Olhava e tentava achar uma ligação, um elo qualquer que conferisse lógica ao que via.
As mãos geladas e os pensamentos desencontrados, o telefone toca, mas não era nada importante, nada que a fizesse sair de si.
Impaciente mexe nos cabelos, olhas suas unhas feitas e pensa como seria não respirar, deixar de ser.
Parada na frente do computador ela conta 1, 2, 3 e mergulha. Uma tentativa de experimentar a ausência do ar nos pulmões e de tudo aquilo que não quer mais. Após 60 segundos o coração acelera, a visão embaralha as letras e numa explosão volta a existir. Abre os olhos e está tudo igual, nada mudou.
Teve sono, mas não dormiu, teve fome, mas não comeu, não quis respirar, mas respirou.
Sempre fazia o oposto do que queria e justamente naquele momento em que queria desistir de tudo, de todos e de si fez o contrário.
Acreditou em si mesma, confiou e foi sincera com os amigos e gostou de tudo o que tinha até então.
No dia seguinte acordou e por instinto odiou sua condição e aquela sensação, mas como todo viciado em reabilitação pensou “Ok um dia por vez” e se levantou, escovou os dentes e tratou de sorrir, dificilmente quebrava promessas.
Estava bem, estava feliz e sorria com sinceridade, mas como qualquer adicto sabia que não há transformação plena sem recaída.
Temia porque o fruto do vício sempre estava nela, estava trancado, mas podia ser solto, pois era preso por engrenagens que ela mesma controlava.
Mas estava indo bem e não tivera nenhum ataque de abstinência.
Sua droga?O pessimismo. Que de tão pessimista que era, acreditava que nunca mais escaparia da jaula da sua dona.
E ela?Ah estava bem e tão otimista que até podia pensar em soltar seu pessimismo, nem que fosse para um passeio e para ajudar a escrever uns textinhos aqui e ali.
3 comentários:
Sendo assim, eu acho que o pessimismo pode sim te ajudar.
Fora disso, só te atrapalharia!
Te amo!
Adorei o texto!
Bjs!
Toad
Pessimismo ou realismo?
As vezes dizem que sou pessimista, retruco com realista. "Mas que realismo cruel". A vida é cruel.
"Teve sono, mas não dormiu, teve fome, mas não comeu, não quis respirar, mas respirou.
Sempre fazia o oposto do que queria e justamente naquele momento em que queria desistir de tudo, de todos e de si fez o contrário."
(Y)
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