Fechou os olhos naquela que seria a última despedida; se ir era difícil, ficar era impossível. Os sentimentos dela confusos pelos receios dele, pelos olhos do outro, pelas mãos de mais alguém. Ela sentindo nada naquele último beijo. Era tudo que precisava para ir. Com os olhos ainda fechados disse "foi bom, adeus".
Sabia que o veria logo, mas que se nada daquilo a tocava naquela poesia, sem ela, não importaria. Era só o capricho dos adultos aparecendo na sua adolescência sem fim, aquela na qual sempre tudo é certo ou errado, era errado ir e pior ficar. Preferia o erro da liberdade e das possibilidades infinitas de dias diferentes. Preferia o novo começo que encontraria quando resolvesse aceitar o outro. Seria dele, sabia desde o começo, não adiantava correr, acabaria tirando as velhas cartas do armário junto com um cachecol para protegê-la do frio, até o braço dele o tirar devagar para com suas mãos a proteger do vento. Então, começariam a protagonizar tudo que criaram juntos.
O último beijo e a última despedida, mesmo que ele dissesse tudo que sempre quis ouvir, não adiantaria. Nada adiantaria. Seus olhos, ouvidos, mãos e o futuro já estavam em outro apartamento.
Caminhou sozinha pelas ruas, sem as ruas, porque tudo parecia só figuração, uma última dificuldade, até ele. Tocou a campainha. Ele demorou a atender e ela já não tinha o que dizer. Ele sabia que ela estava com outro. Sabia de tudo, sabia e era o melhor amigo com os anseios de um amante. Mas não seria dela enquanto tivesse mais um. Não era capaz de jogar esse jogo, não conseguiria e muito menos aceitaria brincar disso. Ela adiava a escolha, até que o outro resolveu ser poesia, e ela notar que só importavam as palavras do seu amante imaginário.
Olhou para ele ainda sonolento, parado à porta, ele preocupado pelo avançar da hora a envolveu em abraço de proteção, como todos eram e ela nunca tinha notado. Perguntou o que aconteceu, e a poesia saiu de seus lábios:
"To lead a better life,
I need my love to be here.
Here, making each day of the year
Changing my life with a wave of his hand..."*
Ele sorriu reconhecendo o valor da música e da vida para ela. Reconheceu em seus olhos o amor esquecido em um tempo de dúvidas. Em silêncio a calou com um beijo, o melhor beijo, com a vontade de quem muito esperou por ele e o carinho da paciência.
*bitôus
domingo, 18 de maio de 2008
There
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