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domingo, 10 de agosto de 2008

dúvidas

Sentei-me à escrivaninha com a certeza em mente. Há tempos não usava aquela cadeira, esquecida no canto do quarto, servindo de cabideiro. Com papel e caneta na mão me perguntava por onde começar. Talvez o passado fosse um bom tempo para se relembrar, talvez o conflituoso presente precisasse ser explicado, ou ainda talvez fosse melhor te contar sobre a calmaria do meu esperado futuro. Mas quanto a esta última conjugação temporal eu tinha minhas dúvidas, e o simples ato de me sentar à mesa com este propósito representava a solidão em que me via. A falta de contato dos anos te transformou em um estranho. O endereço estava confirmado, o nome do remetente sempre fora conhecido, mas a coragem de te encarar novamente, mesmo que por uma simples carta, me fazia estremecer. As mãos deslizavam pelo rosto, os pés batucavam no chão e as pernas inquietas demonstravam toda minha impaciência. Você sempre me deu medo. Suas ações frente às minhas, tua reprovação, meus atos incertos.


Você nunca me aceitou.


Talvez nestes exatos 28 minutos eu tenha percebido que uma carta não faria diferença no transcorrer de nossas vidas. Talvez nestes tantos 2 anos eu tenha esquecido o quanto você me fez sofrer e que te reencontrar, nem que seja por palavras, não vale a pena. Talvez somente neste segundo eu tenha entendido que não existem acasos e milagres na história de um amor acabado. E, dessa forma, talvez esse seja só o resultado da reflexão sobre uma carta inexistente.


* tangled hair and dragonflies by ~noINKling

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