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segunda-feira, 7 de abril de 2008

Café com ela

Escute só, minha querida. Talvez tenha sido seus pulsos, sua forma como me passava o bilhete. Era uma viagem, mãos em mãos até a sua me entregar. Até seu toque chegar até mim, até nós dois nos resumirmos nessa mesa agora, com a única distância dos meus desabafos.

***

Nem todas as palavras servem para eu me expressar com clareza. Nem tudo o que eu boto nessa roda, é para ser claro. Nem as palavras. Tão pouco as palavras. Eu sei que aqui, eu consigo dividir tanta coisa, tão mais que qualquer melodia, tão mais que uma soma com resultado singular. Traga sua mão até aqui. Traga, ponha-a aqui no meu peito, eu deixo você sentir. É mais que sangue correndo, talvez mais que qualquer vida pulsando. É um jardim onde eu deixo você cuidar como quiser.

quem me olha assim, com certo desprezo, duvida de que possa ser assim. duvida da minha vontade de te colocar no papel em traços mais longos e delineados que qualquer obra. e eu deixo minha empolgação transgredir qualquer barreira. eu sublinho todas aqueles versos e te entrego, eu risco minha pele com agulha e tinta. eu deixo tudo claro, se é assim que você quer.

Cortando as ruas, todos os dias, eu já nem sei quantos passos moram nos mesmos caminhos. Já nem sei quantos passos moram na minha mania em calcular distâncias. Multiplico tudo por xis e jogo minhas apostas em qualquer fórmula absurda que seja capaz de achar uma equação cabível aqui. Uma equação que traduza nosso diálogo. Mas eu me canso. Me canso de tentar arrancar conforto de lugares inóspitos. Acabo por vomitar o que ficou entalado. Patético.

Deixa eu ver seu pulso. Eu só quero apertá-lo. Fazer você sentir como as coisas funcionam aqui. Ou talvez te mostrar como minha cabeça não funciona mais quando se têm pouco tempo pra tanta coisa. É ruim. Tá ruim. Mas acaba aqui. Eu chamo o garçom, deixa que eu pago a conta. Eu atravesso as mesas e te largo refletida no fundo da minha xícara, diluída com o resto do café. Porque o papo acabou e eu não sei mais te convencer da minha mudança, minha querida. Eu, apenas, não sei mais... querida inteligência.