A edição da velha piada [sem-graça] de bingo: dois patinhos na lagoa. E... BINGO!
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Postado por Susi às 23:55
Na minha casa sempre apareceu tudo quanto é tipo de bicho, sempre foi meio incrível como aconteciam essas aparições. Chego a cogitar a hipótese de um código animal no qual eles identificam os bons lugares, sabe como é? Tipo as identificações de hotéis: quatro estrelas. Faça cara de coitado e ganhe comida e abrigo.
Teve uma gata que conseguiu leite e uma caixa de papelão com cobertor. Ela parecia uma colcha de retalhos, uma vira-lata cheia de cores, mas o que ela fazia mesmo era verificar a procedência da minha casa. Após dois dias ela apareceu com uma ninhada de cinco gatinhos bravos. Todos foram cuidados e todos morreram. Alguns insistiam em correr atrás das rodas dos carros (não eram muito espertos), outros sofreram pela covardia de um vizinho imbecil que os envenenou.
O motivo pelo qual esses gatinhos e a mãe não foram postos para dentro da minha casa, era que eu tinha uma outra gata, também com uma ninhada de seis filhotes. Essa era siamesa e chamava Madonna. Como uma boa gata, era arisca, tinha ótimos instintos e era linda. Nós duas fomos frutos de uma rejeição e nos encontramos nesse ponto.
Ela foi um presente para minha irmã e quando eu fiz quinze anos ganhei uma cachorra poodle, a Charlotte. Não era o que eu queria. A cachorra deve ter sentido minha rejeição e se afeiçoou a minha irmã. A Madonna ficou em segundo plano, assim como eu. Nós nos adotamos.
Teve um gato preto e branco chamado Sansão que era a coisa mais linda de se ver em um felino. Instintos aguçados, independente (ainda que sua independência estivesse em roubar comida na panela) e tinha a dose exata de arrogância que um bom gato deve ter. Eu e minha irmã o vimos na rua e trouxemos para casa com a mentira de que tínhamos tirado ele de um bueiro e que não tinha onde deixá-lo.
Teve o Tico, um cachorro que gastamos fortunas porque ele tinha problema respiratório. Era o cachorro típico, dócil, bobo e a procura de agradar seu dono. Mais uma vez eu e minha irmã que o achamos, a desculpa era que ele era maltratado pelo seu dono, mas isso era verdade.
Já tivemos aqui em casa hamsters, canários, tartarugas, cágados, papagaio, peixes, cachorros, gatos e até um camaleão que não tivemos coragem de manter , porque precisava de um lugar ideal.
Hoje são três cachorros e nenhum gato para minha infelicidade. Dois vieram da rua, o Tobias e o Leão e tem a Charlotte (a poodle que me rejeitou). Tem também os morcegos que alugam o pé de café durante a noite e os passarinhos que vem comer as frutas que meu pai coloca especialmente para eles. Em tempos modernos os animas não querem mais procurar comida e nos dias em que a minha preguiça é maior que a fome eu queria ser um deles.
Sem culpa alguma eu digo que sinto falta de quase todos os animais que já passaram pela minha vida e pouca de muita gente que passou. Porque os homens temem morrer e serem esquecidos e os animais não têm esse temor. Eles são. Somente isso.
Postado por Milla às 23:46 1 comentários
Marcadores: Milla Pupo
Espremido em mais de três, lancei-me na vontade de resolver tudo o que os meus post-its anunciavam, colados no computador. Dei tantas voltas, que até duvidariam da minha sanidade. Mas eu explico. Penso demais, minha querida.
Penso nas coisas que um dia irão virar pó, e tenho medo se as voltas que dou agora, se estenderão por mais anos. Quantos deles? Até que tudo se resolva, até que meus pés sejam livres pra tocar a terra de um jardim e todas essas preocupações estiverem tão longe dos meus pensamentos. E tão mais perto de todo o caos que aqui espero abandonar.
A vida parece a velha que me sorri com escárnio, no canto da bar, quando se mostra sozinha e infeliz, provando que o batom borrado foi uma frustração de um amor ou um destino cruel a qual escolheu. Ela me aponta. Ri. "Você vai terminar assim, queridinho".
