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segunda-feira, 16 de julho de 2007


Edição que marca o exato meio das férias de inverno. Com te(n)são de segunda vez. Os tremores ainda estão aqui. A mentira também. Alguns resquícios de verdade. E várias risadas.

Os nossos sinceros agradecimentos a quem leu. Comentou. Gostou ou não. Aos simpatizantes, antipatizantes, leitores, curiosos e tudo que envolva dois segundos de atenção dispensada. Nosso muito obrigado.

Sem nenhum desfalque continuamos com o time em campo.

Gostem. Desgostem. Reclamem. Mande suas propostas e sugestões. E no fim das contas: se manifeste.

Somos um zine carente ;D

Puxe a cadeira e fique conosco por mais quinze dias.

domingo, 15 de julho de 2007

Ciclo Centrífuga

Tudo volta. O recomeço parece apenas insistência de algum fato mal resolvido. E, quando aquela sensação de ‘vida nova’ estimula o otimismo, pode-se esperar um gancho puxando experiências anteriores como se elas jamais se desvencilhassem por completo da contemporaneidade. Já não servem como alicerce para os projetos futuros, ao contrário, elas perseguem toda oportunidade de desenvolvimento lembrando das falhas anteriores e induzindo ao mesmo erro.

Como ressaca do mar em uma praia poluída e triste, pessoas que via há tempos com olhos esperançosos hoje vejo afundando nos velhos hábitos inconseqüentes, em seus velhos ideais inconsistentes. Freqüentemente se arrependem, mas logo se esquecem das promessas de mudança, criando o movimento cíclico. Apreciam a constância da felicidade sem qualquer objetividade até que ela se esvaia e, então, a procuram pela mesma fórmula. Eu e essa maldita mania de querer complicar! Sentir-se bem deveria bastar.

Planos e atitudes iniciais de quem pretende mudar e conhecer outra perspectiva. Tudo de novo em uma nova tentativa de buscar resposta para aquela antiga dúvida a respeito de finalidades. Outra complicação à toa essa de se preocupar tanto com o fim das coisas, demonstrando tamanho desmerecimento pelo recheio da história. A questão é exatamente a repetição que ocorre nele. São sempre contos diferentes de temática semelhante, e acabo os relacionando a um intento comum.

Não é possível atribuir culpa alguma nesse processo que engloba todos os tipos de mudanças e, ainda assim, acaba igual. É cômodo haver diferentes caminhos a serem seguidos e em cada momento especial poder optar por um distinto, embora se mostrem ruas desembocando em uma mesma praça. Só não o é imaginar que toda variação seja só parte de uma fase, sem uma importância substancial para atingir algo que nem se sabe exatamente o que é.

Parece até desesperador agregar as melhores e piores experiências vividas ao desconhecido objetivo, o qual é ambicionado a cada novo ato repetido. Portanto, retalho delas o seu diferencial e guardo num cantinho à parte dessa pouca vergonha de mesmice. Pequenas e adoráveis lembranças mutantes de um processo estagnado. E logo volto ao ciclo.

Mariproseando

Eu só acredito no horóscopo quando ele me diz algo de bom. Quando é algo ruim eu penso comigo: "Ah, balela tudo isso" e sigo feliz com meu dia.
Claro que normalmente acontece o contrário do que é previsto por ele, por exemplo, sempre que eu leio que algo espetacular vai acontecer, acabo tendo o dia mais tedioso da minha vida. E quando diz que terei um dia tranqüilo, algo terrível acontece e eu bato o dedão do pé na quina da cama, tropeço, machuco o joelho e ainda uma mariposa assassina me ataca.
Acreditem, elas (as mariposas) me odeiam!Sou atacada constantemente por todo tipo de mariposa. Eu juro!Por exemplo, na praia em Cambury, num escuro de matar em uma roda de gente, do nada uma mariposa horrorosa atacou quem?Quem?Quem?
Eu é claro!E tenho testemunhas ok?
Sei lá, mas elas não gostam de mim. Acho que estou em uma lista, deve ter uma lista tipo aquelas do SPC/SERASA na versão delas,que devem saber que eu matei algumas amigas, quem sabe alguém da família e elas devem voar ao redor da minha casa e pensar “A VINGANÇA É UM PRATO QUE SE COME FRIO” batendo as asinhas de forma sinistra.

O último ataque delas foi sabotado por minha digníssima irmã.
Apareceram duas delas na cozinha, de tarde, e ficaram lá até de noite.
Eu moro em um sobrado, e de madrugada elas resolveram passear pela minha casa. Onde elas foram?
No meu quarto é óbvio!É o último do corredor e nem tinha luz e elas foram pra lá. Minha irmã viu as mequetrefes voando e as matou.
De manhã acordo e vejo duas defuntas mariposas na minha porta e concluo que de fato sou perseguida por elas. É inegável.

