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quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Penúltima cena

E derrepente ele a estava beijando. E dentre tantas opções de adjetivos, a única em que ela pensou foi assustador. Só conseguia lembrar de quando tinham 14 anos e sentavam juntos na calçada esperando a primeira estrela piscar no céu.

- posso ir embora?
- não.
- e agora?
- ainda não. Olha, olha, olha, ali. Faz um pedido.
- pronto, posso ir agora?

Foi com ele que passou sua infância e, quando a adolescência chegou, ele se transformou em seu maior ouvinte. Ela tinha contado sobre seu primeiro beijo, sua primeira vez, sobre todos seus namorados, e inclusive sobre seu atual, com quem fazia planos de casar. Tinha 24, estava formada e o amava, foi o que ela disse quando ele discordou de seu futuro.

Mas durante as frações de segundo daquele beijo percebeu que por mais que tentasse lutar contra suas vontades, não conseguiria vencê-las. Parecia que a vida toda tivesse esperado por esse tanto de alegria que fizesse seu coração transbordar. Ela tentou, mas nada preenchia esse espaço.

- Por que você fez isso?!
- ...
- Me diz, por quê?! Por que agora?!

Ela se virou, e encostou a cabeça na parede. Enquanto ele se desesperava com a falta de palavras, ouviu-a rir. Era como se doesse tanto que chorar não fosse possível, ela ria. E continuou:

- Você não percebe?! Acabou de arrancar toda minha segurança e destruir meus planos. Por que agora?
- Eu tentei pensar em todas as maneiras de te dizer isso. Essa foi a única em que não precisava usar palavras e estragar tudo. Me desculpa, mas é você. É tarde, mas é você.

Segurou seu rosto, tentando fazê-la olhar, ou talvez ver seus olhos para entender o que ela sentia. Mas não era alegria. Ela chorava, e foi com a voz falhando que disse:

- Eu esperava estrelas piscar querendo ouvir isso. Eu fingia não vê-las enquanto o tinha comigo. Você me fez desperdiçar anos partindo meu coração e aprendendo lições inúteis sobre como não amar. Enquanto te procurava em outros caras precisei aprender a não tê-lo. E agora... agora!

Não conseguia completar a frase. A agonia de lembrar do passado, quando pensava em seu futuro sem ele presente, continuava sendo assustadora. Mas agora existia uma chance. Agora poderia ser diferente. Talvez agora.

- Eu só queria que uma estrela piscasse...

Não era preciso dizer duas vezes, esse foi sempre o sinal, ele se virou para ir embora.

- ... pra que eu pudesse desejar um segundo beijo. Acaba com minha agonia.

Um beijo.

5 comentários:

Lígia Ruy disse...

Lindo Tá....

e eu estou adorando essa sua forma de escrever que eu não conhecia. Seus dois últimos textos fugiram do se escrever "normal" (que é muito bom) e mesmo assim vc se saiu muito bem mocinha!

beijos

Yuri Kiddo disse...

PUTA QUE PARIU!!!!

puta que pariu de novo Branca!!
que final mew!!! que final inusitado, apertado, quase todo fudido... mas não!!! É você, e você o salva!! puta que pariu de novo!!!

mew... desculpa os palavrões, mas ficou do caralho!!!





e foda-se! ahAHuahUAhu

ligiazm disse...

geeeeeente. que lindo *.*
mas eu ainda acredito que essas coisas não ocorram na vida real! :P

Acacia disse...

Sin palabras...

Lindo^^!
=**

Toad - Matheus H. disse...

Um beijo pra salvar a vida. Depois outro para cultivá-la.
Um beijo pra se acordar.
Outro pra embreagar.
E nos olhos, as estrelas!

Lindo!!