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segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Dois e oitenta

O coração começa a acelerar um pouco antes de entrar na farmácia.
Mas ora, que bobagem, é absolutamente normal, e antes assim que de outra maneira.
Finalmente meus pés tocam o lustroso chão, é uma farmácia muito bonita e grande. Analiso o número de pessoas no caixa e desejo que todos vão embora antes mesmo de eu entrar na fila.

Vou para o corredor onde elas estão enfileiradas, lubrificadas, separadas por marcas e tamanhos. Mais uma olhadela para o corredor, mais uma disfarçada olhando os desodorantes que estão na prateleira da frente, mais umidade nas mãos e gotas novas de suor na testa.
Pronto, já estão em mãos!, pensei. Mesmo que na ansiedade de apanhar alguma acabo por pegar qualquer uma, não importa, estão em mãos. Em minhas suadas mãos.
O caixa está com uma fila de três pessoas, um casal parece ter reservado um exclusivamente para eles, a fila anda aos poucos, tento segurar o pacote e o amasso na pretensão de escondê-lo ao máximo.
Tudo bem, é absolutamente normal. Pelo menos insisto em manter isto em mente.
No caixa, o funcionário aproxima o código de barras da etiqueta quase desintegrada pelo suor e a máquina lê o produto. A palavra “preservativo” aparece bem grande na tela virada para o cliente, tento disfarçar e entrar na frente. Entrego-lhe o dinheiro com as mãos um pouco trêmulas e recebo imediatamente uma sacolinha e o troco.
Saio com a cabeça um pouco erguida (fazendo um certo esforço), a face avermelhada e os olhos e ouvidos atentos a qualquer tipo de zombação.

Mas e aí, tudo bem, é perfeitamente normal. Uma pessoa que acha graça nisto não deve ser tão madura, ainda mais em uma cidade como esta. É apenas difícil de entender como algo “normal” pode ser tão constrangedor. Aliás, um constrangimento barato, de dois reais e oitenta.

8 comentários:

Ana disse...

esse eu já conhecia.
acho uma graça!

beijo

Lígia Ruy disse...

hahaha... texto ótimo Bruno!
Certeza que muitas pessoas passaram por isso mesmo sendo "normal".

beijos

De Lancret disse...

Ah, eu já disse e repito, adoro esse texto!

Tem todos aqueles detalhes que, na minha opnião, deixam um texto beeem bonito! =]

Lindo, lindo bru!
=***

Yuri Kiddo disse...

as vergonhas do ser-humano. Vai entender...

ligiazm disse...

eu colecionava camisinhas.
certa vez, uma amiga (da época) foi comprar o pacotinho de morango para me dar de presente :)
a caixa da farmácia deu até parabéns pra ela ahahahahaha

devíamos ter uns 13 anos!

Anônimo disse...

As paranóias do ser humano =)
Adorooo seus textos!
Bjo Brunovski

Anônimo disse...

AHUAHAUHAUAHUAHUAUAHA

ÓTEMOOOOO!!!!!!!

ahuehuaheuaheuahuehauhe
isso me traz lembranças... :O

Cristine Bartchewsky Lobato disse...

É nada! o lance é pegar e ainda sair se abanando com a cartela numa boa. Aí você me diz: " Ah tá Cris, até parece que alguém faz isso!"

Pois é, tem doido pra tudo...

E com certeza eu me enquadro nessa "loucura".

Vergonha de quê? De mostrar que é responsável e procura se proteger?
Ou de sair esfregando na cara de todos que em instantes será mais feliz?

Well, de qualquer maneira, o texto sempre fica bom! Ficção ou não.


Besitos muchacho!
=]