Portanto se eu sumir da internet procurem pelas Mariposas (com letra maiúscula mesmo, porque elas devem ser na verdade, uma organização) elas vão saber do meu paradeiro.

E quem me conhecer não deixe que elas saibam disso, pode ser perigoso.

Sem par

Minha garganta dói. A vida escorre pelas minhas entranhas. Sem opção, deixo de respirar o ar dessa cidade poluída. E a escassez de qualquer razão começa a me desesperar. Sinto falta do meu passado.

Algumas coisas fizeram-se em pacotes e saíram em estradas desconhecidas. A cada esquina procuro o meu passado e não encontro nada. Só um monte de presente atravessando a rua sem notar os carros passar. Evito movimentos bruscos. Contenho algumas palavras e mantenho algumas pessoas por perto.

Avisto suas costas naquela mesa torta. Madeira pesada. Uns riscos e uma vela iluminando suas letras. Você sempre rabisca coisas, e eu as leio quando você se levanta para apanhar alguma coisa no quarto ao lado. Decifro suas palavras e disfarço a minha dor de garganta enquanto as engulo. Elas queimam e atingem o lugar certo. No instante seguinte você volta. Senta na sua cadeira também torta, e continua sem notar que te espio. Olho todas as noites suas palavras sendo pregadas nestes pedaços de papel.

Ando até você. Seguro as suas costas. Aperto seu pescoço. Você sente alguma coisa. Seu corpo estremece e a sua mão expulsa a minha. Toma seu pescoço para si. Massageia os cabelos na tentativa de expulsar a dor fina, com a qual te presenteei enquanto lhe dava minha força. Você olha para trás. Procura meus olhos nessa sala escura. Só essa vela idiota nos empresta luz.

Nada. Não há nada. Você não nota a minha presença e acredita que todas as palavras são só suas. Tenta em vão explicar aos outros as suas diferenças. O quanto você destoa do mundo. Explicar, até mesmo, suas imperfeições. Agressões gratuitas e algumas merecidas. Censura montada em roupas boas. O bom gosto envolto de merda atirada pela janela de alguém. Todo mundo que sofre e te faz bem. Os que escrevem e emprestam inspiração. Os que cantam e emprestam ritmo. O compasso, aquela coisa infantil, desenha a roda da vida. Enquanto você sai do centro. Do seu centro.

Amanhece lá fora. Caminho até ao seu lado para apagar essa vela. Você continua curvado ensaiando rabiscos. Amasso as folhas enquanto procuro seus olhos. Você não me percebe. Não percebe que tomo conta de você. Todas aquelas noites sem explicação, as quais passei com a cabeça nos seus joelhos, com um lenço para secar suas lágrimas no escuro desse quarto. Procuro os seus iguais. Vivo por você, enquanto você se perde, injetando verdade nessas palavras.

Explico para alguns essa sua falta de explicação. Sua aparência feito maquiagem. E suas palavras carimbadas como passaporte. O céu está azul lá fora. E este quarto começa a me sufocar. Te sigo até o corredor. Aumento o chuveiro. Te apresso com sussurros. Escolho uma roupa e a deixo em cima da sua cama. Vamos sair. Para longe. E só voltamos com a coragem debaixo do braço e a verdade dentro da carteira. Enquanto houver medo ou mentiras rondando esse quarto frio. Te enfiarei no inferno da solidão. E você queimará até sucumbir as minhas vontades.

Ouça. Me ouça. E no fim, acabaremos com aquela garrafa de conhaque parada ao lado do microondas. Ele queima e atinge o lugar certo, assim como suas palavras, em poucos minutos encontramos algo. O centro. O seu centro. O meu centro. O nosso centro. Nós dois. Um só. Só eu ou só você. Dois em um. Um par com um corpo. E um corpo sem par.

Caminhos e desamores

Nunca tive muita sorte com amores. Minha vida é marcada por tentativas frustradas de romance. E na maioria das vezes, acredito que sou a grande culpada pela falta de sucesso na busca por um alguém. Eu faço tudo dar errado, para que alguém não o faça por mim.

Talvez seja trauma. Voltemos ao meu passado. E dessa vez vou longe. Na minha sala do prézinho éramos em 14 crianças. Seis meninas e mais oito meninos. Tudo começou no dia dos namorados, quando voltei com oito presentes para casa. Eram batons, canetinhas e presilhas. Depois dos presentes, vieram as ameaças: “toma cuidado, amanha vou te beijar no intervalo”. Sério, era tortura psicológica! Quem disse que era desse jeito que se conquistava uma garota de seis anos?! E isso durou algum tempo, até eu não agüentar mais a pressão e começar a faltar na escola. Minha mãe ficou preocupada, contei tudo, e no dia seguinte a diretora veio até nossa sala conversar sobre garotos, garotas e “o amor”.

