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domingo, 21 de setembro de 2008

32ª Edição

Buenas, "amantes" da "boa leitura".

Esta edição do Susi tem como tema uma imagem, e só.
As seis gracinhas vão ter que se virar e se infiltrar em seus pensamentos mais obscuros para decifrar e criar a partir de uma arte chamada "The Hole Theory", do Tcheco Jan Dosedel (a.k.a Absolute-naut).






Portanto, sem mais delongas, vamos aos seis:

Extrato


Conhecendo de antemão o prestigioso futuro ao qual rumava, começou a se questionar sobre o lucro do grande sucesso com a comemoração solitária. Aspirava promoções, contatos importantes, resultados financeiros, imensa visibilidade e recorrentes superações de metas diminutas.

Por entre corporações e finanças em um escritório humanamente inóspito, produzia maquinalmente e refletia o espírito que lhe era esperado. Ganhava remunerações exorbitantes pela colaboração e, pouco a pouco, o tato que lhe ainda mantinha as cédulas à mão se esvaia.

Na cadeira de seu cubículo, acreditava em congratulações mais expressivas pelo seu empenho e ansiava por ser visto individualmente por alguém também avulso. Estava à disposição de um humano desconhecido para distinguir o comportamento dessa espécie. A ambição tinha o acompanhado por toda a vida, mas agora se resumia a um sonho de desconstrução para que dela se constituísse algo mais sensato.

Perdia a fé nesta pessoa ilusória capaz de lhe recolocar em uma esfera real e sensível, enquanto se aprisionava cada vez mais no desespero. Foi por temor que insistia em se manter intacto com tal desapontamento. Foi para não esquecer ou desistir da liberdade almejada, que se conservou desumano na fortaleza.

Como um mal estar estabilizado no organismo já doente, embrulhava-se com a mera finalidade não ser desintegrado. Expunha ridiculamente o seu pedaço que demandava remoção.

Fugas do presente

De repente tudo se parecia com a imagem daquele livro que acabei de deixar na mesinha. O telefone não tocava. Os meus sonhos não falavam. A vida parecia ter sido esquecida dentro de um buraco muito parecido com o pintado naquela parede. O medo da felicidade tinha me deixado próxima demais desse desenho, desse presente que fingi gostar.

A janela fazia o seu papel. Encostada na parede ao lado dela, com um copo nas mãos e os cabelos presos, observava a rua vazia e a cabeça parecia voltar para aquela imagem que tinha mexido comigo de um jeito incomodo e frio. De repente tudo fazia sentido. Os olhos daquela pessoa enrolada em um plástico ou pano, qualquer coisa estranha demais para ser descrita, era o jeito que me vestia e me cobria do mundo, uma alma transparente. A cadeira vazia era como fugia do que era cômodo. A escrivaninha guardava minha vida em gavetas e portas fechadas, com palavras e fotografias. Só não queria encaixar aquele buraco preto. Não queria comparar nada de mim com aquilo. Muito menos, com aquele desenho.

Queria correr, mas só tinha a janela, talvez fosse impossível.



Só consegui fechar o livro e sorrir. Nada daquilo disse algo que não soubesse... Estava errada e fim.

O Buraco

Arranhei a parede em busca de um aborto
Com os dedos em carne e sangue,
Me abracei na procura de conforto
Do lado de cá é tudo muito abandonado
E fico preso sempre aqui do outro lado
Minha sede pede água e eu apelo à trégua
Nada além de mágoa na ausência que me cega

O que eu quero não tem nome
Não tem definição
Estou preso em mim mesmo
Nessa minha obsessão

O portal da liberdade,
Ou o início da prisão
Mofo junto com as paredes
Aguardando uma decisão

O buraco que liberta
Que esconde e alimenta
O buraco é a meta
Minha vitória lenta
Sem objetivo

Não sei se já morri
Ou se ainda estou vivo

O que acontece agora?
Me diz o que tem de errado
Me diz o que tem de errado em mim
Aqui dentro do lado de fora
Não sei se é o começo
Ou se já cheguei ao fim

Growing Inside

Depois de algum esforço conseguiu abrir os olhos que pareciam colados. Era tudo escuro. O ar estava morno e meio sufocante, só conseguia sentir sua respiração que voltava assim que ele expirava. Alguma coisa envolvia todo seu corpo, como se fosse uma massa que delimitava seus movimentos.

