E derrepente ele a estava beijando. E dentre tantas opções de adjetivos, a única em que ela pensou foi assustador. Só conseguia lembrar de quando tinham 14 anos e sentavam juntos na calçada esperando a primeira estrela piscar no céu.
- posso ir embora?
- não.
- e agora?
- ainda não. Olha, olha, olha, ali. Faz um pedido.
- pronto, posso ir agora?
Foi com ele que passou sua infância e, quando a adolescência chegou, ele se transformou em seu maior ouvinte. Ela tinha contado sobre seu primeiro beijo, sua primeira vez, sobre todos seus namorados, e inclusive sobre seu atual, com quem fazia planos de casar. Tinha 24, estava formada e o amava, foi o que ela disse quando ele discordou de seu futuro.
Mas durante as frações de segundo daquele beijo percebeu que por mais que tentasse lutar contra suas vontades, não conseguiria vencê-las. Parecia que a vida toda tivesse esperado por esse tanto de alegria que fizesse seu coração transbordar. Ela tentou, mas nada preenchia esse espaço.
- Por que você fez isso?!
- ...
- Me diz, por quê?! Por que agora?!
Ela se virou, e encostou a cabeça na parede. Enquanto ele se desesperava com a falta de palavras, ouviu-a rir. Era como se doesse tanto que chorar não fosse possível, ela ria. E continuou:
- Você não percebe?! Acabou de arrancar toda minha segurança e destruir meus planos. Por que agora?
- Eu tentei pensar em todas as maneiras de te dizer isso. Essa foi a única em que não precisava usar palavras e estragar tudo. Me desculpa, mas é você. É tarde, mas é você.
Segurou seu rosto, tentando fazê-la olhar, ou talvez ver seus olhos para entender o que ela sentia. Mas não era alegria. Ela chorava, e foi com a voz falhando que disse:
- Eu esperava estrelas piscar querendo ouvir isso. Eu fingia não vê-las enquanto o tinha comigo. Você me fez desperdiçar anos partindo meu coração e aprendendo lições inúteis sobre como não amar. Enquanto te procurava em outros caras precisei aprender a não tê-lo. E agora... agora!
Não conseguia completar a frase. A agonia de lembrar do passado, quando pensava em seu futuro sem ele presente, continuava sendo assustadora. Mas agora existia uma chance. Agora poderia ser diferente. Talvez agora.
- Eu só queria que uma estrela piscasse...
Não era preciso dizer duas vezes, esse foi sempre o sinal, ele se virou para ir embora.
- ... pra que eu pudesse desejar um segundo beijo. Acaba com minha agonia.
Um beijo.
quarta-feira, 12 de setembro de 2007
Penúltima cena
Postado por De Lancret às 22:07
Marcadores: Talita Galli
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5 comentários:
Lindo Tá....
e eu estou adorando essa sua forma de escrever que eu não conhecia. Seus dois últimos textos fugiram do se escrever "normal" (que é muito bom) e mesmo assim vc se saiu muito bem mocinha!
beijos
PUTA QUE PARIU!!!!
puta que pariu de novo Branca!!
que final mew!!! que final inusitado, apertado, quase todo fudido... mas não!!! É você, e você o salva!! puta que pariu de novo!!!
mew... desculpa os palavrões, mas ficou do caralho!!!
e foda-se! ahAHuahUAhu
geeeeeente. que lindo *.*
mas eu ainda acredito que essas coisas não ocorram na vida real! :P
Sin palabras...
Lindo^^!
=**
Um beijo pra salvar a vida. Depois outro para cultivá-la.
Um beijo pra se acordar.
Outro pra embreagar.
E nos olhos, as estrelas!
Lindo!!
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