Eu viro o copo, bebo tudo até minha garganta arder. A dor parece menos. Dez. Minutos. Ao menos. Assim me sinto vivo. O cigarro me trouxe todos os clichês em um só trago. Eu sei o que eu peço. Sentir entre minhas pernas aquilo que a distância levou. Ela.
Quando o quarto vazio me faz perceber os espaços em branco, que larguei entre a semana de provas e a ausência dos abraços, eu me atiro na cama. Grito seu nome. Sento. Levanto. Mais um trago. Mais um copo. Todas a lembranças em um olhar vago na parede. A conversa com a Chan Marshall entre os cobertores. Os post-its caem. Eu adormeço. O tempo lá fora corre. Nublado. Eu me calo. Agora em três. Pedaços.
Postado por Bruno às 23:44 0 comentários
Marcadores: Bruno
Devagar pequena garota grande, olha esses caminhos que te levam pro mesmo lugar. Tanta ambição dentro de uma jovem garota que anda por essas ruas e vai aos mesmos lugares. Se já viu tanta coisa porque ainda existe o medo? Deveria ter prendido o receio há umas duas quadras atrás? Ali na frente pode conseguir o que quer ou só mudar o rumo...
Corre garota, anda mais rápido e derruba as coisas que não te interessam das prateleiras que você esqueceu. Quebra o passado em pedacinhos minúsculos. Abre mais espaço pro futuro. Sorri, você sabe que o problema dá vida é esse pesar sem fim.
Anda menina, veja esses prédios velhos e imagina quantas pessoas escreveram a sua vida aí dentro. Imagina as mentes brilhando em histórias sem fim, contemple a solidão dos outros e aproveite a própria companhia. Lembre da música e dos livros, os dois de mãos dadas com os seus passos, amarrados no seu all star.
Senta pequena mulher, tome um café com os seus pensamentos, pergunte sobre a sua saudades, diga a eles que a sua falta era misturada e que você não conseguiu distinguir as linhas das curvas. Conte que tem olhado muito para um lado só, sua visão se fechou ao futuro retilíneo e você já não cogita mudar.
Caminhe grande esperança, longe de todas as mentiras que contou aos pensamentos, e faça com a vida o descarte dos medos...
Nessa hora alguém te encontrará sorrindo, com as brigas guardadas e a saudades esquecida.
Brilhe o dia todo como as estrelas fazem nas noites de céu limpo nessa cidade inconstante.
Postado por Suellen Santana às 23:29 0 comentários
Marcadores: Suellen
Ninguém precisaria queimar sutiãs na década de 60, indignado com as coerentes colocações de O Segundo Sexo¹, para se contextualizar no mundo em que a beleza feminina parece ser o seu único atributo relevante. O problema é mais atual do que nunca.
Ser mulher e ter opinião formada talvez só combine bem com uma loira maravilhosa de biquíni lendo uma revista qualquer, porque a perfeição e a sensualidade devem ser inerentes a ela muito mais que a inteligência ou o potencial. Tentar reorganizar a ordem destes fatores pode resultar em uma pessoa desinteressante e masculinizada.
O conhecimento é um diferencial cabível para algumas, mas a voluptuosidade é obrigatória para todas. Ser bonita é atividade para tempo integral e quantas mulheres não se rendem a isso? Ter uma estética atraente passa a ser a prioridade daquelas que esquecem que têm algum recurso no próprio intelecto.
A satisfação do homem contemporâneo, que para muitos é simplificada pelo conjunto ‘mulher bonita, cerveja e futebol’, estende essa concepção de acefalia a que todo gênero feminino ainda está subjugado. Um mero bibelô sexual completando as tardes vazias de domingo e que, muitas vezes, acata essa função de mediocridade.
Nenhuma mulher precisa estar bonita o tempo todo para os olhos de quem espera ver um mundo enfeitado. Nenhuma mulher precisa se contentar com adjetivos superficiais que remetem a sua aparência. Nenhuma mulher é só isso, e nenhuma deveria querer ser só isso.
Seios grandes são incapazes de reduzir a atividade cerebral. A feminilidade não é estética e as mulheres podem ser tão horrorosas quanto se permitirem. Mas imbecis e fúteis, não.
¹ O livro de Simone Beauvoir afirma que a desigualdade entre os sexos tem origem na construção social e não é biológica, como era alegado em meados de 1945. Foi uma das obras que impulsionaram o movimento feminista da década de 60, quase dez anos após sua publicação.
