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quinta-feira, 13 de setembro de 2007



É a sétima edição. Enquanto discutíamos fervorosamente e eu distribuía urras de ira na sala, me contaram que sete é o número da perfeição. Eu fico feliz só por ser um número ímpar. Chocolate e números ímpares são amigos. Ao contrário do que umas pessoas afirmam em press release. Né, Bruno?!

Se sete é o número da perfeição e essa a edição sete. Espero que nós jamais a atinjamos. Perfeição é um pé no saco. Perfeição e algumas coisas e[!] situações são um pé no saco. As provas começaram, meu povo. O que, trocados por miúdos, quer dizer que daqui até um futuro próximo poderemos atrasar e convidar as pessoas para participar do zine na última hora. Inclusive adiantando: já é no próximo número a participação especial.

Felizes desaniversárioses a [quase] todos vocês.
E parabéns a mais 10 dias para nós.

Divirtam-se tanto quanto a gente se diverte fazendo, pensando, escrevendo, se irritando com o boboblog.

E, a gente se vê no número par.

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E eu pensado no que eu vou ser daqui um tempo, como se não fosse nada, esperando o momento em que minha vida deixe de ser um milho e num estouro vira pipoca e muda tudo.

Ahhh agora sim a minha vida de verdade começa, até agora não passou de um pré-aquecimento, certo?

Soa uma alta buzina “bééééééénnnnn” resposta errada!

A vida não é aula de aeróbica e o alongamento só retarda o processo.

Anyway isso só colabora para uma crise, que de tão forte, eu acredito que a da Bolsa de Nova York foi coisa boba perto da minha.

Quem me conhece e convive comigo sabe que estou sempre oscilando entre o bem o e mal que existe em mim, sempre quero matar alguém e apertar um bichinho. Dependendo do dia me amo e creio em Deus e em outros não acredito em mim e muito menos nele.

Eu tenho ataques de riso e logo choro, penso certo e faço errado, quero ser simpática e sou uma ogra, sou normal por assim dizer, certo?Que não me venham com a maldita buzina!

Hoje em especial eu estou esquisita, mas não da forma corriqueira que já me acostumei acho que é algo pior.

Neste exato momento que meus dedos estão batendo nas teclinhas encardidas do teclado e que as letras vão aparecendo na folha branca do Word, eu estou ficando assombrada em como estou conseguindo escrever um parágrafo, relativamente grande, sem dizer absolutamente nada, me digam agora se isso não é estranho?

Eu tinha um amigo, que agora não mora mais no Brasil, ele ficou chique e foi pra Inglaterra, mas enfim vou transcrever o nosso diálogo.

Amigo da Milla:- E aí?Beleza?

Milla:- Beleza e você?

Amigo da Milla:- Ah sei lá...

Milla:-O que houve?

Amigo da Milla:- Uns amigos meus vieram me dizer que eu não sou normal, porque mudo de assunto muito rápido, que nada do que falo tem coerência,acredita?

Milla:- Nossa que chato, mas relaxa, bobeira isso.

Amigo da Milla:- Caramba acredita que o pneu da minha bicicleta furou quando estava indo embora ontem?

Milla:- ........

Meu texto está tão incoerente e disléxico quanto esse meu amigo e por isso vou encerrar ele por aqui já que não posso mandar ele para Inglaterra.

Na distância do quintal

Por alguma razão, até hoje não desvendada, ele sentia a necessidade de viver dias de frio com música dramática em tardes nubladas. Não que fosse porta aberta em direção ao cômodo da tristeza. Mas talvez dançar sobre seus erros, invés de jogá-los na mesa, trouxesse a saída de forma mais clara e confortante.

Inventava então de abrir a janela e observar as cabeças que passavam por luzes fixas dos postes de mercúrio. Se acomodava embaixo do cobertor xadrez que tanto esperou pra ser retirado do armário. E quando muito se sentia entediado, pensava no vazio que todo o quarto parecia ter arrumado para inserir a idéia de que hoje ele não conseguia nem preencher um cômodo.

Foi pelo movimento da vida lá fora que percebeu do que o coração reclamava. Não era o tempo gasto em horas vagas. Não era dia sem trabalho ou choro preso. A saudade era exposta onde a felicidade fora escondida. Atrás do tempo e da superficialidade que o bafo quente do suspiro tomou forma e dissipou-se no ar gélido.

Se não fosse tudo, seria o que pesava. As idas e vindas, o tênis gasto em ruas disformes. O suor, a calma, o barulho e o trânsito pesavam. Ainda se fosse peso leve, desses em que carregar não acarreta o doer, tudo bem. E no fim até mesmo fosse. Mas não mais tudo bem. Seria agora por acumular o cansaço.

Pensou nas tantas viagens que fizera e lembrou do resultado dos anos que as horas trouxeram. Horas, nunca o bastante e agora o tanto. E por mais sentido que fizesse, a dor teria nome. "Sofre de saudade", lembraria tia Ana. Mas não era de tia. Não era de parente nem de nome. Tinha textura e som gostoso; era cheiro de bolo no forno, joelhos ralados, tardes alaranjadas, castelo de areia e risos mal contidos.

