-->

segunda-feira, 12 de novembro de 2007


Enquanto a 13º não chega, aproveite a 12º, curta o presente esperando por um futuro cheio de novidades.

Ria, chore, goste, desgoste. Leia.

E mesmo não sendo nem 1/10 tão bons quanto quem lemos, fica a tentativa.

=)

Nome pulsante

O ruído robótico contagiava causando euforia e descontrole dos inúmeros movimentos que o seguiam, incessantemente. As percepções da multidão variavam de acordo com a batida, mas não destoavam daquilo em que eram focados os demais sentidos; elas apenas palpitavam.

A dança expressava a satisfação propiciada pelo som como forma de recompensa a ele. O ambiente se completava com qualquer um dos componentes da cena que se deixava envolver, e estes não eram raros. Aos que renegavam o estrondo magnético, havia o castigo de não mais tê-lo diretamente para si. Pouco depois já haveria razão para pedi-lo emprestado a quem estivesse próximo, embora não houvesse pessoa alguma disposta a abrir mão da parte que lhe cabia neste deleite conjunto.

Fora de um padrão em que todos buscam divertir-se pelo mero prazer que isso representa, ali o regozijo aparecia de maneira bem mais particular, quase íntima entre as partes envolvidas. Com braços erguidos, corpo entorpecido e olhos atentos a qualquer estímulo visual, o bloco sentia-se, enfim, justiçado pelas tensões sentidas anteriormente.

Esquecia-se por um instante dos assuntos pendentes e dos que foram encerrados com pesar, mas não propunha reflexões futuras. A sensação era somente dali, naquele momento, enquanto durasse o tum-dum. Só então o mundo das preocupações já banais estaria paralelo. Contudo, o que não era exatamente uma inquietação muito silenciosa poderia se encaixar no contexto, e foi para tal exceção que um vocábulo veio se confundir com as batidas dando a impressão de serem todas uma única e estrepitosa referência a ele.


O nome ecoava e embriagava até o fim de cada seqüência sonora, para depois recomeçar na próxima. Uma melancolia vinha atravessando aquele barulho para fazer cócegas e desestruturar a dança. Esta, sim, destoava dos outros sentidos, era real e duraria um tanto mais. Sua oscilação corpórea era demasiado sincera e fazia do cenário psicodélico uma brincadeira doentia, espontânea e contraditoriamente sóbria. Uma palavra que acrescentava à ocasião, enquanto seu significado se ausentava.

Daqui pro inferno

As luzes foram acessas tem muita gente nas ruas e carros enfileirados.

Pessoas vazias carregam suas sacolas cheias de embrulhos esperando que com sua entrega sejam diferentes.

Volta o velho que não é comunista e nem integrante do White Stripes, mas sempre usa vermelho, branco e preto para atazanar as idéias dos mais velhos e iludir os mais novos.

E assim segue a compra do peru, das nozes, daquelas frutas secas horrorosas que nunca ninguém come e sobra para o próximo Natal, do presente do inconveniente amigo secreto, a roupa nova para ceia e a discussão familiar de onde será celebrado o nascimento do Natal...ops...digo de Cristo.

Nessa época todos são tomados de sentimentos de amor e carinho e eu sempre fico sem esse espírito aí e só me resta o de porco mesmo. Porque esse lance da manjedoura, dos burrinhos e afins me irrita. Nada contra a história e quem curte ela, mas pra mim não funciona.

Ao contrário da maioria, normalmente nessa época ao invés de sentir amor e carinho pelos meus semelhantes tenho raiva deles.

Muitos acham bacana acordar cedo e pegar ônibus até a 25 de Março para comprar bugigangas que brilham, cantam e se mexem, mas eu não acho legal ter que disputar lugar para sentar com um velho que só funciona com quatro pilhas ou com uma árvore morta que espera dar vida a casa de alguém.

Não bastando toda essa chateação, ainda é preciso rever toda sua família, inclusive parentes que você nem lembrava que tinha, gastar com coisas inúteis, comer coisas ruins.

A ironia de tudo isso?Essa é a época do ano que eu menos tenho vontade de ser sociável e sorrir, em que tudo conspira a favor do mau humor e de um alto nível de irritabilidade.

