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segunda-feira, 3 de setembro de 2007


Und noch einmal Herzlich Willkommen!

É a sexta edição do susi, a qual comemoramos com pulinhos e textos novos!
Estamos passando por fases difíceis na faculdade: aulas chatas. O que facilita a integração do grupo durante as fugas e cafés gratuitos. Além disso, existem projetos paralelos vinculados ao curso. Um deles é bem interessante e um tanto quanto educativo – o
Hominus Tetris, que tem a participação destes e outros.

A semana contará com compra e vendas de ingressos para festivais, decisões quanto a próximos convidados, aulas e cafés, e um agradável feriado. É, o tempo passará rápido. Aproveitem-no bem e continuem não nos deixando de fora do top 5 coisas-a-fazer-e-ler. Agradecemos!

Divirtam-se crianças. =]

Plans for the future

Hoje eu acordei e tudo parecia infinitamente igual à ontem. Mas ontem eu tinha os seus olhos e hoje eu tenho essa janela e o mundo lá fora. Levantei e fui procurar pela casa indícios de qualquer coisa boa. O problema é que minha cabeça foi junto. E ela me fazia lembrar cada segundo. As nossas palavras sendo trocadas naquele silêncio que enchia o quarto. O seu rosto me pedindo para falar. Mas eu não queria falar. Eu queria ficar comigo e você estava aqui. Hoje, eu queria você e você não está. A gente não tá certo. Somos, quando não deveríamos ser. Não é a mesma sintonia. Nem a mesma música que nos vem a cabeça quando falamos uma palavra.

Ontem, eu falei com o meu amigo e o meu amigo me explicou todas essas coisas de relacionamento que eu nunca entendi. Enquanto ele falava eu seguia o seu olhar perdido na sua namorada e pensava que nunca vou encontrar alguém. Eu sou possessiva. Obsessiva. Me guardo com facas a riste. Meu coração todo fodido, lacrado, escondido depois que ele levantou com o sorriso sarcástico. Mas, ontem era você e como eu queria que tudo desse certo. Como eu queria anular minhas dores para te olhar nos olhos.

Menino, queria te emprestar calma, mas há muito desespero aqui. Vagava pela casa atrás de você. Mas tudo era só lembranças. O telefone tocou. O telefone me irrita. A casa me irrita. Essa vida sem você me irrita. Talvez, o da noite passada não tenha aprendido a dividir silêncios. E eu preciso dos silêncios. Divididos ou solitários. O silêncio me salva. O meu respeito por ele abafa meus gritos. Deixo tudo aqui dentro. Ando pela casa. No telefone, era a minha garota, a única que entende tudo. Entende meus silêncios. Conhece o meu esquecimento. Dá risada quando eu falo que esqueci minhas senhas, onde guardei as cartas do banco, que perdi a dois minutos a minha agenda. E nós nos falamos. Então eu sorri e tive a certeza que eu vou amá-la para sempre. E quando eu estiver toda cansada e fodida, sempre vai ser ela quem me tirará de lá. Soulsister, como eu te amo.

Desliguei o telefone. Continuei andando pela casa. Parei na janela e por dois segundos achei que tinha encontrado lá embaixo. Não era você. Era a minha paz escondida atrás do rosto de qualquer um com a pressa que eu também já tive. O tédio e o marasmo preenchem o meu quarto. Você, que não é nenhum deles. Você, que não tá aqui quando eu preciso dividir o silêncio. Você, aparece?


Dois e oitenta

O coração começa a acelerar um pouco antes de entrar na farmácia.
Mas ora, que bobagem, é absolutamente normal, e antes assim que de outra maneira.
Finalmente meus pés tocam o lustroso chão, é uma farmácia muito bonita e grande. Analiso o número de pessoas no caixa e desejo que todos vão embora antes mesmo de eu entrar na fila.

Vou para o corredor onde elas estão enfileiradas, lubrificadas, separadas por marcas e tamanhos. Mais uma olhadela para o corredor, mais uma disfarçada olhando os desodorantes que estão na prateleira da frente, mais umidade nas mãos e gotas novas de suor na testa.
Pronto, já estão em mãos!, pensei. Mesmo que na ansiedade de apanhar alguma acabo por pegar qualquer uma, não importa, estão em mãos. Em minhas suadas mãos.
O caixa está com uma fila de três pessoas, um casal parece ter reservado um exclusivamente para eles, a fila anda aos poucos, tento segurar o pacote e o amasso na pretensão de escondê-lo ao máximo.
Tudo bem, é absolutamente normal. Pelo menos insisto em manter isto em mente.
No caixa, o funcionário aproxima o código de barras da etiqueta quase desintegrada pelo suor e a máquina lê o produto. A palavra “preservativo” aparece bem grande na tela virada para o cliente, tento disfarçar e entrar na frente. Entrego-lhe o dinheiro com as mãos um pouco trêmulas e recebo imediatamente uma sacolinha e o troco.
Saio com a cabeça um pouco erguida (fazendo um certo esforço), a face avermelhada e os olhos e ouvidos atentos a qualquer tipo de zombação.