Por não saber conceber a situação, o olhar envergonhado de si mesmo percorreu todo o quarto. Lugar agora cheio de muitas palavras, números e pouca cor. Talvez atrás das portas de madeira-imbuia a memória trouxesse a maneira de matar o peso. Num conjunto de movimentos quase esquecidos, ele abriu a caixa com estampa de retalhos que nunca havia migrado de lugar desde que fora trocado o móvel.

As mãos trêmulas denunciavam o balanço do coração. Cada parte de uma história passada e cada resto de tempo rabiscado em papéis e objetos simples de significados complexos. Tudo ali. Ou quase tudo. Foi com grande apreço que alcançou uma concha de velhas horas. Fez tudo como era, fez como fez da primeira vez.

E o som do mar era realmente compensador. Poderia ter tudo ao redor trazendo o caos, os dias sem cor, a cidade claustrofóbica e o assombro por saber que o tempo também trará o fim. Mas a nostalgia detalhada por um momento de alegria, dissolvia todas as opções onde a esperança não reina. Mesmo que pudesse fingir a vida de forma bem vivida, não se importou em lembrar se fora o sábado ou a feira.

Contentou-se em saber que era esperança
trazendo o calor das tardes alaranjadas. O coração de vermelho quente e as pálpebras reconfortando as tristezas passadas. Urgência de refúgio pra eternidade. Atenção às formas de manter o plural de felicidade em moldes de pequenas coisas. Leveza no ar do abismo.

Due to lack of interest tomorrow is cancelled


E aquela maldita inércia preenchendo cada palavra sua. Eu te olhava e via um cara sendo empurrado pela vida. Cada dia, dos quais você reclamava e vivia dizendo que nada acontecia, sendo empurrados. Porque você era acomodado demais para mudar. Não tinha cor nos seus olhos. Você queria ser como o Bukowski. Você queria ser um deles. Só que você não é um deles. Não é agora e não vai ser tão cedo. Garoto, ser velho não é tarefa simples.

E eu ali rindo por dentro. Eu e o meu copo tendo papos agradáveis. Eu podia joga-lo na parede e tirar as coisas do rumo. Podia me jogar de um abismo. Podia ser livre, mas estava ali presa a sua inércia.

Tudo que você falava era no futuro. Como se você não soubesse conjugar as frases no presente. Projeções e palavras. Palavras. Palavras. Garoto, você é um monte delas querendo fazer sentido. Eu não acredito em quem quer fazer sentido. Eu acredito no descontrole. No feeling. Nos gritos. Para me ter em silêncio tem que conquistar e você não tinha esse direito. As suas monossílabas me incomodavam. A sua inércia. O seu perfeito sorriso. Os seus cabelos e tudo que eu queria naquele momento, vinham com a sua insuportável mania de querer atingir a perfeição.

Vem comigo. Larga a mão dessas suas certezas. Esquece os seus sonhos. Sai do seu rumo e vem comigo. Vamos mudar o ritmo das coisas. Mudar o sentido. Tirar tudo que te prende aí dentro dessa inércia. Aquela luz que você acredita estar no fim do túnel pode estar dentro da minha bolsa, garoto.

Mas, não. Você e a sua inércia. Você preferiu caminhar lado a lado com seus fantasmas bêbados. Com seus malditos mortos. Com seus planos para o amanhã. Preferiu continuar onde você sempre esteve. Sozinho. E eu vou sozinha até um pouco mais a frente. Por menos tempo do que você. Sozinha porque assim é melhor, se não posso te ter. Vou esperar você crescer, garoto. Por enquanto te espero na porta daquele bar. Mais umas garrafas e a tentativa de te arrancar daí de dentro.

Esquece. Não vou ficar na frente daquele bar. Vou subir a Augusta em silêncio. Aproveitar da minha companhia. Fugir do seu precipício. Fugir de você e das suas manias irritantes. Dos seus amigos irritantes. Dos seus olhos e das suas palavras irritantes. De você, garoto. Eu queria fugir de você. E esse é um estranho jeito de dizer: eu te amo.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Penúltima cena

E derrepente ele a estava beijando. E dentre tantas opções de adjetivos, a única em que ela pensou foi assustador. Só conseguia lembrar de quando tinham 14 anos e sentavam juntos na calçada esperando a primeira estrela piscar no céu.

- posso ir embora?
- não.
- e agora?
- ainda não. Olha, olha, olha, ali. Faz um pedido.
- pronto, posso ir agora?

Foi com ele que passou sua infância e, quando a adolescência chegou, ele se transformou em seu maior ouvinte. Ela tinha contado sobre seu primeiro beijo, sua primeira vez, sobre todos seus namorados, e inclusive sobre seu atual, com quem fazia planos de casar. Tinha 24, estava formada e o amava, foi o que ela disse quando ele discordou de seu futuro.

