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segunda-feira, 7 de abril de 2008

Unsent

A janela de madeira do meu quarto, faz o recorte do frio e da chuva fina que cai lá fora, um quadro acinzentado. E dele vem as nossas conversas todas, os cafés e os outros que te contei, vem os outros e é para eles que escrevo hoje.

M., você me fez menos garota com todas as suas palavras e as horas de conversa, e sem saber nossas rotinas eram as mesmas. Os nossos finais de semana se cruzavam a semana inteira. Você me deu o melhor começo e eu te surpreendi com um final repentino. Ali eu conheci a minha inconstância e o medo de que terminassem antes de mim. Adiantei um final que poderia ter se estendido por mais dias. E talvez tudo se deva a você ter me chamado de namorada, e eu não queria aquilo, não do jeito que foi. Os seus problemas eram diferentes e você via a vida de um jeito que não encaixava no meu.

F., eu me sentia atraída por garotos que mentiriam para mim e achariam que não me importo. Você era auto destrutivo demais e achava que os dias só eram bons com a tragédia nos cadarços. E, desde sempre, eu nunca gostei do peso dos outros, o peso sem porquê, os maiores sofredores, o sangue e a dor. Desde sempre eu tive na arte a minha procura por qualquer coisa que fosse além da inevitável dor.

L., os dias jamais terminavam ou começavam iguais quando você estava por perto. O mundo era cheio de problemas tão desiguais, no seu sorriso era como se eles não existissem, mesmo que andarmos sozinhos fosse impossível. E tudo sempre estivesse em jogo: a paz, a segurança e o amor. Tudo o tempo todo na mesa. E com você nada importava. O seu gosto por bandas boas, o seu sorriso, a sua casa com as nossas lembranças. Eu sei que sua vida é outra e tudo é impossível de ser como foi, mas eu continuo aqui, quando você vier ao Brasil, eu passaria um tempo com você.

C., o que havia de errado comigo? Eu pulei de você para um lugar além de mim. Saltei antes de estar pronta, e no fundo, eu queria estar com o seu coração encorajador e educativo. A sua cumplicidade com as palavras, daquele jeito que você esteve ali solto pra mim. Eu te atraia e te afastava. Lembro como foi ótimo cair nos seus braços, quando o mundo tirou o chão e eu achei que não tinha nada que me sustentasse, como você me tirou daquela mesa e me chamou para olhar o céu e ver as estrelas que você fazia piscar com a cumplicidade que guardava no bolso. Você foi o meu maior erro e é meu único arrependimento.

G., espero que você entenda, a distância é o mais difícil. Nós seremos incapazes de conversar por alguns dias, nós fizemos tanto bem quanto foi possível. Estivemos juntos naquela época tumultuada da sua vida. Sempre terei e serei seu apoio, continuarei curiosa sobre você, sua carreira e principalmente: seu paradeiro.

J., você me tirou do medo e da negação, me fez ser de verdade por dois meses inteiros. Entregou a maior confusão e levou o melhor sorriso. Trocas injustas com o resto do mundo, enquanto só nós sabíamos quanto era tudo possivelmente maravilhoso. O carinho virou gratidão, eu vi isso quando você me agradeceu e eu te disse que não precisava de nada daquilo. Eu nunca esperei nada e confesso, me assustei.

P., você apareceu quando tudo tinha caído. Falando de música, com o cabelo bagunçado, e a camiseta daquela banda você me fez mais interessante. Entendeu tudo da primeira vez que falei. Me tirou do meio dos meus amigos e me mostrou a parede vermelha daquele bar. Os shows com você são mágicos e perto daqueles dias, eu não poderia ter tido retorno melhor.

Alguns foram insignificantes, outros passaram, alguns tiveram um ou dois dias, e perto da minha janela os passarinhos fazem festa. E dentro da minha cabeça a nostalgia escreve um livro com final feliz.