Ninguém precisaria queimar sutiãs na década de 60, indignado com as coerentes colocações de O Segundo Sexo¹, para se contextualizar no mundo em que a beleza feminina parece ser o seu único atributo relevante. O problema é mais atual do que nunca.
Ser mulher e ter opinião formada talvez só combine bem com uma loira maravilhosa de biquíni lendo uma revista qualquer, porque a perfeição e a sensualidade devem ser inerentes a ela muito mais que a inteligência ou o potencial. Tentar reorganizar a ordem destes fatores pode resultar em uma pessoa desinteressante e masculinizada.
O conhecimento é um diferencial cabível para algumas, mas a voluptuosidade é obrigatória para todas. Ser bonita é atividade para tempo integral e quantas mulheres não se rendem a isso? Ter uma estética atraente passa a ser a prioridade daquelas que esquecem que têm algum recurso no próprio intelecto.
A satisfação do homem contemporâneo, que para muitos é simplificada pelo conjunto ‘mulher bonita, cerveja e futebol’, estende essa concepção de acefalia a que todo gênero feminino ainda está subjugado. Um mero bibelô sexual completando as tardes vazias de domingo e que, muitas vezes, acata essa função de mediocridade.
Nenhuma mulher precisa estar bonita o tempo todo para os olhos de quem espera ver um mundo enfeitado. Nenhuma mulher precisa se contentar com adjetivos superficiais que remetem a sua aparência. Nenhuma mulher é só isso, e nenhuma deveria querer ser só isso.
Seios grandes são incapazes de reduzir a atividade cerebral. A feminilidade não é estética e as mulheres podem ser tão horrorosas quanto se permitirem. Mas imbecis e fúteis, não.
¹ O livro de Simone Beauvoir afirma que a desigualdade entre os sexos tem origem na construção social e não é biológica, como era alegado em meados de 1945. Foi uma das obras que impulsionaram o movimento feminista da década de 60, quase dez anos após sua publicação.
domingo, 4 de maio de 2008
Batom borrado
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