Cheguei em Paris no dia 26 de dezembro, enquanto famílias passeavam pela Champs Élysées, lá estava eu, sozinha. E foi assim sozinha que eu ficava sentada horas e horas em bancos que encontrava pelo caminho, observando as pessoas. Não há nada mais legal do que rir da mulher de casaco de pele tropeçando na calçada, do crepe de chocolate caindo da mão da criança (aquele berreiro) e do monte de turistas fazendo poses, batendo fotos e pulando de ponto em ponto, cumprindo a via sacra turística.
Naquela tal noite da Smirnoff fui para o quarto. Comi, não bebi (alguem pensou em trazer um abridor de garrafas para Paris? Eu não. A smirnoff serviu de café-da-manha do dia seguinte), e fiquei frustrada no quarto. Queria sentir a cidade, mas andar sozinha de madrugada pelas ruas estava fora de cogitação. Era meia-noite quando eu estava no metro pronta para voltar pro hotel após mais um dia de caminhada solitária, e então eles surgiram. Dois garotos falando português passaram por mim. Seria só mais dois brasileiros que tiveram a brilhante idéia de passar o reveillon em Paris. Não liguei, continuei e sentei para esperar o metro. Eles voltaram, tinham errado o caminho, e sentaram do meu lado. Daí já é demais né, não agüentei: Oi! Ficaram receosos é claro, brasileiro não é bicho muito confiável. Mas acho que afinal foram com minha cara. Graças a esses dois anjinhos que me apareceram pude rodar Paris pela madrugada toda. Tudo é mais lindo a noite, o nome cidade-luz poderia valer pela iluminação também. No dia seguinte nos encontramos, e rodamos Paris a luz do dia. Foi triste me despedir, mas alguns dias depois me encontraria com um deles em Berlim. Ele decidiu colocá-la na rota do mochilão, já que iria com uma intérprete.
Em um desses dias perdida e desacompanhada, sai para andar com os dois chineses do Hotel, que foram incumbidos de tirar minhas fotos. De pé, sentada, fazendo pose, parada. E a cada foto eles davam aquele sorrisinho típico e diziam: “ri ri ri, foto-fan, foto-fan!” Não dava pra deixar de rir. Eles só me abandonaram quando disse que iria na roda-gigante, estavam mais interessados nas lojas de carros. Entrei na fila, e logo na minha vez me avisaram: “Ô Branca-de-Neve, não pode ir sozinha não. Vou te arranjar uma família”. E eu ganhei uma família na roda-gigante, uma senhora alemã, sua filha e neta, que me mostraram tudo lá de cima, enquanto o controlador gritava lá de baixo: “Tá gostando Branca-de-Neve?”!
Ahan, gostei. Bastante. No último dia me despedi no cemitério, visitando Allan Kardec, Jim Morrison e Sartre. E voltei para “casa”, pronta pra trocar fraldas e dar mamadeiras.
Em alguns dias viajaria para Berlim. Mas essa é outra história, não tão feliz assim. Porque pra mim, Berlim sempre será uma cidade marcada e triste.
domingo, 12 de agosto de 2007
Paris
Postado por De Lancret às 20:15
Marcadores: Talita Galli
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4 comentários:
Tata vc já está fadada ao sucesso!
Amazona, Branca de Neve next é Jornalista...que demais!
Poxa vida....adoro suas histórias, de verdade quando vc publicar seu livro serei a primeira a comprá-lo.
=]
Tão surreal ganhar um família em uma roda gigante em Paris....ai ai...(suspirando)
Paris... sozinha....
triste.. mas seria mais triste se você ainda continuasse sozinha, menina Talita, não seria?
.
..
...
Não te conheço, e torço para que esse não seja seu caso.
Vida sozinha dói demais.
..
Comentários a parte, seu texto flui como Danete em garganta de criança... Doce, leve, suave e macio, e no final a gente sempre fica achando que foi pouco, mesmo que tenhamos passado a língua e os dedos até tirar última gota do fundo do potinho...
Hey!
Eu quero mais...
.
Dez dias? tá, acho que dá pra esperar...
oiii querida Talitaa!
tá eu confesso! entro no blog e o primeiro texto que procuro é o seu. Claro que o pessoal é demais mais o seu flui sem esforço. É bom de ler.
Não vou nem comentar q suas "aventuras" são dignas de um livro, né!
beijo
um dia eu saio daqui e vou rodar o mundo.
tenho tanta vontade! :(
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