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quinta-feira, 22 de novembro de 2007



Preço: $12
Com nome na lista: $8

E-mails para lista: contatojukejoint@gmail.com
com o nome inteiro, RG e digam que vão pelo susi.

Lançamento dos nossos primeiros passos impressos!

segunda-feira, 19 de novembro de 2007



Susi já é quase uma mocinha. Seu corpo e voz estão mudando!
O layout está diferente e temos um novo timbre. Agora somos seis.

O Yuri dará o novo tom no Susi, seus textos melancólicos e surreais completarão a diversidade oferecida por aqui.

As postagens também mudarão. Seremos semanais, mas publicados de três em três. Explico: dois grupos de três escritores que se intercalarão a cada domingo, compreendido?!

Durante as próximas postagens traremos mais novidades, prepare-se e aguarde ansiosamente!

Nessa edição inaugural damos seis textos de presente a Susi, esperando cativar os convidados dessa festa.


Então mexa-se, dance, e aproveite para ler uns textinhos por aqui!

Sobre cantos

Os cantos caracterizam. Mais do que a altura, o comprimento, a espessura, a textura, o material, a cor ou o odor, os cantos delimitam um tempo: A embalagem ganha seu fim em cada contorno: ali ela acaba para recomeçar mais adiante; A frase tem sua pausa a cada pontuação, que em seu formato já representa uma linearidade interrompida; Pessoas têm suas diversas curvas estabelecidas pelo que pensam, sentem ou fazem em diferentes momentos de suas vidas.

Não mero ponto convergente que também diverge, o canto sintetiza todo o processo de transição considerado desinteressante. O miolo do pão francês, por melhor que seja, nada seria se não existisse a superfície torrada. É ela que caracteriza a receita; o miolo é uma conseqüência. Até mesmo porque se não houvesse os cantos da superfície a serem tostados, o miolo é que seria e, nesse caso, perderia suas atribuições.

Mas ninguém se importa com a história da preparação do pão comprado, todos identificam o detalhe mais relevante na estética dos cantos dele. Assim também acontece na escolha de frutas em uma feira ou na compra de um carro usado. É como se eles narrassem o trajeto de determinado material apenas denunciando uma possível deformação.


Hoje em dia atenuam-se os cantos das pessoas. Na intenção de omitir o tempo que os formou, simplesmente são tirados de seu devido lugar de maneira indigna. Eles representam um certo período que não pode ser anulado e nem o seria se fosse uma questão de textura. Mas o fato é que cantos são mais maleáveis do que qualquer outra característica. Aliás, é perceptível até um certo desrespeito com alguns que pareciam imutáveis, como o da melancia que acatou a inovação de ter só quatro em lugar de seus inúmeros naquele tradicional formato esférico. Enfim, delírio cubista dos chineses.

Não sei exatamente até quando é aceitável a tolerância com a alteração dos cantos já acomodados. Percebo que isso pode desencadear uma reação incontrolável de mudanças conceituais, afinal, mal conseguimos estabelecer alguma definição sobre os cantos e agora já se pensa em generalizá-los.
Evito a homogeneização que se dá pelos arredondamentos insistindo em permanecer nestas quinas avessas.

Happy Mess

É uma bagunça. Quando tenho um pensamento não encontro a caneta e quando a tenho ele já foi embora. Assim como meu quarto que não acho nada, mas ao menos não me perco dentro dele. Na verdade é lugar que me acho e sei quem sou. No meio da cama, na porta do armário, nos livros, cd´s e papéis. Eu completo o ambiente, não sou invasora, sou peça essencial, sem eu, ele não precisa existir.

Os invasores são os que não me deixam dormir e que me convencem que a escrita é sua única forma de existir. Todos têm direito a vida, certo? Os torturadores, sádicos, apaixonados, dramáticos, frios, pessimistas, alegres, imbecis, falsos e até eles, meus pensamentos.

E eu estou bem no meio desse caos e de ter com quem me dividir, estou feliz como nunca dentro desse furacão. Agora eu recorto os momentos, alguns eu guardo comigo, outros reciclo para aprender algo, e muitos, jogo no lixo. Não tenho mais apreço em manter o que está velho e caquético.

Eu recorto certo e colo errado, tento arrumar e pioro. É isso mesmo, sou assim, uma tentativa atrás de outra. Coleciono muito mais fracassos e sei que ainda terei outros. Mas no momento eu estou bem. Tão simples quanto admitir que sou loser é saber que posso ser o oposto a qualquer momento também.

Sou uma Dorothy que olha com felicidade seu cachorro e sua casa voando, porque sabe que mais cedo ou mais tarde tudo volta pro chão.

Na incoerência eu consigo ver sentido e minhas palavras tortas parecem certas.
O que tenho de falso serve pra justificar o verdadeiro, os defeitos existem pra lembrar que tenho qualidades, minhas lágrimas caem pra depois me fazer rir, meu riso descontrolado para me mostrar que sou capaz de controlar minha vida, meu pessimismo para ter ciência que nem sempre posso ser feliz e minha felicidade incoerente para provar que nem tudo deve fazer sentido para ser bom.

