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segunda-feira, 7 de abril de 2008

Relapsos no Km 1


Alguém disse que a chuva torrencial traria mudanças.
Ela veio e as coisas parecem não ter variado desde então, ou desde um tanto antes. Em qualquer lugar tudo permanece imutável e ninguém contesta a umidade que deixou mau cheiro nas roupas testemunhas. Ainda que a hipocrisia se arraste dolorosamente nos próximos dias, um encontro com o odor na nossa lavanderia já trará à tona o que parece ter sido deixado pra lá.

Parecia mesmo um pensamento inútil e por isso foi relevado. Agora acomodado e prestando mais atenção à chuva, que só molha o ambiente externo, é impossível ignorar a consternação. Não acredito que o cheiro da roupa úmida esteja só aqui. Aprimore seu olfato e ele, por si só, te questionará quanto tempo ainda falta para que tudo se arranje. É uma dúvida oprimida enquanto ainda chove, mas olhe pela janela e veja que essa garoa derradeira não está acompanhada de nenhuma revolução. Você nem sabe se alguma coisa pode realmente mudar dessa forma tão natural.

É bem fácil não fazer nada e seguir sempre a mesma trilha com desinteresse. Quero te contar sobre as outras direções antes que você decida desistir e voltar desse caminho que leva a lugar nenhum. Pode segurar a minha mão se você não souber para onde está indo. Só continue buscando uma passagem para que a transformação aconteça de outra maneira, porque a chuva já está passando e nada do que ocorreu antes dela foi diluído. Os erros não se desintegraram com ela e um vento pode empurrá-los para o próximo quilômetro.

Seria melhor não olhar para trás e encontrar alguma serenidade que fizesse os passos fluírem como chuva em plano horizontal. Então sinta esse cheiro e me explique por que as coisas ainda estão assim, a esmo, antes da primeira curva.






*Referência clara e descarada a Desperation, do Steppenwolf