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domingo, 1 de junho de 2008
Postado por Susi às 23:55
De onde vem a força
Era um mistério o que circundava as tentativas de entender por que se preocupava tanto com as coisas que deixava escorrer. Não muito mais complexo que isso, ele se referia às frases que iam debaixo de qualquer mesa de bar, nos bancos do ônibus, no reflexo da janela e em outro canto que pudesse esquecer o juízo enquanto usava o tempo livre das atenções para vagar em detalhes que a vida lhe trouxesse a tona.
E remoía-se com toda a turbulência de pensamentos insenssatos que ligavam a angústia de sentir a visceralidade que havia na vida das esquinas, para se enterrar entre as próprias concessões e fraquezas. Ultimamente, queixava-se dos dias tão estranhos, que mal conseguia pontuar as situações, os parágrafos, as letras de seu nome. Seu nome. Uma coisa tão ingênua que poderia lhe trazer tantas dúvidas. Um agá onde não devia e uma vida tão menos interessante quando a numerologia conseguia ser mais convincente que os acasos.
Pensava ser tolo às vezes. Pensava em não saber ao certo em que acreditar quando as frases formavam-se enquanto fixava o olhar inerte nas estações do ano, sem notar diferenças bruscas nas coisas. Eram as pessoas que mudavam. Eram as pessoas que o cabulavam a ponto de não querer mais contato com nenhum ser humano que confessasse guardar sua confiança.
E no zoom inconstante das coisas, usava um dia de outono, em que o sol se escondia, para se atirar na frente do computador e conversar com as luzes que refletiam a confiança perdida. Ah, seu amigo de bytes, de pixels. Tanto vazio em uma caixa tão promissora. Tanto vazio culpado pelas lembranças que não mais povoavam suas tardes. Uma coberta de dúvidas enquanto os retornos faziam-se tão concretos.
E quando uma vontade tola de mudar o mundo juntou-se com as idas e vindas de tantos retornos, viu-se em uma tarde fria de sol com aqueles que amava, se divertindo com o pouco que havia se tornado muito. Todo o valor de uma união que transboradava o cômodo, a casa. Sentiu-se feliz. O sorriso que escapava a cada vez que um detalhe era notado, a cada vez que as palavras ganhavam sentido novo e tudo fazia ser como era, só que melhor.
Decidiu descomplicar e teve os nós desfeitos, apenas cuidou para reforçar o laço que ligava a felicidade ao coração. Lembrou-se de que quando se diz saber algo de cor, é porque está no coração. By heart, como se diz em inglês. E longe de tudo o que pudesse preocupá-lo, decorou os sorrisos que fizeram tantos dias melhores. Para revivê-los a cada momento de fraqueza. Ser melhor com o que lhe fazia bem. Ser melhor com a força das junções.
Postado por Bruno às 23:23 0 comentários
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Doce doença para os acolhedores
Naquela garrafinha de água que carrega para cima e para baixo estão as últimas gotas de seu descaso fisiológico. Antro bactericida goela adentro. Ninguém viu, portanto não há nada ali no meio. Com os olhos remelentos e a garganta execrando sons guturais, a vida é animalesca com ou sem a água suja da garrafinha.
A verdade é que não faz muita diferença ouvir a sua mãe e evitar friagens, comer frutas e legumes e não dormir de cabelo molhado. É mais uma balela, porque no fim das contas só parece um comportamento mais simpático, sem lucro comprovado para o suposto beneficiado. A vida pode ser subumana até pra quem se esforça por um mínimo de saúde. São acontecimentos aleatórios.
Ouvi há pouco uma tosse grotesca – que não foi a minha – acompanhada de um extenso lamento de dor. De onde vem tanto sofrimento? Mamãe diria que é conseqüência da falta de brócolis e agasalhos. Eu já sei que a podridão é inerente ao homem e que se revela esporadicamente. O empenho em evitar a coisa ruim não é compensado nem mesmo para os atletas disciplinados, que vivem com os pés, articulações e músculos estropiados.
Ainda existe um movimento meio antiquado e careta dos que tentam enfaticamente se manter bem, entretanto, repare no comportamento da maioria desta “geração saúde”. Não é nada como o maio de 68, mas há uma bandeira levantada por eles com salgadinho, álcool e barrigas de fora no inverno.
Aquela história de preferir a morte à velhice é só mais uma expressão conformista dos remelentos e junkies assumidos. Essa é a época mais propícia do ano para ouvir a marcha escatológica dos que cantam seu hino espirrando maus hábitos.
*desenho de Mr. Esgar, em referência à música do Mudhoney - banda clássica do movimento grunge.
Postado por Ana às 23:21 0 comentários
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prefácio
Em um determinado momento percebi que todo meu bloqueio era ilusão. Eu tinha muito a dizer, mas não queria compartilhar. E foi essa sensação que me engasgou durante meses.