Lacrado

04:23. As coisas são sempre assim. Basta ouvir aquela música que combina com tudo o que eu sou agora, às 04:23, pra desembestar a ansiedade que circula por todas as partes desse amontoado de carne e osso que eu virei na madrugada.

Abro tudo o que esse amigo de placas e sistemas me permite pra socializar com os amigos que a vida trouxe, virtualmente ou não. O "sempre" sempre volta, ninguém compartilha a insônia comigo. Acordar alheios seria trabalhoso demais, confesso que agarraria qualquer adicionado em alguma dessas tecnologias. Inúteis no momento, diga-se de passagem. Me refiro às tecnologias, digo para esclarecer.

Aqui tá tudo muito pequeno. A janela é passagem ilusória em que eu tenho vontade de me atirar e engolir tudo lá fora. Mas não. Surrealismo na hora errada. Hábito adotado momentâneamente pelo nervosismo da busca por palavras sólidas que reconstruam o solo perdido. Ou seja, dor na ponta dos dedos, unhas roídas. Patético.

O tremor dos olhos investigam cada canto do cômodo. Muito barulho. Os ouvidos quase pedem arrego a tanta subversão de sons. Bebo tudo o que tenho, pena não ter o que preciso pra suprir a inquietação. Os ícones piscam, parecem ser a única coisa "viva" a me fazer companhia. Queria um quarto selado.

O estalo ajuda a pungente dor na nuca trazer alívio. Efêmero. A postura é sempre citada nas conversas. Bendita. O sono desregrado também é tópico preferido. Desprezível. O vento invasor causa arrepio na espinha. Apreensão. O som alto acarreta na perda de audição. O quê?! Ganha-se a timidez.

Conforme a síndrome autoritária dos ponteiros revive o paradoxo do tudo mais distante e próximo, o arquejo dura mais que o esperado e a persistência em dividir o momento com alguém morre aos poucos, dentes escolhem outro alvo. Possuo uma compilação de tampas de caneta. Olhar ao céu. Agora mais claro. Saudade mais ampla que toda essa extensão.

Engasgo. Desistir é opção válida. O botão que tudo apaga cumpre sua função e o grito aqui perde a força. Já deitado, eu só espero me livrar de todo o barulho insistente. Muito barulho. Mesmo sabendo que dentro do quarto, nem mesmo um sussurro tenha se pronunciado.

'Ficção é a realidade melhorada'

Se eu adiar todas as oportunidades, pode ser que um dia daqui muito tempo, ele se recolha ao pé da minha cama e então, arrependida, o diga tudo que sempre quis. Todas as coisas que ele gostaria de ouvir e eu ficaria extremamente aliviada em dizer. Os dentes que ele gostava de ver e desde então eles remetem desespero. Os meus olhos de paz, guiados por ilusão. O sentido todo vazio. O medo entravando cada pedaço do que eu chamei um dia de coragem.

As nêgas cantando coisas tristes no som do meu quarto mórbido. Como elas fazem agora, no meu quarto colorido. Do lado da estante com meus livros. Na frente de um dos caras que me prova a cada nova linha que amar é impossível de definição. Porque ele falou dos sentimentos ruins e neles eu vejo todas as coisas boas do mundo. O gosto dos outros. Algumas pessoas que falam, falam o tempo todo, e eu continuo acreditando no meu fone de ouvido e nos livros. Eu continuo acreditando no que comprei para ontem.

Você levou tudo quando carregou o meu coração. Debaixo do seu braço descansei minhas mentiras. Encostada no seu peito compreendi as palavras do mundo. Dentro dos seus olhos conheci a paz. Mas, tudo isso foi muito pouco para manter a vida nos trilhos. A minha calma no lugar. E o mundo parado. Tudo é sempre pouco quando a gente precisa manter o mundo parado.

Dentro da praça Roosevelt ou na Augusta, os meus fantasmas se congelam, algumas pessoas congelam as minhas expectativas e eu aceito tudo que tem para hoje. É o preço do meu amanhã e eu vejo em olhos sinceros que eu sou sujeito da minha história. O resto é objeto intransitivo, não dá pra manipular a vida e nem transformar ninguém em personagem. Tem coisas que vivem melhor em palavras e são nelas que fica minha falta. São em palavras que penso enquanto deixo as oportunidades esmurrarem a janela e continuo com o livro do cara na minha frente, dois dvds de filme bom me esperando, o celular desligado no sábado à noite e as músicas tristes como são as mais belas.

É quase tudo verdade, o resto, faz parte da página 853 de um livro sem fim.

Hella

É engraçado como não guardo tantas lembranças da última viagem. Talvez por ter sido a mais longa, o cansaço me obrigou a esvaziar a cabeça. Mesmo assim foi a mais representativa, sonho de consumo, sabe?