Mas e aí, tudo bem, é perfeitamente normal. Uma pessoa que acha graça nisto não deve ser tão madura, ainda mais em uma cidade como esta. É apenas difícil de entender como algo “normal” pode ser tão constrangedor. Aliás, um constrangimento barato, de dois reais e oitenta.

I can't love you anymore than this

Aquele jeito blasé a deixava louca. Como alguém pode não se importar numa situação dessas? O que ela teria de fazer para que ele desviasse a atenção da janela e dos carros passando lá fora? Ele sempre ficava ali. Olhando o mundo, como se não fizesse parte daquilo tudo. Mas geralmente isso acontecia logo após terem dormido juntos, e tudo parecia tão perfeito, que era preciso olhar para os outros lá fora, e dissipar um pouco da alegria que inundava o peito.

Da primeira vez que o viu, odiou. “Quem ele pensa que é?! Se fazendo de difícil e desviando o olhar enquanto eu tento dar bola pra ele. “ Mas depois descobriu que era timidez, e que isso o deixava mais charmoso. Afinal, não gostava dos reis-da-festa. O primeiro beijo aconteceu na casa de uma amiga. Ela precisou sentar do lado dele, e engatar a conversa. Depois riria da situação, e passaria os próximos anos o xingando de lerdo.

Aquele beijo selou o contrato: passariam a vida juntos. A cumplicidade que compartilhavam era incomum, diziam que “era coisa de outra vida, sabe?!”. Só não imaginaram que tudo terminaria daquele jeito. A vida, os planos e sonhos eram discutidos, mas o fim nunca entrou em pauta.

E foi diante da indiferença que ela se convenceu de que era o fim. Não havia alternativas dessa vez. Bastava. Enquanto lágrimas escorriam e a respiração falhava na tentativa de dizer algo mais, ele continuava ali parado. Desistiu, abriu a porta, e ao cruzá-la se deu conta de que aquilo estava realmente acontecendo, e que talvez seu coração não suportasse tanta dor, nem tanto amor.

Ele ouviu o barulho da porta. Virou-se a tempo de ver seus cabelos presos num coque mal-feito, e suas mãos cobrindo os olhos. Ela tinha partido, seu coração. Ele não soube como agir em todas as outras vezes que ela esperava algo mais, e não soube o que fazer dessa vez. Olhou para a blusa esquecida em cima da cama e, numa última tentativa de trazer o passado de volta, respirou seu perfume. E chorou. Nunca conseguiu fazer com que ela entendesse o modo como a amava. Não sabia fazê-la feliz, nem ser feliz sem ela.

Vai chover, mas não quero conversar

Sabe aquelas conversas com estranhos em ponto de ônibus, filas e afins em que muito se fala, mas nada se diz?

Eu não gosto nem um pouco e o que me incomoda é que quando eu menos espero, para não ser desagradável com algumas pessoas, eu estou falando um monte de baboseiras senso comum do tipo “Mas tudo vai melhorar sim”, “Não pode desanimar nunca” “Precisa chover mesmo, está muito abafado” e tem a sessão divina que eu acho a pior com os seus “Graças a Deus”, “Deus me livre”, “Só Deus nessa vida”, “Mas Deus sabe de todas as coisas”, “Deus é pai” caramba é tanto Deus que eu nem sei qual escolho, deve ser por isso que sou confusa com relação a isso.

E tem a minha fuga que é quando eu simplesmente escolho o modo automático e digo: “Ah com certeza”, “É verdade”, “Ahã”, “Éééé”.

Eu odeio esses papos bestas, eles me irritam. Eu li em alguma crônica do Luis Fernando Veríssimo que isso é uma característica típica do brasileiro, que mesmo não tendo nada a dizer não consegue ficar quieto.

Eu nunca tive uma conversa muito proveitosa desse gênero com ninguém, mas já tive vontade de xingar várias pessoas, como em uma vez que estava indo de ônibus para o litoral, acho que em 2002, e um senhor começou a puxar assunto e disse que São Paulo era melhor com o Maluf ! Em respeito à idade dele eu simplesmente encerrei a conversa e liguei meu walkman (sim, eu tive um walkman com toca fitas) e segui muda o resto da viagem.