Os textos se formaram em minha cabeça muito antes de irem para o papel. Tudo o que eu queria escrever e relutava. È a minha visão, cercada por milhares de referências que me remetiam a cenas e palavras e sentimentos. Já me adianto avisando: fiz livres adaptações no meu conto-de-fadas particular, que por certo você reconhecerá. Não se assuste, existem detalhes reconhecíveis, outros que só a mente de uma mulher é capaz de guardar.
Isso seria, antes de tudo, parte do meu diário inexistente que, por motivos ainda indecifráveis, resolvi compartilhar com você. Trate as palavra com o carinho que dedicou aos meus sentimentos, pois cada verso transborda minha essência. Ouça minha voz e perceba que tudo ali é inspirado em você, em nós, em uma história que pode acontecer. Que você goste de lê-la tanto quanto eu gostei de escrevê-la.
Postado por De Lancret às 22:35 1 comentários
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O último dia da semana
Sair da cama não era algo a ser questionado. O frio, o carinho e os pés juntos formavam a combinação de como um domingo deve ser. Se lá fora estava um dia cinza, dentro do apartamento as conversas recortavam o sono e surgiam cores enquanto se mexiam.
A tentativa de abandono da cama foi fugaz. Uma mudança para o sofá que não durou mais que uma hora. A preguiça e o amor não se acomodava bem ali, os sussurros eram bem melhores do que o som alto da TV e tudo era meio gelado e complicado demais para os pés se encontrarem.
Não tendo motivos para resistir, voltaram para a cama. Sussurros, abraços, beijos e carinhos. Até as cobertas se aqueceram com o calor deles. Tornaram-se parte. O quarto, a cama, as cobertas e eles, agora, eram um. Respiravam e sentiam junto.
O dia cinza trouxe a noite que fez questão de trazer as obrigações e responsabilidades de uma segunda feira besta. E agora o quarto é só um quarto, a cama nada diz e as cobertas frias, são testemunhas do que aconteceu naquele domingo.
Postado por Milla às 21:34 3 comentários
Marcadores: Milla Pupo
Bright are the stars that shine
Esperaram a vida inteira que tudo se encaixasse, quando de repente o quebra-cabeça acabasse e as mãos se esquentassem no corpo um do outro, acharam tantas vezes que naquele vai e vem jamais seria. Ela teve outros, ele teve outras, mas nada nunca fez parte daquela cumplicidade muda que eles alimentavam e das frases presas, dos assuntos evitados, dos outros esquecidos; viam um ao outro nos olhos respectivos. Esperavam o dia em que se veriam, sempre, naqueles olhos que sorriam para eles. Os olhos calados, fugitivos, sorridentes, cúmplices, rodavam e paravam sem querer sempre nas mesmas palavras.
Cansados das incertezas procuravam sempre aquele lugar comum que parava os dois, o corpo e
a cabeça um do outro, pareciam que as dúvidas eram
dissolvidas e levadas com a chuva de dias ruins. Já falaram tanto dele, talvez devesse saber, falavam que ele temia todo o desconhecido que ela carregava em enigmas e dúvidas, que a vida certinha dele era feito um castelo de cartas e se aquele alicerce fosse assoprado, o novo o amedontraria. Mas não importava o que fosse dito, para ela, ele seria o seu erro colorido, o seu acerto insistente em fugas infantis.
Imaginavam-se juntos, dias e noites, esquecendo o frio em silêncios e abraços, ouvindo a música que escolheram juntos para ser deles. Se ao menos ela conseguisse guardar as suas dúvidas, admitir um monte de coisas e esquecer outras, se ao menos ela pudesse fazer ele perder a cabeça e imaginar como tudo seria belo.
Mas não precisariam dizer adeus. Os erros escreviam histórias no livro dos acertos. A cada novo você de qualquer um deles, a certeza de que não era ainda, aquela pessoa certa que ele esperava e o erro que ela tanto queria, isso os colocava aos pés da enorme confusão e paz que aquela história escondia. Ele queria o certo, ela preferia o erro, e naquele jogo, ela era a certa e ele o erro, as escolhas, trocadas. Ela daria a ele mais aventura e um beijo no fim da noite fria, ele daria a ela um pouco mais de calma e flores amarelas em dias cinza.
O que esperavam? Nada que pudesse ser assim tão simplesmente explicado em palavras. Não importava como eles distribuíssem os dados, nesse jogo, o acaso resolveria os problemas e os números seriam trocados pela lógica de uma vida complexamente simples.
*imagem - Mário Júnior
http://www.flickr.com/photos/mariogogh/
Postado por Suellen Santana às 21:31 1 comentários
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... Paz na minha solidão
Pensar é obsoleto
Estrelas-cadentes invadem os céus
No fim todos procuram salvação
Postado por Yuri Kiddo às 12:12 0 comentários
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