Talvez estivesse sonhando, mas não sabia o contrário de um sonho. Não lembrava de sua vida. Não sabia como era chamado pelos... outros? Será que ele era parte de uma composição de pessoas? Um grupo? Porque estava ali? O que significava aquilo? Ele estava ofegante e o ar ficou mais quente. Sentiu algo descendo pela testa. Estava suando e tentava recordar seu nome, mas não conseguia.

Percebeu que podia mexer os dedos e conforme se movimentava ouviu algo romper, um barulho fino, delicado e de repente sentiu farelos e pequenos pedaços. Um cheiro artificial, que como tudo naquele momento, ele não sabia o que era, parecia areia. Continuou movendo os dedos, pois era só o que conseguia fazer. Depois de um tempo já podia mexer ambas as mãos e tinha um espaço considerável. Tateou o que pôde e tudo ao seu redor era duro e áspero.

Agora já conseguia bater com os punhos fechados, não sabia por que, mas precisava se desvencilhar daquela coisa que o abraçava e o segurava ali. Talvez se lembrasse de quem era ou talvez soubesse que não era ninguém. De alguma forma saberia algo. Continuou.

Ouviu um ruído mais forte, algo estava rachando. Continuou batendo os punhos. O barulho ficou mais intenso, alguma coisa estava sendo destruída. Uma luz mínima amarelada. Socos. Já tinha espaço para mover as pernas. Joelhadas. Chutes. Chutes. Socos. Raiva. Suor. Raiva. Raiva. Raiva. Caiu.

Nasceu. Os olhos tentavam ver além do bege morto de um quarto. A cadeira de criança já não servia e o armário não abria. Estava pelado, mas não tinha frio, na verdade não tinha nada, só as lembranças que estavam surgindo, mas não confortavam nem um pouco.

Lembrou da escolha que mudou sua vida. A rejeição sofrida na infância resultara no recolhimento. Tinha se trancado no quarto. Preferiu ficar entre as paredes e ser criado novamente, até querer nascer de novo. Ser parido por elas. Duras, frias, caladas, mas presentes. Não mais um rejeitado, não mais um qualquer, mas sim um filho das quatro paredes. Enfim alguém.

...schopny růst uvnitř...

Casulo

Há aproximadamente dez anos atrás eu comecei meus estudos. Muitos diziam ser ridículo, gênios diziam ser uma lenda, filósofos romantismo, psicólogos alucinação, matemáticos indecifrável, mas conforme meus testes e analises a probabilidade existia e, portanto, era uma teoria a ser estudada. Einstein já havia desacreditado tal fenômeno em 1939, quarenta anos depois eu procurava comprovar o contrário: das estrelas nascem os buracos.

Dias e dias no laboratório, sem comer dormir viver. Minha energia era comprimida junto aos astros, as fusões nucleares o criavam e me destruíam. A cada passo errado, os cálculos iam para o espaço, minha cabeça explodia e eu sentia que o tal buraco negro só se formava em minha cabeça.

Horas e mais horas de dedicação. Meu peso diminuía conforme a massa das estrelas ultrapassava o sol. A densidade se colocava contra o volume, me atraindo para o caótico breu imaginário. Toda luz captada o fazia cada vez mais negro. Meu cérebro, o tal buraco.

Assim como toda a matéria era extinta, minha sanidade corria perigo quanto mais eu me aproximava de soluções. Teoricamente, o astro exerceria forças que destruiria agressivamente qualquer corpo. Só a distância me separava desta energia, minha mente já trilhava o caminho rumo ao fim. Como resultado, a auto-degradação de uma mente fértil.

A lagarta não se transformou em borboleta. Não resisti à morte de minhas estrelas, o buraco me engoliu por inteiro.