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segunda-feira, 7 de abril de 2008



Susi completa "20 aninhos" e vira irmã mais velha de muita gente por aqui. E em uma semana tão comemorativa, a sexta-feira vem pra dar a confirmação de que tudo isso vale realmente a pena.

A segunda versão impressa do zine será festejada em maior estilo, junto com o aniversário de nossa caçula [a sue], dia 11/04, na Juke Joint [sim, de novo!]. Olha só:


Preparem-se para a festa e para o show!
Todomundoconvidado!

Muitas felicidades e bom fim de falta de juízo.
=*

ps.: nesta edição temos uma novidade, fechamos os comments individuais e abrimos o da susi. mas não se reprimam, fiquem a vontade para comentar textos particulares ou a edição toda aqui. continuem palpitando, dando sugestões e vendendo camisetas, ok?

Unsent

A janela de madeira do meu quarto, faz o recorte do frio e da chuva fina que cai lá fora, um quadro acinzentado. E dele vem as nossas conversas todas, os cafés e os outros que te contei, vem os outros e é para eles que escrevo hoje.

M., você me fez menos garota com todas as suas palavras e as horas de conversa, e sem saber nossas rotinas eram as mesmas. Os nossos finais de semana se cruzavam a semana inteira. Você me deu o melhor começo e eu te surpreendi com um final repentino. Ali eu conheci a minha inconstância e o medo de que terminassem antes de mim. Adiantei um final que poderia ter se estendido por mais dias. E talvez tudo se deva a você ter me chamado de namorada, e eu não queria aquilo, não do jeito que foi. Os seus problemas eram diferentes e você via a vida de um jeito que não encaixava no meu.

F., eu me sentia atraída por garotos que mentiriam para mim e achariam que não me importo. Você era auto destrutivo demais e achava que os dias só eram bons com a tragédia nos cadarços. E, desde sempre, eu nunca gostei do peso dos outros, o peso sem porquê, os maiores sofredores, o sangue e a dor. Desde sempre eu tive na arte a minha procura por qualquer coisa que fosse além da inevitável dor.

L., os dias jamais terminavam ou começavam iguais quando você estava por perto. O mundo era cheio de problemas tão desiguais, no seu sorriso era como se eles não existissem, mesmo que andarmos sozinhos fosse impossível. E tudo sempre estivesse em jogo: a paz, a segurança e o amor. Tudo o tempo todo na mesa. E com você nada importava. O seu gosto por bandas boas, o seu sorriso, a sua casa com as nossas lembranças. Eu sei que sua vida é outra e tudo é impossível de ser como foi, mas eu continuo aqui, quando você vier ao Brasil, eu passaria um tempo com você.

C., o que havia de errado comigo? Eu pulei de você para um lugar além de mim. Saltei antes de estar pronta, e no fundo, eu queria estar com o seu coração encorajador e educativo. A sua cumplicidade com as palavras, daquele jeito que você esteve ali solto pra mim. Eu te atraia e te afastava. Lembro como foi ótimo cair nos seus braços, quando o mundo tirou o chão e eu achei que não tinha nada que me sustentasse, como você me tirou daquela mesa e me chamou para olhar o céu e ver as estrelas que você fazia piscar com a cumplicidade que guardava no bolso. Você foi o meu maior erro e é meu único arrependimento.

G., espero que você entenda, a distância é o mais difícil. Nós seremos incapazes de conversar por alguns dias, nós fizemos tanto bem quanto foi possível. Estivemos juntos naquela época tumultuada da sua vida. Sempre terei e serei seu apoio, continuarei curiosa sobre você, sua carreira e principalmente: seu paradeiro.

J., você me tirou do medo e da negação, me fez ser de verdade por dois meses inteiros. Entregou a maior confusão e levou o melhor sorriso. Trocas injustas com o resto do mundo, enquanto só nós sabíamos quanto era tudo possivelmente maravilhoso. O carinho virou gratidão, eu vi isso quando você me agradeceu e eu te disse que não precisava de nada daquilo. Eu nunca esperei nada e confesso, me assustei.

P., você apareceu quando tudo tinha caído. Falando de música, com o cabelo bagunçado, e a camiseta daquela banda você me fez mais interessante. Entendeu tudo da primeira vez que falei. Me tirou do meio dos meus amigos e me mostrou a parede vermelha daquele bar. Os shows com você são mágicos e perto daqueles dias, eu não poderia ter tido retorno melhor.

