Aproveite.
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Postado por Susi às 23:55
E foi sem procurar que o achou. Na vida, sempre deu voltas atrás de alguém que a satisfizesse, mas os caminhos a levavam para corpos errados. Ou talvez fosse ela quem os errasse em suas frustradas tentativas de se entregar.
Formulava defeitos, transformava os detalhes em obstáculos na sua vida. E quando, na tentativa de agradá-la, via sentimento demais em relações rasas, encarregava-se de livrá-los de maiores dores futuras, fechando portas e passagens, desfazendo caminhos e apagando sonhos.
Criticava o rumo da sua vida, mas percebia que suas escolhas o faziam assim. Os bloqueios, fugas e traumas eram maneiras de abreviar a história, de fazer valer o pouco antes que o resto estragasse tudo.
De repente ele apareceu e mexeu com suas convicções e planos traçados. E a tortura de ver a ficção se tornar realidade a deixou confusa. Não deveria ser desse modo. Quando finalmente o encontrou, percebeu que preferia o irreal, porque assim dava chances aos errados, enquanto o aguardava. Mas agora tudo havia mudado. Com ele ao seu lado, os errados eram só errados, e as aventuras de sua vida já não faziam mais sentido. O tédio de ter algo que desejou a matava aos poucos. A incessante busca acabou. E agora?
Alguns diziam que bastava ser feliz e aproveitar os tempos bons. Mas não lhe entregaram o manual do perfeito viver. Em sua vida desequilibrada, felicidade não fazia parte do roteiro. E foi procurando acertar os passos, que arruinou tudo. Sua insegurança o abalou, sua falta de perspectiva o fez acreditar que nada era recíproco e, antes que ela pudesse fazer algo, foi ele quem deu o próximo passo e fechou a porta.
De um modo ou de outro, a inconsciente auto-sabotagem havia funcionado novamente.
E com você achei o que procurava. O porto do qual ouvia falar, mas nunca havia achado o caminho; a mão pra me guiar quando não soubesse por onde seguir; lábios para tornar salgado se as lágrimas ousassem cair. Estúpido da minha parte acreditar que tais lágrimas não seriam por você, e que as mãos que precisei, me afastariam do nosso caminho. As ruínas do porto continuam demarcando seu território inexistente em meu peito.
Ass. não mais sua
Postado por De Lancret às 23:46 0 comentários
Marcadores: Talita Galli
Ele fugia sem saber direito o motivo. Era como um instinto puro. Mesmo quando prometia fazer o contrário já era tarde demais. Desviara o olhar de um conhecido ou se escondia entre um livro.
Evitava as pessoas. Não acreditava que podia ser alguém agradável. Era sempre meio ríspido e quando seu instinto falhava, acabava sendo constrangedor para todos. Gostava de pensar que estava até fazendo uma boa ação, poupando as pessoas de sua companhia.
A solidão era uma opção, não era timidez como alguns gostavam de chamar. Algumas pessoas tentavam incluí-lo em conversas forçadas e em reuniões, como quem faz um ato de caridade ao convidar o esquisito para seu meio. Ele nunca aceitava esses convites e os poucos que aceitou levou consigo um silêncio que incomodava quem estivesse ao redor.
A mãe disse-lhe um dia que ele era como um lobo fora da matilha. Arredio, recluso, que por vez ou outra até podia ser bonito, mas ninguém nunca confiaria nele, a solidão era sinal do temperamento difícil, típico daqueles que morreriam sozinho.
Quando se dispunha a interagir tornava-se o lobo que sua mãe previra. Na tentativa de ajudar, mostrava os dentes e feria as pessoas, então percebeu que só era possível coexistir quando ele se calava e assim fez.
Nunca entendeu porque as pessoas insistiam em se multiplicar, com a desculpa de ter para quem deixar um legado. Acreditava que ter um filho era uma tentativa desesperada de ser criador, talvez um deus, mas que deus faria um ser com tantas anomalias e até capaz de deixar existir um homem com essência de lobo? Não existia o divino ali.
Para que uma matilha quando se pode ser sozinho? Para que uma sociedade quando você pode ser seu mundo? Foi meio homem, meio lobo. Morreu inteiro e sozinho e não deixou legado de sua existência lupina.
* Hermann Hesse, O lobo da Estepe.
Postado por Milla às 23:32 2 comentários
Marcadores: Milla Pupo
Aquele holofote da última esquina iluminou o outro lado da rua e te deixou no escuro. Melhor aproveitar pra não ser visto e só ficar de olho na ratazana exibicionista que toma o seu palco nesta noite.
Sem a vontade de tomar partidos e curtindo a apatia de quem está convicto e seguro, o gato espera o melhor momento para atacar sua presa. Visualiza de longe e, despreocupado, cria uma estratégia simples. Parece que a situação não demanda muito cuidado, está tudo a mão e o rato nem imagina que há alguém mal intencionado prestando atenção em cada passo que ele dá.
Os animais estão quase sempre pateticamente desprotegidos dos perigos que já conhecem. Eles sabem o que pode acontecer em cada situação a que se expõem, mas mesmo assim o fazem por achar que vale tentar a sorte. Uma armadilha ou qualquer descuido já devolvem esse mortal pro seu estado de neurose e zelo ostensivo.