Meu pedido de Natal? Que ele acabe logo.

Love me or leave me

Tudo muito rápido. O começo. O meio. O fim. Parece que tudo foi uma coisa e não houve se quer uma divisão de tempo. Desorganização. Corpos, o meu corpo. Uma mentira, nossa verdade.

O chão debaixo dos nosso pés se desmanchando e você parado naquela janela achando que o céu sorria para você. Garoto, você às vezes é tão cheio de imaginação. Tanta ilusão, e me faz falta a verdade segurando a minha cintura como foram aqueles dias. Seu olhar está sempre perdido. Você não desisti de ser ele, mas eu já te falei que ser velho não é fácil, e ser velho como ele não é possível. Ele tinha a Linda e você tem uma invenção da sua cabeça.

Perdi todas as minhas palavras naquela mesa e, nesse quarto sinto raiva dessa janela e das suas costas. Se você sair agora, vou ficar vazia como nunca estive antes. Se eu largar essas coisas aqui, talvez nunca mais encontre o caminho de casa. Meus passos trocados com a saudades. Minha cabeça foi para longe, garoto. Meu corpo tenta e eu percebo que não posso. Nenhum esforço move qualquer músculo. Meu cérebro acelerado e os meus olhos só encontram as suas costas. Você acha que o céu te sorri. Você acha que essa cidade te tem nos braços. Você acha tantas mentiras e, não sei porquê não me nota de verdade dentro do seu quarto. No meio da sua vida.

Eu cansei de programar. De procurar coisas que levam mais de um mês. Os meus sonhos estão guardados naquela caixa que eu não abro para ninguém ver. Os sonhos e a promessa que eu fiz. Eu fiz uma promessa muda e eu vou cumprir, é o meu plano para os próximos anos. Pode levar todos os meus anos, mas um dia vou enxergar a vida que Ele roubou nos olhos daquelas crianças. Ela sabe, eu sei, eu sei que ela me ouvia, mesmo que estivesse branca e gelada. E agora, garoto, você fica aí olhando por essa maldita janela se sentindo incompreendido e cheio. Cheio de um sentimento que você se quer provou. Tanta coisa longe do seu raio de visão. Os 180º que esse prédio te permiti enxergar. Tem tudo do outro lado. Vida atrás das suas costas. A minha vida bem aqui parada as suas costas. Mas, você não vai enxergar isso nunca.

Vou levantar e recolher a saudades junto com a minha bolsa ali no canto. Subir a augusta e ter medo dos carros, como quando eu tenho certeza de que ainda não é hora de ir. Hoje, só uma doce ilusão e a certeza de que nada muda enquanto continuar igual.

Say I want your love, don't wanna borrow
Have it today to give back tomorrow
Your love is my love
My love is your love
There's no love for nobody else
(NIna Simone)

Bilhete

Não que fosse ligar, mas ainda assim manteve o cuidado de avisar quando saiu.
Talvez ainda voltasse antes de sua chegada, talvez ainda nem tivesse saído quando chegasse. Mas assim fez. Dentro da gaveta da arca haviam papéis recortados em pequenos retângulos, próprios para o uso de recados. Dentre todas as cores, puxou qualquer um. Se deparou com o verde clarinho.
Ao encostar a caneta no papel, riscou as frases em poucos segundos.
Saiu e trancou a porta, passou pelo corredor e seguiu o destino.

Quando ele chegou, o sol não mais invadia a cozinha. Não ligou para a luz apagada mas acendeu o cigarro. Chamou seu nome. Ela parecia não estar. Caminhando lentamente se deparou com o bilhete que estava fixo na geladeira. Com os olhos cansados, forçou para ler as letras miúdas, que diziam:

"Embora existam alguns motivos, eu não fugi!

Fui às compras. Tem coisas em falta por aqui.

Talvez até demais. Talvez eu tenha apenas saído com a esperança de encontrar o que acusa falta além no vazio da despensa.

Nessas horas me questiono mesmo sobre fugir. Acho que não o faço por não saber. Acho que só volto por... bobagem.

