Eu te falei uma vez que não sabia escrever cartas, porque sempre deixei as letras soltas demais, acho injusto limitar as despedidas a uma carta final. Um ponto final petulante com as vírgulas, então pontuo como quero e vivo da mesma forma. Tudo é tão solto e a liberdade é sempre o que me prende, hoje, tento fazer tudo caber dentro das próximas linhas.
Estava imaginando como seria ficar longe por alguns poucos dias, meses, semanas, seria pouco mas faria de mim tão diferente, te deixaria diferente, voltaríamos com tanto assunto e a minha urgência continuaria? Os dias continuariam sendo dias quando a chuva parasse de cair e nós fossemos para ruas olhar a vida e sorrir dos outros? Talvez sorriríamos de nós, porque é preciso sempre uma dose de coragem e felicidade para seguir. Tudo é tão cheio de altos e baixos, que seria mais fácil continuar longe disso. Mas você já percebeu que o fácil não é o meu caminho. Vou sempre ser uma garota com muitas músicas, histórias, alguns amigos, livros e palavras.
Escrevo o roteiro da minha vida por linhas tortas, enquanto me perco em outros corpos, conhecendo outras histórias, reconhecendo o vazio em outros, que se não você, não me interessam. Embora, alguns deles me presenteiem com saudades. É um tanto de comodismo em continuar ao lado das minhas facilidades todas, porque não é tudo tão complexo como você teima em achar. Sou simples e minha complexidade é muda.
Eu queria te contar uma coisa, e como essa carta é sua, só você pode me julgar por ela. Estava ouvindo uma música sertaneja, está bem, várias músicas, não sei explicar, mas é como se houvesse uma nostalgia de algo não vivido. Tudo é preconceito diante dos nossos amigos e eu continuo sendo a mesma que vai preferir as bandinhas do norte do nada. Parece meio bobo, eu confessar assim, que ouvi algumas músicas, mas acho que você entende como é ser particular fazendo parte da roda.
Mas essa carta é para falar, que diante de tão pouco, eu me retiro. Porque a porta fechada é uma janela aberta. Não aguentaria me trancar em um lugar e só respirar o meu próprio ar. Preciso de vida e das vidas que tenho, trocaria tudo por aquilo, que não chega a existir. Passarei alguns meses fora. Mudarei de ares e resolverei o meu problema com a falta dele. Digo, sentirei a sua, mas do que mais poderia dizer, deixo o silêncio.
Adeus.
ps: o título é daqui e a foto do Bruno.