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segunda-feira, 29 de outubro de 2007



Nossa Susi chega aos 11.
Aproveite enquanto a infância é doce e ingênua, logo mais virá a adolescência, com todos seus problemas e indagações.

Novamente temos cinco textos, de estilos, gostos e cheiros diferentes.
Se lamber os lábios ao final, conte e faça-nos felizes.

Propostas e idéias são sempre bem-vindas.
Caso surja alguma por aí, nos avise!

E até a próxima, que ainda não será aos treze, porque depois disso tudo muda.
(Ua-há-há!)

Küsse! =*

Isn't that all life really is?

Não adianta ficar aqui tentando montar o quebra-cabeça que você desmanchou. Nada do que aconteceu volta daquele jeito que já foi. As coisas mudaram, eu mudei, e não estou disposta a voltar atrás nas minhas decisões para agradar o seu convencionalismo barato. Continuo com as coisas que tenho agora, a pessoa que eu sou de ontem em diante, se o preço for ficar sem você, eu pago. Eu pago o quanto vale a minha liberdade e às vezes ela vale muito mais do que eu tenho.

Sem você, eu vejo aquele show, e continuo feliz porque estou ao lado de quem faz toda a diferença. Ao lado do atemporal, eu sorrio molinha e com sono. Sem as suas mãos, eu sou mais forte. Sem o seu sorriso, eu sou mais leve. Sem o passado eu vejo um monte de possibilidades pela frente. Você levantou e foi embora. Você vai e volta. Mas, dessa vez você foi e voltou sorrindo extasiado por aquilo que a gente também viu. Pela banda que a gente ouviu. Mas, eu não queria saber o que você tinha achado. Aliás, eu quero saber muito pouco ultimamente. As minhas certezas mudam em questão de segundos. Os meus medos não são mais enumeráveis. Eu acho que perdi alguma coisa dessa vida que mantinha minha prudência no lugar.

Às vezes o que seria dor pesa como alivio. Deve ser um misto de cansaço, algumas obrigações, uma overdose de música boa, certa ansiedade e alivio que me faz seguir nessa segunda-feira com um calor escaldante sobre São Paulo.

Some Changes

Olhava e tentava achar uma ligação, um elo qualquer que conferisse lógica ao que via.

As mãos geladas e os pensamentos desencontrados, o telefone toca, mas não era nada importante, nada que a fizesse sair de si.

Impaciente mexe nos cabelos, olhas suas unhas feitas e pensa como seria não respirar, deixar de ser.

Parada na frente do computador ela conta 1, 2, 3 e mergulha. Uma tentativa de experimentar a ausência do ar nos pulmões e de tudo aquilo que não quer mais. Após 60 segundos o coração acelera, a visão embaralha as letras e numa explosão volta a existir. Abre os olhos e está tudo igual, nada mudou.

Teve sono, mas não dormiu, teve fome, mas não comeu, não quis respirar, mas respirou.

Sempre fazia o oposto do que queria e justamente naquele momento em que queria desistir de tudo, de todos e de si fez o contrário.

Acreditou em si mesma, confiou e foi sincera com os amigos e gostou de tudo o que tinha até então.

No dia seguinte acordou e por instinto odiou sua condição e aquela sensação, mas como todo viciado em reabilitação pensou “Ok um dia por vez” e se levantou, escovou os dentes e tratou de sorrir, dificilmente quebrava promessas.

Estava bem, estava feliz e sorria com sinceridade, mas como qualquer adicto sabia que não há transformação plena sem recaída.

Temia porque o fruto do vício sempre estava nela, estava trancado, mas podia ser solto, pois era preso por engrenagens que ela mesma controlava.

Mas estava indo bem e não tivera nenhum ataque de abstinência.

Sua droga?O pessimismo. Que de tão pessimista que era, acreditava que nunca mais escaparia da jaula da sua dona.

