Vinham à memória os filmes adolescentes, recorrentes na sessão da tarde, nos quais o relacionamento sexual dos protagonistas sempre envolvia um vínculo amoroso. Deitada, a mulher sorria imaginando viver esse papel enquanto um estranho a invadia. Ela não o amava e nem mesmo o conhecia; quanto a ele, sabia que só a silhueta feminina e curvilínea já era reconhecida antes do contato impetuoso. Nome, ocupação ou qualquer dado igualmente superficial eram desnecessários para o personagem másculo desta história.
O pesar no dilaceramento das expectativas da mulher nada tinha de religioso ou puritano, sendo somente uma questão de ter a fragilidade escancarada para atormentar o seu orgulho. Mostrar-se sempre confiante não foi o suficiente para impedir a corrupção de seus ideais, uma vez que o sexo também parte de princípios particulares. Agora havia alguém que a adentrava sem o seu consentimento e causava repulsa, insegurança e medo, variáveis de acordo com os movimentos dos corpos ali jogados.
“Let me put my love into you, babe
Let me cut your cake with my knife”
O sexo se configurava como uma guerra de predominância dos temperamentos, alternando do prazer ao desespero. Os gritos e gemidos das duas partes compunham uma melodia confusa e ofuscavam qualquer outro sentimento pacato que pudessem ter. A energia se esvaia e derramava ácida em um ambiente inóspito, o qual abandonava seu caráter restrito e evidenciava-se à mercê da necessidade e força alheia.
* Título e trecho de Let me put my Love into you, do AC/DC
domingo, 24 de agosto de 2008
Como uma febre
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