Mas durante as frações de segundo daquele beijo percebeu que por mais que tentasse lutar contra suas vontades, não conseguiria vencê-las. Parecia que a vida toda tivesse esperado por esse tanto de alegria que fizesse seu coração transbordar. Ela tentou, mas nada preenchia esse espaço.

- Por que você fez isso?!
- ...
- Me diz, por quê?! Por que agora?!

Ela se virou, e encostou a cabeça na parede. Enquanto ele se desesperava com a falta de palavras, ouviu-a rir. Era como se doesse tanto que chorar não fosse possível, ela ria. E continuou:

- Você não percebe?! Acabou de arrancar toda minha segurança e destruir meus planos. Por que agora?
- Eu tentei pensar em todas as maneiras de te dizer isso. Essa foi a única em que não precisava usar palavras e estragar tudo. Me desculpa, mas é você. É tarde, mas é você.

Segurou seu rosto, tentando fazê-la olhar, ou talvez ver seus olhos para entender o que ela sentia. Mas não era alegria. Ela chorava, e foi com a voz falhando que disse:

- Eu esperava estrelas piscar querendo ouvir isso. Eu fingia não vê-las enquanto o tinha comigo. Você me fez desperdiçar anos partindo meu coração e aprendendo lições inúteis sobre como não amar. Enquanto te procurava em outros caras precisei aprender a não tê-lo. E agora... agora!

Não conseguia completar a frase. A agonia de lembrar do passado, quando pensava em seu futuro sem ele presente, continuava sendo assustadora. Mas agora existia uma chance. Agora poderia ser diferente. Talvez agora.

- Eu só queria que uma estrela piscasse...

Não era preciso dizer duas vezes, esse foi sempre o sinal, ele se virou para ir embora.

- ... pra que eu pudesse desejar um segundo beijo. Acaba com minha agonia.

Um beijo.

Respeitável público

Uma curta viagem e a disforme variedade comercial que só o transporte público poderia oferecer: canetas, chaveiros, pilhas, amendoins, salgadinhos, chicletes, balas, água, refrigerante, cerveja, esfomeados e religiosos. Tudo à venda. Como se fosse a 25 de Março com uma pitada de Praça da Sé sobre trilhos.

Ao fechar das portas iniciava-se a corrida publicitária dos criativos vendedores ambulantes que disputavam a atenção dos passageiros com os pedintes de discursos nem tão originais, mas comoventes. Uma senhora sentada ao meu lado expressou a indecisão sobre o que faria com sua moeda de um real. Poderia dá-la a uma mãe solteira de três crianças pequenas (das quais duas a acompanhavam) e cujo pai havia morrido há dois meses, vítima de bala perdida, ou então, poderia comprar a garrafa de água do carismático rapaz que prometia para todas solteiras que a bebessem uma pele incrível e um noivo em prazo quase imediato. Convencida de que o noivo poderia esperar, a senhora decidiu contribuir com a escassa renda da mãe solteira. Naquele calor insuportável que fazia até eu me senti impulsionada a comprar a tal agüinha milagrosa, mas o lucro do negociante com certeza não era decorrente da temperatura.

As crianças se esbaldavam com salgadinhos fedorentos e balas molengas para depois correrem pelo vagão, segurando-se nas pernas mais próximas quando necessário. Seus pais provavelmente dormiam ou se entretinham com algum discurso vendável e não davam por conta do sumiço dos pequenos. Uns poucos tentavam se concentrar em outras atividades independentes das atrações ferroviárias até serem diretamente abordados por alguma delas, o que não demorava uma página de jornal, nem uma música inteira.

Certamente o espetáculo que mais cativa o público nesses trajetos é o dos religiosos. Muitíssimo bem elaborado para seu curto tempo de exposição, ele conta com todos os recursos possíveis para chamar atenção do receptor, introduzi-lo inteiramente no assunto a ponto de emocionar com tamanha assimilação e, tão logo, persuadi-lo. Sim, Jesus ama a ti e tu precisas dele (refrão 15x).

Primeiramente há o momento da densa pregação, em que as pessoas são apresentadas como meras pecadoras, inadmissíveis no reino dos céus. Conquistado o sentimento generalizado de culpa, o enviado aponta a solução. Bem simples, pois, uma vez que o Senhor tenha um bom coração, o perdão é sempre alcançável para os que realmente querem se redimir. A desgraça é sentenciada somente para os que não querem, afinal é aqui que entra a música de louvor.

O trem em coro estava contagiado pela canção que selava a libertação de suas almas; a luz do sol de fim de tarde que adentrava pelas janelas, agora com mais intensidade, não estava ali sem razão; a paisagem mais verde que se distanciava da cidade perversa também colaborava com a ocasião sagrada. Ela havia sido sabiamente planejada do começo ao fim e ainda se favorecia por fatores determinantes como um cenário. Sensacional!

Só senti falta dos fogos de artifícios, mas ao fim do processo todos bateram palmas satisfeitos. Já poderiam seguir seus caminhos em paz agora que estavam revigorados pelo evento de salvação, em cartaz nos principais trens de São Paulo.