A ratazana continua seu curso notando os olhos que a seguem. A falta de iluminação pode ter motivado o gato a calcular seu ataque negligenciando a capacidade de defesa do outro, principalmente pelas condições adversas em que ele se encontrava. Bicho esperto, trapaceiro, covarde. Já foi descoberto, mas ainda se finge oculto.
O plano não teve razões para ser abortado, mas por algum motivo ele não avança. Não é medo, é só alguma insegurança de se aproximar e ver que a agressão não compensa. Para o outro lado que pressente a desistência é um tanto mais desmotivador por não valer a tentativa.
À ratazana só resta atiçar como justificativa para sua vigília.
Postado por Ana às 23:10 0 comentários
Marcadores: Ana
Eu deixo tudo como está. E repouso minha cabeça no leito das preocupações inexistentes. Não que a fé tenha me abandonado em dias tão insossos, mas o efeito "estar doente" tira algumas sensações que a vida traria sem a ajuda de qualquer outro artifício químico.
Então, as coisas apenas acontecem. E eu, além de me deixar levar, deixo também minha crítica e lucidez largadas em qualquer esquina, pra me agarrar a liberdade de viver a vida sem maiores interesses no que a impede de ser leve. E é em qualquer caminho de volta pra casa que encontro a importância de redescobrir certas coisas. Simples.
Um tanto mais, depois de passar dias sem saber distinguir os cheiros. Um tanto mais de toda certeza, quando tudo o que me afasta de tudo, traz o fim da falta de ar junto ao seu nome. A ausência de cada sorriso que costuma preencher meus dias torna o "tudo" tão mais doloroso. Torna os superlativos mais intensos. Dramáticos.
Até que as horas alcançam o auge do que faz o coração viver em desespero. E o sábado consegue solucionar todos os problemas quando seu olhar cruza a luz do sol. Uma mesa, depois de um filme ruim, com toda a diferença presente nos copos e a cumplicidade nos pensamentos e abraços.
Então, eu deixo tudo como está. Porque é inevitável não perceber que com você meus motivos pra viver acontecem. Na pele, no olhar, no abraço e no carinho escondido debaixo de um cobertor, eu encontro a simplicidade. E com os olhos fixados no teto, eu abro um largo sorriso. Simples. Assim. Eu deixo tudo como está.
Postado por Bruno às 21:36 1 comentários
Marcadores: Bruno
Postado por Yuri Kiddo às 21:21 1 comentários
Marcadores: • YuЯi KiddO •
Fechou os olhos naquela que seria a última despedida; se ir era difícil, ficar era impossível. Os sentimentos dela confusos pelos receios dele, pelos olhos do outro, pelas mãos de mais alguém. Ela sentindo nada naquele último beijo. Era tudo que precisava para ir. Com os olhos ainda fechados disse "foi bom, adeus".
Sabia que o veria logo, mas que se nada daquilo a tocava naquela poesia, sem ela, não importaria. Era só o capricho dos adultos aparecendo na sua adolescência sem fim, aquela na qual sempre tudo é certo ou errado, era errado ir e pior ficar. Preferia o erro da liberdade e das possibilidades infinitas de dias diferentes. Preferia o novo começo que encontraria quando resolvesse aceitar o outro. Seria dele, sabia desde o começo, não adiantava correr, acabaria tirando as velhas cartas do armário junto com um cachecol para protegê-la do frio, até o braço dele o tirar devagar para com suas mãos a proteger do vento. Então, começariam a protagonizar tudo que criaram juntos.
O último beijo e a última despedida, mesmo que ele dissesse tudo que sempre quis ouvir, não adiantaria. Nada adiantaria. Seus olhos, ouvidos, mãos e o futuro já estavam em outro apartamento.
Caminhou sozinha pelas ruas, sem as ruas, porque tudo parecia só figuração, uma última dificuldade, até ele. Tocou a campainha. Ele demorou a atender e ela já não tinha o que dizer. Ele sabia que ela estava com outro. Sabia de tudo, sabia e era o melhor amigo com os anseios de um amante. Mas não seria dela enquanto tivesse mais um. Não era capaz de jogar esse jogo, não conseguiria e muito menos aceitaria brincar disso. Ela adiava a escolha, até que o outro resolveu ser poesia, e ela notar que só importavam as palavras do seu amante imaginário.
Olhou para ele ainda sonolento, parado à porta, ele preocupado pelo avançar da hora a envolveu em abraço de proteção, como todos eram e ela nunca tinha notado. Perguntou o que aconteceu, e a poesia saiu de seus lábios:
"To lead a better life,
I need my love to be here.
Here, making each day of the year
Changing my life with a wave of his hand..."*
Ele sorriu reconhecendo o valor da música e da vida para ela. Reconheceu em seus olhos o amor esquecido em um tempo de dúvidas. Em silêncio a calou com um beijo, o melhor beijo, com a vontade de quem muito esperou por ele e o carinho da paciência.
*bitôus
Postado por Suellen Santana às 15:15 0 comentários
Marcadores: Suellen