São essas conversas vazias e sem significados que acabam me fazendo sentir esquisita porque eu não partilho das mesmas preocupações que essa maioria que fala pelos cotovelos, mas também eu não me importo, eu até tenho carinho pelas bizarrices que coleciono no curto espaço de vinte e cinco anos e para provar isso até vou tornar pública algumas delas.

Até os dez anos de idade eu tomava banho com um pano de chão em cima do ralo porque tinha medo de que o palhaço do filme It saísse de dentro dele para me atacar, como na cena do filme.

Ainda hoje sinto uma pequena onda de pavor quando vejo um trator se aproximando porque tenho a impressão de que ele vai me pegar com aquela coisa que parece uma grande pá e me levrar para muito longe.

Quando criança eu adorava ficar girando e ficar tonta até o dia que perdi o equilíbrio e bati a boca na parece e nunca mais girei (fracassei na tentativa de ser um pião mas já superei isso).

Acho que vou contar essas coisas paras a pessoas que puxam conversa comigo, quem sabe elas desistem de falar do calor e de Deus e me deixam em paz né?Ou então vou vencer o meu medo dos tratores e sair com um por aí e com sua grande pá eu vou pegar todos os puxadores de conversas que me entediam e colocar bem longe de mim, até que não é má idéia.

domingo, 2 de setembro de 2007

Rememorar-me

Não lembro de um bom nome para começar sintetizando o meu texto. É assim que gostaria de iniciá-lo, mas a palavra me fugiu agora.

Poderia falar de memórias com maior fluidez do que elas tiveram no momento em que aconteciam de fato; somente a denominação está perdida. Mas já não tenciono encontrá-la e em breve a razão para isso ficará evidente.

Ainda parece recente o dia em que a conheci e, poucos minutos depois, que admiti a importância daquela relação. Mais do que crianças que se vêem esporadicamente de acordo com o desejo de seus pais e brincam exaustivamente apenas por terem um interesse em comum, nós fazíamos isso conscientes do momento e de tudo que ele representaria mais tarde.

Sempre soubemos que a fotografia que nos retrata na escada do apartamento em Ubatuba na época em que tudo ao redor era terra e mato seria repetida alguns anos - e centímetros nossos - além. Era bem claro assim como as piadas desconexas que continuariam sendo engraçadas a cada ruído curioso ou objeto corriqueiro que nos remetesse àquele tempo.

Muitas lembranças que colaboraram para a construção desse sentido foram, no entanto, vítimas do tempo e tiveram seus detalhes dizimados por algumas outras que lhes tomaram o lugar. A essas intrusas eu não tenho tanto apego já que substituíram as quais eu faria questão de manter, mas nem por isso desmereço sua importância: me empenho em usá-las para recuperar as que mais interessam.

Não tenho orgulho dessa manipulação que faço da memória. Se não fosse tão necessária, garanto que não a faria. O fato é que há dias nos quais todo o tempo reflexivo é destinado àquilo que não há motivos para lembrar, enquanto as lembranças importantes ficam timidamente escondidas atrás dessas que parecem tão mais significativas. Não são. Eu perdi o controle do que consigo reter quando os acontecimentos triviais começaram a ocupar mais do meu tempo, independentes da minha vontade. Hoje eles tomam espaço demais em mim a ponto de nem a consciência dar conta de recordar dias tão marcantes e, logo, tão deslembrados.

As histórias que ouço como se fossem inéditas são contadas com tamanho entusiasmo que me entristece não conseguir agregar o meu ponto de vista ao de minha contadora de histórias, uma narradora-personagem, mas não onisciente como eu precisaria. Afinal tudo isso soa como recursos de literatura fictícia à espera de análises desta leitora que vos fala. Contudo, também sou personagem e quero conhecer a história que vivi de antemão.

A amnésia por vezes aparenta ser mero descaso e tem sido cansativo provar o contrário. Eu não desconheço por completo os fatos em questão, aliás, tenho a clara idéia da importância de cada um. Só me esqueço do que os fez tão importantes e, com isso, invalido quase todos os termos afirmativos usados aqui anteriormente.

Não é possível formar conclusão precisa sobre informações fragmentadas, pois receio mencionar algo que contrarie exatamente o que estaria contido na porção perdida. Nomear uma experiência sem pleno conhecimento sobre ela é tão incerto quanto arriscar que ela foi vivida plenamente.

Das noites em que permanecemos acordadas para conversar sobre qualquer assunto, eu ainda guardo cada vírgula do nosso discurso, cada timbre das risadas e até os suspiros que se seguiam ao choro. Já o medo sentido algum tempo depois de que aquelas pudessem ser as últimas, eu excluí tão logo pressenti a possibilidade de repeti-las e preencher as lacunas da minha memória que valham a pena.

A certeza de perda também é esquecida se eu ainda a tenho para me lembrar de tudo que não quero esquecer.