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domingo, 15 de julho de 2007

Retropasso inexistente

As ruas continuam tortas mas o que me causa enjôo na verdade não são as curvas acentuadas, as previsíveis pessoas, nem o forró escolhido pelo querido motorista do ônibus. É como se eu tivesse escrito aquele bilhete e nunca mais pudesse ter a certeza de te rever. É como se a vida trouxesse agora o caminho esburacado não apenas em razão da falta de capiamento das ruas, mas pelo vazio que passou a existir no momento em que apertei o botão do elevador.

Fiquei tão preso às inutilidades essenciais da vida, que não consegui mover meus pés traçando o mesmo caminho que me levava à sua porta. A covardia do meu corpo, incapaz de qualquer outro movimento que pudesse surpreender, fez-se notavelmente débil e foi inevitável não seguir o caminho dos tolos. A vontade, culminando com a alegria, foi se apagando conforme os passos me levavam pra longe de você. E era triste. Era solitário.

Não demorou pra minha cabeça entrar na imensa maré de cores, pés, pernas, braços, bolsas, óculos e carapuças. Me via perdido alí no meio, quase impossível de achar. E como se não bastasse só me achar, tentava encontrar também em que parte do caminho não havia mais as pegadas e as placas que sinalizavam pra mim que o inusitado não tinha morrido. Isso sim era uma grande novidade, isso sim era motivo de espanto e admiração. Então segui já sem motivos, perdido no cotidiano infundável, com seu cheiro, sua imagem, você impregnada em toda parte que eu chamava de meu. Eu.

Mas tão distante que me fazia ver o resto do dia em branco e preto, em olhos caídos e respiração instável. Talvez ainda conseguisse ligar tudo o que ficou de você em mim, descrevendo na forma literal, pelas conversas no telefone que aconteceriam cedo ou tarde. Mas até as partes aqui deixadas saberiam que não é a mesma coisa. Meu pensamento costuma vagar e ir muito além do que meu corpo está a viver. E toda a distração faz o dia correr devagar. Me pego rindo por perceber a ironia tamanha que há nos rumos da tudo, a semana durará bem mais que 7 dias. E minha chance é sempre na última das coisas, Murphy sabe bem.


Inconsolável com a realidade, escondo você, aqui, alí, em qualquer lugar, mas te escondo em mim até que você dê falta de si mesma e, num surto maravilhoso, venha me procurar para achar aqui o que esqueceu. Achar em mim, você. Achar nós dois, de novo.

6 comentários:

Milla disse...

"mas te escondo em mim até que você dê falta de si mesma"

Nossa Bru!!

Que demais isso(suspirando...)
=]

Ótimo!

Ana disse...

lindo, meu!

um sentimentalismo assim tão latente só podia arrancar suspiros mesmo. XD

ai
amei, bruno.

ligiazm disse...

eu quase chorei com esse... e tem gente aqui que sabe bem o porquê.

Acacia disse...

Bruno,

S-E-N-S-A-C-I-O-N-A-L!

Lindo demais!

Beijo

Anônimo disse...

Hei Érmão..
O que é isso?

"te escondo em mim até que você dê falta de si mesma e, num surto maravilhoso, venha me procurar para achar aqui o que esqueceu. Achar em mim, você."

Tá se tornando passagem obrigatória estar por aqui...
e olha que sou cautelosa nas minhas leituras...

Parabéns.. pela sensibilidade.. pela doçura... e pelo maravilhoso dom de reportar ao mundo os singelos detalhes não menos importantes das situações...

=) Orgulho!

Um bjo...

Mi

Ogami disse...

Yo man!
Você é bom!
Não fiquei com o coração todo derretido.
Mas gostei da construção do texto!
Jóia bicho.
Keep this way...