Se eu demorar e você se afligir, não hesite em me procurar. Me faça lembrar como é ser amada.

Sua. Sempre sua.

M."

Ele hesitou, é verdade. Cambaleou por todas as palavras e sentiu toda a formigação no cérebro. Aquela típica sensação de uma epifania. Demorou para realmente cair em si, novamente. E perguntou-se: "Por onde andava? Por onde havia andado?".

Abobado pelos movimentos repentinos e toda a descarga tempestuosa de idéias, ele tentou dar um passo e sentiu suas pernas bambearem. Depois, quase que ao chão, tentou manter-se em pé. E tentou de novo. E de novo. E de novo. E de novo.
Com muito custo, conseguiu. Agora, com um pouco mais de resistência, caminhou a passos largos, em direção à caneta. Apontou-a para o verso do papel. E rabiscou.

"Não saltei ou saí correndo, porque as pernas que um dia foram boas, hoje não conhecem o peso de meu sustento. Fragilizadas por palavras.

Há tanto esperei. Esperei por sentir minhas pernas sacudirem em resposta à esse coração instável. E hoje posso dizer. Hoje, descobri que esse coração pulsa mais que qualquer outro de dezoito.

Agora que isso me prova. Digo que só não vi por ser dotado de lerdeza. A memória tenta não ser falha, mas as mãos indicam, no suor, toda minha ansiedade em dizer-te. Se a ausência fez-se presente, não foi por querer. Venho tentado me valer ao seu lado. No entanto não percebo o quão estive errado.

Errado em desistir, errado por fugir. Mas se chegares e eu não estiver a mesa, suba correndo e entre sem bater. Não se espante com a bagunça. Talvez você queira ajeitar tudo, com essa mania dos anos. Mas peço que esqueça. Perceba apenas que a bobagem possui nome. Largue-se comigo no chão. E ame como faço.

Pois ainda amo-te. Pedaço por pedaço.

Teu.

P."

...

domingo, 11 de novembro de 2007

The Collection


E você continua aqui.

Naquele dia não pude me segurar. Tinha tanto a dizer e minha garganta ardia por tentar segurar lágrimas que insistiam em cair. Meus defeitos e vícios cuspidos em minha cara, algo que não pensei que você faria. Por todo esse tempo nunca imaginei que tais pensamentos ocupassem sua cabeça, e, assim de repente, descubro cicatrizes profundas que causei e que, por não conhecer, nunca respeitei. Foi como um tapa na cara saber o quão rápido você pôde listar todos os meus erros. E eu não tinha escolha, além de te ouvir.

Agora ouça, eu posso ser a pessoa mais pessimista, e a mais adorável, ao seu lado. E ainda que você me veja por inteira, cave meus sentimentos e me envergonhe, eu peço, continue aqui. Você viu cada parte, viu minha luz, agora ame minha escuridão. E continue aqui.

Por favor, seja capaz de me tirar dos saltos altos. Seja o idiota que eu sempre suportei, e amei. Você foi meu amigo, meu melhor amigo, sempre teve seus benefícios. E quando te via, te vejo, e sempre, eu perco o fôlego. Sabe, talvez eu não consiga ser boa sem você.

Eu tento argumentar o seu amor na triste convicção de que eu já o experimentei antes. Isso talvez nunca aconteceu (acho incrível a maneira como eu saboto minhas fantasias de reconciliação). Mas, então, porque você continua aqui?

Você me vê, desse modo em que não há amnésia seletiva, e que eu acreditava não existir, antes que você começasse a falar esta noite. Minha memória é simples, eu sempre esqueci o que preferia não lembrar.

Mesmo arrasada e perdida, seu sorriso me dá esperança de que talvez tudo possa ficar bem. É que eu só percebi agora, me desculpe. Se nos apaixonarmos novamente tudo seria resolvido. O amor sempre foi analgésico para a rotina, tome a pílula. E continue aqui.

Não se surpreenda se eu te amo pelo o que você é, sempre foi desse jeito. E ao invés de listar seus erros, preferi sorrir por suas qualidades. Por favor, mantenha meus pés no chão.

E você continua aqui. Posso voltar a sorrir?