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domingo, 5 de outubro de 2008

33ª Edição

Como nos dados, aqui temos seis lados, todos eles diferentes e cada número corresponde a um momento de sorte (ou não).

Contrariando as leis do Brasil que proíbem a jogatina, o Susi traz nessa edição os jogos, de azar ou não. Vale qualquer um.

Vejam como cada um associa as brincadeiras, os jogos, o passatempo com a vida.

Por passatempo, ainda em tempo, a todos os lados.
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Os seis:

Por um bom jogo

Várias pessoas que passaram pela minha vida são como as cartas de um baralho, mesmo agrupadas não valem muita coisa. No pife é preciso três trincas para ganhar o jogo, mas muitas vezes ganhar não significa que foi uma bela jogada.

Muitas pessoas que conheci foram descartadas, joguei no monte porque não tinham utilidade, outras eu troquei, só pra fingir novidade, mas não adiantou. Algumas das cartas que tenho só permanecem na mão porque não tive chance de descartar por algo melhor.

Entendam que essa comparação pode parecer fria e arrogante da minha parte, mas sou sincera e não sei ser demagoga, sinto dessa forma. No pife é obrigatório ter nove cartas, na vida não tem número estipulado, mas é de bom senso que não fique sozinho por completo. Regras da vida, regras do jogo.

Fazer um trio de cartas iguais é fácil, difícil mesmo é fazer um jogo na seqüência e ainda bater
com as dez. Isso é bonito e vale à pena. Eu estou com um bom jogo atualmente. Tenho cartas na seqüência, que se completam e quando olho para elas eu penso "Porra, se tudo der certo eu ganho esse jogo", mas na verdade eu não quero isso, se eu ganhar, a jogada termina e começa uma nova e com isso mais pessoas, mais naipes sem combinação, mais cartas incompletas.

Eu tenho cartas
inúteis, mas compensa ficar com elas do que perder a minha seqüência, porque lembra da obrigatoriedade das nove? Então eu prefiro conviver com os descartáveis a ver as minhas especiais no monte, porque a força do jogo está na união delas e não na individualidade.

A amizade, assim como o pife, é plural. Sem o conjunto são apenas um grande baralho de pessoas descartadas.

War, em um tempo de paz


Olhava a vida como aquele tabuleiro, garrafas e cinzeiros na mesa, os sorrisos em todos os rostos. Aquele papelão divido em seis regiões e a minha vida da mesma forma. Família, carreira, amigos, sonhos, realidade e amor. Contrariava todas as leis dos homens quando sonhava em silêncio e me esquecia naquela paz divida com pessoas levemente conhecidas. Sempre precisei do inevitável se apresentando aos meus olhos infantis. Minha malícia é piada e minha arma principal é o sorriso.

Cada uma das regiões guiadas pelo número de exercítos, de pessoas, de povos, de amigos, cada parte da minha vida é preenchida exatamente como naquele tabuleiro. Cada um tem a função principal de ser um.

Minha família era a parte turbulenta e a minha região de paz. O sorriso da minha irmã. As diferenças com minha mãe. O jeito calmo do meu pai. Demais para serem poucas palavras.

A carreira sempre ocupou um espaço enorme dos sonhos, ali eles também estavam um ao lado do outro. Diante deles o amor. Esse mesmo amor que sinto por todas as pessoas e histórias, pela coragem e pela vida, o amor sem preconceitos, pela liberdade e pela diferença, por tudo que é igual em um ponto só. Por tudo que é diferente em vários outros. Por todos os caminhos. O amor que me faz andar ou parar.

A realidade esteve o tempo inteiro por perto, era tudo um bloco só. Amor, sonho, amizade, trabalho, carreira e a realidade. Porque eu amo tudo que vejo como real mesmo que pincelado de sonhos. E o resto eu só suporto porque é real demais para ser ilusão. Como o abraço sincero de um amigo.

Os amigos dominavam o tabuleiro inteiro. Representavam os continentes e me mantinham diante dos outros lados. Guardavamos tudo em sorrisos. Era a nossa maior arma de guerra. Meus amigos são aqueles que sabem rir de si mesmo, homens ou mulheres que sabem o valor de ser autêntico. São aqueles livres de todos os preconceitos. São os que me fazem sorrir. Os que me dão noites intensas ou calmas. Amizade é o lugar que escolhi para estar. Sempre.

O jogo não acabou. O tabuleiro foi virado pelo vento ou por algum estabanado. Sorrimos por fim. Era tudo isso. Como em uma guerra, só procurávamos a paz.