Alguns foram insignificantes, outros passaram, alguns tiveram um ou dois dias, e perto da minha janela os passarinhos fazem festa. E dentro da minha cabeça a nostalgia escreve um livro com final feliz.

Tears for you

Quero falar o que já falei outras vezes, mas queria ter dito ontem também. Sua lembrança esmigalhou meu peito sabe? Em alguns momentos fiquei meio besta e meio muda, porque quase não conseguia me mexer. Eu estar ali e você não, era ironia demais. A maior cretinice do destino.

Não estar por perto já é a piada mais sádica que qualquer um podia ter feito, mas não você, né? No meio de tanta gente tinha um buraco bem do meu lado. Um vazio que não cabia multidão.

Um outro amigo meu disse que temos que viver a vida como se fosse o último dia, mas não daquela forma clichê e desesperada que pregam os livros de auto-ajuda, de um jeito mais sutil, verdadeiro e possível. Ontem enquanto eu molhava meu rosto com um choro contido de raiva da sua ausência, tudo o que ele me disse serviu bem.

Eu sempre deixei claro meu carinho por você, teve tantos pequenos gestos e frases soltas que ainda hoje me fazem rir. De como éramos e do que poderíamos ser. Só que você foi embora e eu não.

Da última vez até parece que você se despediu, como que sabendo que não nos veríamos mais. Eu odeio ter que me contentar com pouco, e o máximo que posso ter sobre você são sentimentos de lembrança e saudade. Mesmo não cabendo a mim, não concordo com sua partida.

Então eu queria mesmo dizer que você fez muita falta ontem, como faz todos os dias e que eu chorei por raiva de não ter sua companhia, que aquele momento era seu, mas como você não estava lá, eu estive, e pensei em você como minha única forma de te fazer presente.

Relapsos no Km 1


Alguém disse que a chuva torrencial traria mudanças.
Ela veio e as coisas parecem não ter variado desde então, ou desde um tanto antes. Em qualquer lugar tudo permanece imutável e ninguém contesta a umidade que deixou mau cheiro nas roupas testemunhas. Ainda que a hipocrisia se arraste dolorosamente nos próximos dias, um encontro com o odor na nossa lavanderia já trará à tona o que parece ter sido deixado pra lá.

Parecia mesmo um pensamento inútil e por isso foi relevado. Agora acomodado e prestando mais atenção à chuva, que só molha o ambiente externo, é impossível ignorar a consternação. Não acredito que o cheiro da roupa úmida esteja só aqui. Aprimore seu olfato e ele, por si só, te questionará quanto tempo ainda falta para que tudo se arranje. É uma dúvida oprimida enquanto ainda chove, mas olhe pela janela e veja que essa garoa derradeira não está acompanhada de nenhuma revolução. Você nem sabe se alguma coisa pode realmente mudar dessa forma tão natural.

É bem fácil não fazer nada e seguir sempre a mesma trilha com desinteresse. Quero te contar sobre as outras direções antes que você decida desistir e voltar desse caminho que leva a lugar nenhum. Pode segurar a minha mão se você não souber para onde está indo. Só continue buscando uma passagem para que a transformação aconteça de outra maneira, porque a chuva já está passando e nada do que ocorreu antes dela foi diluído. Os erros não se desintegraram com ela e um vento pode empurrá-los para o próximo quilômetro.

Seria melhor não olhar para trás e encontrar alguma serenidade que fizesse os passos fluírem como chuva em plano horizontal. Então sinta esse cheiro e me explique por que as coisas ainda estão assim, a esmo, antes da primeira curva.






*Referência clara e descarada a Desperation, do Steppenwolf

Café com ela

Escute só, minha querida. Talvez tenha sido seus pulsos, sua forma como me passava o bilhete. Era uma viagem, mãos em mãos até a sua me entregar. Até seu toque chegar até mim, até nós dois nos resumirmos nessa mesa agora, com a única distância dos meus desabafos.

