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domingo, 5 de outubro de 2008

Pif -Paf


Começava a partida com os cotovelos cravados na mesa e um olhar desafiante que não impunha medo a ninguém. A cada carta que recebia, tentava passar convicção de que tinha o jogo ganho na arrogância do sorriso pendurado ao lado esquerdo da boca.

Ele renovava a petulância sempre que notava uma jogada inferior a sua, bem diante das suas mãos, e isso já era suficiente para os comentários audaciosos e a exibição daqueles dentes amarelos. Para movimentar umas poucas cartas, fazia uma encenação interminável e o jogo acabava nele para recomeçar exausto com o próximo jogador.

Os demais na mesa se afogavam em repulsa dentro de um copo amarelado enquanto o imbecil representava. Desejavam ganhar ou perder, desde que a criatura não tivesse a oportunidade de comemorar sua vitória, e torciam por qualquer outro rival, indiferentemente.

No decorrer da partida, ficou evidente o fracasso geral dos insatisfeitos e tornava-se iminente o momento sacal do discurso vencedor. Antes dele, uma cadeira foi ao chão.

Com o corpo estendido, o otário recebia de peito aberto os copos cheios e as cinzas de cigarro, que estavam na mesa e agora caíam sobre ele. Pessoas contentes, pela primeira vez desde o início do jogo, sorriam e chutavam o estorvo. Cantavam e dançavam em homenagem ao bom espírito das competições.



*Imagem: Arthur Rackham - Public Domain

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