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segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Lacrado

04:23. As coisas são sempre assim. Basta ouvir aquela música que combina com tudo o que eu sou agora, às 04:23, pra desembestar a ansiedade que circula por todas as partes desse amontoado de carne e osso que eu virei na madrugada.

Abro tudo o que esse amigo de placas e sistemas me permite pra socializar com os amigos que a vida trouxe, virtualmente ou não. O "sempre" sempre volta, ninguém compartilha a insônia comigo. Acordar alheios seria trabalhoso demais, confesso que agarraria qualquer adicionado em alguma dessas tecnologias. Inúteis no momento, diga-se de passagem. Me refiro às tecnologias, digo para esclarecer.

Aqui tá tudo muito pequeno. A janela é passagem ilusória em que eu tenho vontade de me atirar e engolir tudo lá fora. Mas não. Surrealismo na hora errada. Hábito adotado momentâneamente pelo nervosismo da busca por palavras sólidas que reconstruam o solo perdido. Ou seja, dor na ponta dos dedos, unhas roídas. Patético.

O tremor dos olhos investigam cada canto do cômodo. Muito barulho. Os ouvidos quase pedem arrego a tanta subversão de sons. Bebo tudo o que tenho, pena não ter o que preciso pra suprir a inquietação. Os ícones piscam, parecem ser a única coisa "viva" a me fazer companhia. Queria um quarto selado.

O estalo ajuda a pungente dor na nuca trazer alívio. Efêmero. A postura é sempre citada nas conversas. Bendita. O sono desregrado também é tópico preferido. Desprezível. O vento invasor causa arrepio na espinha. Apreensão. O som alto acarreta na perda de audição. O quê?! Ganha-se a timidez.

Conforme a síndrome autoritária dos ponteiros revive o paradoxo do tudo mais distante e próximo, o arquejo dura mais que o esperado e a persistência em dividir o momento com alguém morre aos poucos, dentes escolhem outro alvo. Possuo uma compilação de tampas de caneta. Olhar ao céu. Agora mais claro. Saudade mais ampla que toda essa extensão.

Engasgo. Desistir é opção válida. O botão que tudo apaga cumpre sua função e o grito aqui perde a força. Já deitado, eu só espero me livrar de todo o barulho insistente. Muito barulho. Mesmo sabendo que dentro do quarto, nem mesmo um sussurro tenha se pronunciado.

3 comentários:

Milla disse...

Gostei muito.
Causa uma sensação de sufoco e solidão com vontade de fugir.

"Os ícones piscam, parecem ser a única coisa "viva" a me fazer companhia" que já não passou por isso né?

Beijo

De Lancret disse...

me coloca no top 5 dos seus 357 fãs?!

só você consegue ter esse estilo tão marcante. palavras, frases, tudo tão único!

de verdade viu! =)

=*

Yuri Kiddo disse...

A impressão é de um cobertor cobrindo a cabeça. No começo, esquenta. Depois sufoca.