Depois de uma grande paixão não correspondida durante a segunda série, passei por um vácuo sentimental. Pulemos para a oitava série, primeiro beijo, que acidentalmente foi no garoto que uma amiga minha amava em segredo. Se era em segredo, como eu poderia saber?! Descobri do pior jeito, sendo chamada de piranha pela minha amiga no meio da rua numa festa de 15 anos. Credo.

Esqueci de comentar sobre a tentativa de primeiro beijo. É, ela existiu. Foi na feira, matando aula de filosofia, que depois me renderia uma advertência. Era o cara certo, por quem eu tanto tinha esperado e que, lógico, não sabia nada sobre eu nunca ter beijado ninguém. Conversa vai, conversa vem, o assunto some, ele pega minha mão, vem chegando, se aproximando, eu fecho os olhos, e... beijo o nariz dele. Até hoje não sei se aquilo era realmente o nariz dele, só sei que mandei parar tudo e confessei. Disse que era bv e não tinha a menor idéia do que estava fazendo. Ele foi bem compreensivo, esperaria até quando eu estivesse pronta. Depois do primeiro, e do segundo, ele foi o terceiro. De quem eu guardo boas lembranças.

Durante o colégio tive um belo começo de relacionamento, que não acabou tão bem assim. Eu tenho esse incrível poder de me enjoar muito fácil. Pobrezinho. Ele era todo certinho, e bonitinho, um amor. O problema era eu. Na primeira semana estava tudo bem, já na segunda pedi para conversar e completando 15 dias decidi acabar com aquela enrolação que não nos levaria a nada. Mesmo eu não sabendo qual nada era esse. Acho que eu mal sabia para onde um relacionamento deveria me levar. Bom, ele não entendeu meu ponto de vista, e preferiu não falar mais comigo.

Triste, mas meu relacionamento mais longo durou esses 15 dias. O tanto de dias que levo pra me enjoar de alguém. Pelo menos de alguém que não amo. Porque se eu amasse, ah, daí seria diferente. Um dia eu ainda vou amar. Mesmo que eu tenha 30 anos e uma bunda enorme. Vou continuar esperando meu Mr. Darcy.

Retropasso inexistente

As ruas continuam tortas mas o que me causa enjôo na verdade não são as curvas acentuadas, as previsíveis pessoas, nem o forró escolhido pelo querido motorista do ônibus. É como se eu tivesse escrito aquele bilhete e nunca mais pudesse ter a certeza de te rever. É como se a vida trouxesse agora o caminho esburacado não apenas em razão da falta de capiamento das ruas, mas pelo vazio que passou a existir no momento em que apertei o botão do elevador.

Fiquei tão preso às inutilidades essenciais da vida, que não consegui mover meus pés traçando o mesmo caminho que me levava à sua porta. A covardia do meu corpo, incapaz de qualquer outro movimento que pudesse surpreender, fez-se notavelmente débil e foi inevitável não seguir o caminho dos tolos. A vontade, culminando com a alegria, foi se apagando conforme os passos me levavam pra longe de você. E era triste. Era solitário.

Não demorou pra minha cabeça entrar na imensa maré de cores, pés, pernas, braços, bolsas, óculos e carapuças. Me via perdido alí no meio, quase impossível de achar. E como se não bastasse só me achar, tentava encontrar também em que parte do caminho não havia mais as pegadas e as placas que sinalizavam pra mim que o inusitado não tinha morrido. Isso sim era uma grande novidade, isso sim era motivo de espanto e admiração. Então segui já sem motivos, perdido no cotidiano infundável, com seu cheiro, sua imagem, você impregnada em toda parte que eu chamava de meu. Eu.

Mas tão distante que me fazia ver o resto do dia em branco e preto, em olhos caídos e respiração instável. Talvez ainda conseguisse ligar tudo o que ficou de você em mim, descrevendo na forma literal, pelas conversas no telefone que aconteceriam cedo ou tarde. Mas até as partes aqui deixadas saberiam que não é a mesma coisa. Meu pensamento costuma vagar e ir muito além do que meu corpo está a viver. E toda a distração faz o dia correr devagar. Me pego rindo por perceber a ironia tamanha que há nos rumos da tudo, a semana durará bem mais que 7 dias. E minha chance é sempre na última das coisas, Murphy sabe bem.


Inconsolável com a realidade, escondo você, aqui, alí, em qualquer lugar, mas te escondo em mim até que você dê falta de si mesma e, num surto maravilhoso, venha me procurar para achar aqui o que esqueceu. Achar em mim, você. Achar nós dois, de novo.