***

Nem todas as palavras servem para eu me expressar com clareza. Nem tudo o que eu boto nessa roda, é para ser claro. Nem as palavras. Tão pouco as palavras. Eu sei que aqui, eu consigo dividir tanta coisa, tão mais que qualquer melodia, tão mais que uma soma com resultado singular. Traga sua mão até aqui. Traga, ponha-a aqui no meu peito, eu deixo você sentir. É mais que sangue correndo, talvez mais que qualquer vida pulsando. É um jardim onde eu deixo você cuidar como quiser.

quem me olha assim, com certo desprezo, duvida de que possa ser assim. duvida da minha vontade de te colocar no papel em traços mais longos e delineados que qualquer obra. e eu deixo minha empolgação transgredir qualquer barreira. eu sublinho todas aqueles versos e te entrego, eu risco minha pele com agulha e tinta. eu deixo tudo claro, se é assim que você quer.

Cortando as ruas, todos os dias, eu já nem sei quantos passos moram nos mesmos caminhos. Já nem sei quantos passos moram na minha mania em calcular distâncias. Multiplico tudo por xis e jogo minhas apostas em qualquer fórmula absurda que seja capaz de achar uma equação cabível aqui. Uma equação que traduza nosso diálogo. Mas eu me canso. Me canso de tentar arrancar conforto de lugares inóspitos. Acabo por vomitar o que ficou entalado. Patético.

Deixa eu ver seu pulso. Eu só quero apertá-lo. Fazer você sentir como as coisas funcionam aqui. Ou talvez te mostrar como minha cabeça não funciona mais quando se têm pouco tempo pra tanta coisa. É ruim. Tá ruim. Mas acaba aqui. Eu chamo o garçom, deixa que eu pago a conta. Eu atravesso as mesas e te largo refletida no fundo da minha xícara, diluída com o resto do café. Porque o papo acabou e eu não sei mais te convencer da minha mudança, minha querida. Eu, apenas, não sei mais... querida inteligência.

Quem é Quem (e vice-e-versa)

Sobem pelo meu corpo. Aos poucos me formiga todo. Literalmente. Caminham lentamente, ordenadamente de encontro. Pelo corpo todo. Eu quero ser a rainha. Serei a mais bela de todas.

Vieram adiante sem eu nada poder fazer. Sem o devido respeito ocuparam todo o espaço. Me deram vestido, me coroaram. Me fizeram acreditar. Antes que pudesse ouvir chamar, tomaram meus ouvidos. Antes que pudesse gritar, ocuparam minha boca. Desceram ao meu estômago e comeram as borboletas. Me iludiram ser nobreza.

Seguraram minhas mãos, me impediram de atitudes. Comeram meus cabelos e todas minhas personalidades. Entraram em minhas veias, apodreceram meu coração. Meu pobre... - Mas eu sou a rainha - tentando me explicar, tentando me acreditar.

Formigas. São todos formigas. Pena eu não ter uma lupa gigante, pena o sol não estar escaldante. A minha vantagem em relação às formigas é que elas vivem em silêncio, e eu não as ouço chorar. A vantagem é eu ser maior que elas. - Eu sou a rainha - gritava, - EU SOU A RAINHA! - E pisava, e pisava, e pisava...

domingo, 6 de abril de 2008

geek

Fazia sol e ela tinha ido ao parque. A leitura estava quase no fim e queria terminá-la como a personagem, com a cabeça livre dos problemas já resolvidos. Não seria tão simples, pois seus problemas só a deixavam em paz entre a primeira e a última página. Foi ali sentada que, de repente, despretensiosamente, o conheceu, num tropeço.

- Oi, desculpa, tô com pressa... você sabe onde fica a rua Mário Antônio? Não? Me disseram que era por aqui. Aliás, bela camiseta. O que tá escrito? Sweetzerland? Bacana. A praça Marquesa é por aqui? Me disseram que era perto. Minha vó era polonesa, falava algo de alemão. Não, só sei o básico. É, Scheisse e Huresohn. Palavrões? Sério? Desculpa. Que horas são? Acho que tô perdido. Esqueci de oferecer, coca? Dia bonito. Posso sentar? Era, uma entrevista. Designer. De internet, sim. Que rua é aquela? Mas você não é daqui? Presumi, ninguém vem de muito longe para ler no parque. O que é? Eu gosto de Johannes Vermeer. Um romance, sério? A Holanda deve ser fabulosa. Prefiro lírios ... É, vou tentar me encontrar. Um prazer, tchau.




- Oi. Sim, voltei. Sei lá, eu não queria ir embora. Seu sorriso me faz bem.

Ela ainda não sabia, mas seu livro terminaria com os mesmos problemas. No entanto, um final feliz a aguardava.