Postado por Ana às 23:23 0 comentários
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Eu olhava marcas novas no tecido cada vez mais velho. Vinte e uma marcas feitas sem precisão na única pretensão de excomungar o mal. Tudo começou no metrô, quando senti minha alma saltar de meu corpo, pegar um trem e ir para o outro lado (a propósito, ela deve ter levado minha carne também, porque eu me tornei tão inóspito e cinzento quanto São Paulo - mas não tão grande - e ninguém mais me percebe.)
Corro a minha procura, me encontro mas não me olho nos olhos. Sigo distante. Sigo pegadas nas paredes e teto. A gravidade é ignorada, ela pouco importa. Erroneamente deparo com o espectro de alguém prestes a morrer, como um espelho, e o gosto de doppelgänger¹ me arrepia os pêlos. A matéria é ignorada. Ela e eu. Eu, eu.
Todos temos nossa metade má. Eu me perdi em qual lado fica a minha, e machuco uma metade na esperança de afastar o mal. Eu não sei se a força que corta é a que exila ou a que produz a maldade. Se eu pudesse matar o mundo inteiro, eu faria. Mas estou ocupado demais tentando acabar comigo mesmo. Eu sangro o gosto da vida. Eu bebo e me engasgo.
Eu não sei em quem atirar. Eu só tenho uma bala, é hora de escolher. Em um dos lados eu acerto. Enfim, viverei uma metade em paz.
Postado por Yuri Kiddo às 21:21 1 comentários
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Sua imaginação sempre a levou onde gostaria de ir e montou as cenas em que gostaria de atuar. Interpretava a protagonista de um grande roteiro escrito em sua mente, criava lugares pelos quais rodava o mundo sem destino certo, sem futuro previsível. Fazia da vida conto-de-fadas, mas não se importava com o final feliz. O final viria depois, aproveitaria antes seu presente. A imaginação a levava até a Inglaterra, onde andava pelos campos gramados de Hampshire, com a seda de seu vestido a voar conforme o vento a alcançava; por vezes voltava no tempo e visitava a França do século XVI, se perdia em antigas ruínas enquanto ouvia sua trilha sonora previamente montada nos fones de ouvido; ou partia rumo à lugares desconhecidos: perdia-se entre cerejeiras orientais e procurava beleza em rostos de pó e carmim, vagava por vilas espanholas com o barrado do vestido vermelho a roçar o chão de areia; buscava novos olhos e outras mãos como a cigana romena; vivia e morria a cada raiar do sol.
De fantasia era feita sua realidade. Enquanto sonhava com o irreal espantava os pesadelos de sua vida. Fazia do insuportável mera obrigação, o viver era o detalhe que incomoda mas autoriza a satisfação. Em seu mundo particular criava cenários, montava diálogos e escolhia os personagens. Seu papel, a garota, era sempre o mesmo, sempre a mesma. Inocente, ingênua, fraca. Tinha a nítida impressão de que não pertencia ao mundo real. Seu romantismo exagerado era ridicularizado, nascera mulher de um século errado.
- O fardo de abrir os olhos me tortura. Nos minutos em que encaro a realidade me perco pelas vielas do real. Não sei andar pelo asfalto, desconheço o som da cidade, não respiro o mesmo ar dos que cruzam meus passos. Minha estrada é outra. Em algum ponto de minha vida fiz a escolha errada, segui pelo caminho contrário à sociedade. O escuro não me pareceu mais atraente, o desolado, o inconseqüente. Optei pelo meu vazio, meu claro vazio, este em que eu posso escrever e dar o rumo que seguirei. Pois só desse modo controlo minhas pegadas e prevejo os acontecimentos. Todos eles criados momentaneamente. Eu decido o trilhar. Nas minhas histórias posso não saber o passo a dar, mas em minha realidade, tudo o que encontrar, levará ao o meu fim. Adianto-o: aqui o tens.
Vagando pela Irlanda com os pés na areia de Dingle, enquanto o sol de inverno brilhava em seus olhos, deu seu último suspiro real. Continuaria a habitar outros mundos, não mais aquele ao qual não pertencia.
Postado por De Lancret às 15:01 1 comentários
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