E ela?Ah estava bem e tão otimista que até podia pensar em soltar seu pessimismo, nem que fosse para um passeio e para ajudar a escrever uns textinhos aqui e ali.

domingo, 28 de outubro de 2007

Fim das linhas

Hoje a angústia que percorreu o calendário acordou prevendo sua morte. A jornada que ela cursou mais arrastada do que com alegria denuncia uma última curva, logo ali em frente.

Transitava de um dia para o outro com a sensação de ter a sua perspectiva se esvaindo; nada acumulado pelos números anteriores e nada que pudesse esperar de diferente nos seguintes. A satisfação que poderia ter em deixá-los para trás se limitava na iminente repetição deles que viria no próximo número. Sentia também certo remorso por pensar em admirar o tempo passado em branco, contudo continuava se esforçando para deslizar por entre dias, semanas, meses... até certo momento que ainda desconhecia.

Não lembra quando começou a fazer do calendário uma pista ou, ao menos, quando é que se motivou a acatar essa definição e correr por sua extensão. Agora que se deu conta, está dando seus últimos passos. Pequenos detalhes acumulados nos derradeiros dias lhe deram essa certeza – detalhes que, se fossem avulsos, talvez não fizessem qualquer diferença. A angústia chegou a sentir pequenas alfinetadas ao notar a imensa dose de expectativa contida nesses fatos, só não pôde prever que nas seguintes linhas da tortuosa lista, eles é que seriam os responsáveis pela sua possível aniquilação.

Sabe que seu tempo já é curto e o instinto autodestrutivo a faz abreviar ainda mais a virada das páginas. Tal esforço tem consumido a consistência de seus atributos, tornando-a uma angústia quase neutra. Orgulho nenhum é capaz de conviver com a ciência de sua própria degeneração e vindoura substituição por qualquer sentimento antagônico e muito mais agradável. Um fim para ela é inegável e ninguém tentaria impedir. Pulando toda a parte emotiva e precocemente saudosista do discurso de despedida, a verdade é que da decadente angústia que se desintegrará nos próximos dois meses ninguém sentirá falta.

Seu posto já está vago e são abertas as inscrições para o candidato a lidar com o calendário dos próximos doze.

Triste alegria

E finalmente, como prometi, chegamos a Berlim, que foi uma experiência única e sempre me traz um emaranhado de emoções. Viajei no dia 1º de janeiro, saí debaixo de neve com a mochila nas costas. Trem, avião e de repente lá estava eu, novamente debaixo de neve e perdida. A cidade estava de ressaca pós-ano-novo, e a ausência de pessoas combinada a paisagem branca causava uma sensação estranha, quase como se eu não quisesse estar ali de verdade, sabe, tristeza.

Na porta do quarto tropecei, fiz o maior barulho e acendi a luz logo gritando um “I’m sorry” ao ver alguém dormindo lá dentro. Pra minha surpresa a resposta foi: “Pode acender, já acordei”. Ela olhou pra minha cara, assustada por eu ter entendido, eu pra dela, exatamente pelo mesmo motivo, e a gente riu! Não lembro seu nome, mas ela estava viajando com o ex-namorado-melhor-amigo pela Europa, e após passar o reveillon em Berlim, voltaria para Barcelona, onde morava e estudava.

Depois de me livrar das três calças e cinco blusas que eu usava na esperança de não passar frio, fomos comer, eu, ela e ele. Apresentei-os ao Kebab, a mais famosa e popular comida turca de uma Alemanha invadida por turcos, que não passa de um churrasco grego de gato importado feito em pão sírio com várias verduras. Não há nada mais gostoso e barato que o Kebab, lanche preferido de estudantes com pouco dinheiro e estrangeiros pobres.

Depois de alimentados, a balada seria com os poloneses, que iriam para uma tal casa-sex-shop com música bacana, mas que, bêbados e perdidos, nos levaram a um estacionamento fedido e sem graça. Passou pela minha cabeça que talvez a intenção fosse ficar dançando ali, mas desistimos de tentar entender e de passar frio, fomos dormir. Acordei no dia seguinte e achei um bilhete, ela me deixou seu telefone e endereço, pedindo uma visita que eu nunca fiz. Infelizmente, e com grande pesar, a Espanha ficou fora do meu roteiro.