Quando criança sempre fui apaixonada por mitologia grega. Interpretava personagens no teatro, escrevia peças para a escola, lia e relia a Ilíada e a Odisséia constantemente. Para qualquer um que perguntasse, respondia que meu livro preferido era “O Livro de Ouro da Mitologia”, adorava. A Grécia me encantava, e foi assim, encantada, que realizei meu sonho nº1: Atenas.

Minha memória falha quando tento relembrar o percurso inteiro. Mas eu lembro que tinha sol, que eu pude usar blusinhas de manga curta, que eu estava gorda, e que a Acrópolis é maravilhosa! Montes de templos e ruínas, pedras brancas, vistas fantásticas, tudo é mágico. Pra curtir o momento, enquanto estava no mirante, deitei no parapeito e tomei minha primeira apitada, que seria seguida de muitas outras. Tudo lá era proibido. Piiiii, não pode deitar no murinho. Piiiiii, não pode tocar na parede do templo. Piiiiii, não pode tirar foto atrás da estátua sem cabeça colocando sua cabeça no lugar. Ah, droga!

A não ser os guardas chatos, os gregos são gente boníssima. Tão calorosos e animados e falantes e brasileiros. A língua é uma piada a parte, é de se fazer rir saber que alguém entende aquele treco. Aliás, aprendi algumas poucas coisas interessantes, do tipo: Hella em grego significa Atenas, mas é também oi. Isso, oi! É um tal de Hella pra cá, Hella pra lá, e eu respondia sempre sorrindo: Hella! Repita você também, soa tão feliz!

Durante os dias quentes, os gregos sentam em mesinhas bonitas colocadas na rua em frente a Cafés e tomam um negócio parecido com frapê de Café, sabe, daquele com bastante chantilli num copo alto e chique? É isso, bem gostoso e bonito.

Lá também tem praia, e eu fui. Não é nenhuma maravilha, tem pedras ao invés de areia, mas a água é salgada, e eu pude molhar meus pés cheios de bolhas. Fui também ao estádio olímpico construído pra as Olimpíadas de 2004, que agora parece uma cidade mal-assombrada. Imagine um lugar lindo, cheio de azulejos e murais de pedras lindos, e sem uma alma viva. Agora imagine o que aproveitei pra fazer ali. Isso, eu tirei mil fotos imitando estátuas gregas, e sem levar apitadas desta vez!

Peguei o Ferry e fui para Ägina, uma ilha grega cheia de casinhas brancas parecida com Mykonos, que, depois fiquei sabendo, devido ao sucesso da novela global, todo mundo conhecia. Lá visitei outros templos, do outro lado da ilha. Perdi o ônibus na volta e fui obrigada a voltar andando para o lado certo da ilha. Já não gostava mais de sol e calor, principalmente quando tirei o óculos de sol e me vi usando uma máscara da tiazinha, diabos.

Em meu último dia de Atenas comprei um doce grego que marcou minha viagem. Era um daqueles doces cheios de melado e açúcar, e eu consegui me sujar tanto comendo aquilo, que minha bolsa e blusa foram para o lixo. Não tinha como desgrudar aquela meleca de mim. Pois é, que doce marcante.

De lá ainda seguiria para Roma, Florença e Veneza. Foi uma longa viagem, cheia de detalhes que eu não consigo me lembrar direito. Que Mnemósine me ajude da próxima vez!

Susi não anda mais sozinha, ...

"A Susi não quer mais rezar
botou piercing, roupa preta e all star
ela só quer, só pensa em namorar
que nada
quer fuder, beber e fumar

Nana neném que a Susi vai pegar
boneca com defeito de fabricação
ela vai brincar contigo ela vai te controlar
te jogar na caixa de brinquedo e roubar teu lugar." ¹

Foi numa conversa despretenciosa que a conheci. E assim fui levando. Desencanados, conversávamos sobre o mundo, suas viagens por ele; seus amores perdidos. Ora tão simples e romântica, ora me engana com palavras difíceis. Sua descrença me simpatiza mais, e sua depressão me deprime.

Viciante, nos encontrávamos num intervalo de pouco mais de uma semana. Que demora. Mas não tínhamos tempo pra antes. Foi numa conversa despretenciosa que a conheci. Era ela quem sempre falava mais. Seu papo às vezes me cansava. Mas ela se refazia a cada instante e retomava minha atenção. Outras vezes, o silêncio em que parava pra pensar doía. Nunca chegamos a nos abraçar.

Seu comportamento dislexo, porém organizado, é algo intrigante. Ela nunca admitiu, mas tenho certeza de que também segue a Bíblia dos Dados, e se joga no acaso. Ela é colorida. Seis faces. Seis lados incoincidentes que se encontram em pontos comuns. Talvez seja esse seu segredo, sua essência sedutora. Talvez seja esse o motivo da minha insistência. Minhas visitas religiosamente programadas. Mesmo que nunca tenha me dirigido diretamente as palavras, ou me tocado. Mesmo que nunca me tenha tido em seus olhos.





... Pois nos têm ao seu lado.

¹. Trecho da música Susi, da banda Medulla.