no seu rosto. A voz cessou. De repente suas costas tocaram na parede gelada, seu gemido de surpresa passou despercebido dentre tantos outros gemidos. As mãos percorriam os caminhos já conhecidos e, no ápice, prendiam seus pulsos, estendidos junto a parede. Ele dominava os movimentos, suas preferências, seus pontos. Seu prazer. Ela buscava seu corpo, sentia-se perturbada pela excitação reprimida por tanto tempo. Jogavam a favor dos seus instintos.

Não chega perto de mim. Esquece a porra do sentimento. Não dramatiza a situação, porque para as minhas necessidades, teu beijo não é essencial. Some da minha frente. Volta pra tuas putas, e dê a elas a porra do carinho reservado para mim.

Enquanto as palavras eram ditas e os olhos denunciavam o ódio, ele se aproximou. Os berros o deixavam louco. Já sentia o gosto de seu hálito, ela ainda gritava. Segurou seu braço, que insistia em apontar na sua direção, agarrou seus cabelos pela nuca e, antes que ela pudesse reagir, já estava a beijando.

Não tá funcionando. Enquanto eu te espero durante as noites, você circula com aquele bando de vagabunda. Roda bares como quem não tem par, usa pessoas como quem não tem caráter. Percebe que eu não suporto mais? Percebe que eu sei dos outros corpos, e que o amor que você diz sentir não me é suficiente? Que além de sentimentos, me fazem falta tuas mãos pelo meu corpo?

Ele entrou pela porta bêbado. Entre as luzes apagadas distinguiu seu contorno. Ela estava sentada nas escadas, o esperando, como nunca fizera antes. Talvez algo tivesse enfim a despertado do marasmo e aceitação em que vivia. Isso o excitou. Talvez essa fosse sua chance de desabafar as verdades que vinha escondendo na expectativa de que o jogo virasse. As outras eram passatempo, procurava bocas em busca do seu gosto, olhares em busca do seu prazer e corpos em busca do seu sexo.



*img Desejo - www.rafaelnobre.com

"o desejo é infinito, e a realização limitada. Vontade indica necessidade,

e o que ela pretende agarrar é sempre maior do que sua capacidade"

CarNavalha

Certamente ouviria tudo o que soubera das conversas alheias, nunca tinha experimentado a forma que trouxe à tona todas aquelas assustadoras formas. Certamente, sentiria mais completo depois de vivenciar as mãos no cabelo, o suor pelo corpo e um roteiro de improváveis caminhos que a língua traçava. Mordida e lambida. Arrepio com chupadas na nuca e uma febre difícil de controlar.

Tudo era parte de um enredo já batido, quem nunca o fez? E batia com força, quando se encontrava só. A vida não fazia tanto sentido, o sangue subia, procurou a vida em outras, a mão em objetos desconhecidos, o prazer nem sempre na boca, nem sempre em seu objeto. Morder ou olhar?

Depiladinha! Uma busca até o jorro. A intimidade se limita em cada gemido, a carne é quente e frita no colchão. É melhor parar, meu amor, se não vai inflamar! O selvagem está além da razão. 101 dias, o que é monótono agora? Escondo as chaves, sua fechadura é sempre um alívio. O que é brega dá mais prazer, encha a boca com o chulo, encha-a com o baixo, o suco. Uma refeição inteira.

É assim que se come. É assim que se fez quando aprende que o assustador é ser mais animal, menos gente. Mais parte do mundo, menos da sociedade. Meio ano de prazer. Lamba os dedos, sua boca tá suja. Qual é o seu nome, mesmo? Sai de cima e agora tira. Com tantos outros, é fácil achar um pedaço em cada corpo. O arrependimento bate quando acorda em mais uma cama estranha, sem sentido ou nexo. Mas desde quando a razão acompanha o sexo? O batuque desse samba não dorme, é eterno.