Sedução

Com as peças em seus devidos lugares, inicio a primeira ação. A situação já foi analisada e revista, a estratégia não é simples, porém o resultado vale os obstáculos a se percorrer. As brancas começam, a rainha está a postos e o meu objetivo: o rei.

De passo em passo me aproximo. As táticas deixam tudo muito óbvio logo de início. Uso todas minhas armas para te fazer crer que, nessa partida, eu sou vencedora. Você não se faz de díficil. De peça em peça me aproximo.

Sem o dominío do tabuleiro, você se sente encurralado. Pare de fingir que tem alguma chance! Eu sei que você quer que eu ganhe. Os obstáculos não me detêm. Dê mais sentido às construções, derrube teus muros que eu tomo tua torre.

O pragmatismo é decifrável, fuja do simples. Suas crenças se desfazem enquanto você se movimenta. Não tente recuar, um peão não tem esse direito. Tome seu lugar neste tabuleiro. Só será rei quanto eu te nomear. No meu jogo é a rainha quem controla, deixe-se levar.

Não ande em círculos, meu querido, posicione-se corretamente, não se perca na jogada. Você sabe das minhas intenções, liberte seus instintos. Estou chegando ao ponto, talvez seja sua hora de me capturar.

São três opções: fuja e mova-se para o jogo de outrem, invente a segunda peça e me faça parar, ou me capture antes que seja tarde demais. Joguei as rédeas em tuas mãos, qual será a decisão?

Xeque-mate.

Desde o inicio você já era meu.







Pif -Paf


Começava a partida com os cotovelos cravados na mesa e um olhar desafiante que não impunha medo a ninguém. A cada carta que recebia, tentava passar convicção de que tinha o jogo ganho na arrogância do sorriso pendurado ao lado esquerdo da boca.

Ele renovava a petulância sempre que notava uma jogada inferior a sua, bem diante das suas mãos, e isso já era suficiente para os comentários audaciosos e a exibição daqueles dentes amarelos. Para movimentar umas poucas cartas, fazia uma encenação interminável e o jogo acabava nele para recomeçar exausto com o próximo jogador.

Os demais na mesa se afogavam em repulsa dentro de um copo amarelado enquanto o imbecil representava. Desejavam ganhar ou perder, desde que a criatura não tivesse a oportunidade de comemorar sua vitória, e torciam por qualquer outro rival, indiferentemente.

No decorrer da partida, ficou evidente o fracasso geral dos insatisfeitos e tornava-se iminente o momento sacal do discurso vencedor. Antes dele, uma cadeira foi ao chão.

Com o corpo estendido, o otário recebia de peito aberto os copos cheios e as cinzas de cigarro, que estavam na mesa e agora caíam sobre ele. Pessoas contentes, pela primeira vez desde o início do jogo, sorriam e chutavam o estorvo. Cantavam e dançavam em homenagem ao bom espírito das competições.



*Imagem: Arthur Rackham - Public Domain

Guerra de Plástico

- Corram! - Ouviu-se gritar de algum lugar do tabuleiro até que a voz fosse tomada por motores de aviões e metralhadoras. BOOM! Pronto, a explosão se fez destruindo um exército inteiro. Assim, fácil fácil assim. - Troca dez pequenos por um soldado grande aí vai. - Não deu tempo. Nem sempre é justo - três contra um em Vladvostok.

Tudo gira em torno de sorte e muita estratégia. Os campos tomados por Morte definem e peneiram os mais fortes. As cores se desfazem à medida que o cansaço impera com o tempo, a ferida dessa batalha chama sono, que falha a atenção e cava a cova pra enterrar-se nas cobertas. O jogo da Guerra não tem dó, e os dedos dos jogadores impiedosos estão carregados com os Dados prontos para atirar. - FOGO!

Exilados vão sem Destino de um lado para o outro com algumas cartas na mão, mas o objetivo se torna obsoleto. Alguns pedaços do mundo que nada mais significam quando se está desesperado e tomado pela esterilidade. Os Zumbis rodeiam a mesa apenas pelo instinto de sobrevivência, ninguém quer ser o primeiro! Mantém os poucos soldados e um copo de Coca-Cola quente e tão no final quanto suas alternativas esperando alguém vacilar e, quem sabe, o jogo não vira? Há fé, e por que não? Já que os Dados são Deuses de mão em mão, e o copo pode voltar a se encher.

Conquistar territórios. É disso que se trata o objetivo. Dados que definem quem vai, quem fica. Ninguém morre em peças de plástico, aqui a Morte não dói no coração de ninguém nem deixa rastros. Mas todos deitam fracassados montando uma pilha inodora enquanto o vencedor escala o topo.

Se a diversão chama "Guerra", divirtam-se.