Ainda não nevava, resolvi sair para meu passeio de reconhecimento. Na frente do Portão de Brandenburgo descobri uma tour guiada, e gratuita! Entre australianos, japas e brasileiras eufóricas (das quais eu mantive distância me fingindo de gringa) passei pelo Memorial ao Holocausto, pela Exposição do Terror e pelo Museu do Muro. Mas nada me chocou mais do que aquela calçada. Ali, no meio de uma rua normal, entre prédios e carros, ele tinha se matado. A insignificância do local era proposital, evitaria neonazista. Naquele lugar tudo parecia ter sido contaminado pela morte, mas flores não cairiam bem. Registrei a foto do chão, pois do bunker nada restou.

Meu amigo de Paris chegaria no dia seguinte, em boa hora, não sei se agüentaria mais um dia sozinha ali. Esperei por uma eternidade na estação sem achá-lo, e já quase desistindo da companhia, o encontrei sentado entre mapas, perdido em alemão. Fomos direto para o Hostel, a neve impedia grandes projetos. No dia seguinte eu fui a guia, e rodamos Berlim nas minhas palavras. E eu ri, me perdendo no metro, buscando Nefertiti, escrevendo em papiros, passeando pela Macedônia, pulando de museu em museu. Quando anoiteceu e esfriou, faziam quase 15 graus negativos, passeamos de ônibus, observando pessoas e seus reflexos no vidro.

Infelizmente ele foi embora me deixando com tempo de sobra. Eu andei sem rumo novamente, e desisti dos campos. Talvez hoje não fizesse o mesmo, mas a situação me obrigou. Meu avião partiu a noite e, depois de esperar três horas no aeroporto por causa da tempestade de neve – maldita neve, voltei. E não era para casa, porque ainda teria de esperar seis meses para isso. Tanto a dizer, e um coração mudo.

Sobre o deslizar do óbvio

Não foi por outra decisão mais remota que descobri o que então era puro fato. Engraçado como as coisas acontecem e como os sentimentos chegam até mim. Poderia apontar, sem a menor dificuldade, algumas pessoas que conheço e que fazem da escrita quase que uma necessidade fisiológica. Eu não sou uma delas.

Enquanto meus pés ainda se pronunciavam e tentavam se manter em equilíbrio, sentia nas mãos formigamento de por no papel o pouco que meus olhos vivenciavam. Mas não em palavras. Eram em traços que meu mundo tomava forma. Traços independentes, a dança do giz de cera no sulfite e o colorido do lápis na superfície branca de qualquer escala de cinza que fizesse o coração pulsar menos. Enquanto o compasso dos gestos viviam suas formas sem nem uma ponta de percepção, eu tentava registrá-los em linhas que eram tão vulneráveis quanto minhas vontades adolescentes. Não sei se o resultado era realmente bom, mas era assim que eu fazia o universo tornar-se harmônico pra mim.

Mas o tempo - sempre, sempre, sempre o tempo - traz mais que só folhas brancas de papel. Traz os rasgos, a sujeira e os amassados. E fazer qualquer traço que valha, parece não ser mais tão simples assim. O coração fica amuado com tanto branco e preto. O tempo impede que a cor se espalhe e a mão dá o sinal de fraqueza.

Quando cheguei aqui pra ocupar esse espaço de letra e sentido, percebi o que me fazia perder o senso. Cavouquei os neurônios e tentei desenterrar as idéias, mas nada parecia convincente. O cérebro havia se acomodado ao confortável caminho que os dias seguiram e só uma nova semana será capaz de tirá-lo dessa condição.

Foi então que uma idéia surgiu. O mais fácil sempre está na cara, mas a mania de complicar insiste em ocupar espaço. E tentei arriscar o meu "fácil". Não seriam palavras, e sim, imagens. Todas as que me acompanham. Todas as que me fizeram colocar no papel, o desabafo de quem encontra conforto nas palavras, quando se depara com as novidades soltas no mundo.

=

E só assim minha mão parou de formigar, meu cérebro respirou e tudo voltou ao normal.