Movimentos retilíneos e constantes são executados de maneira quase imperativa pelas pessoas ao longo de um dia inteiro. Ninguém os convida, nem vê opção para que seja diferente. A dinâmica corporal é um hábito que nada tem a ver com as vontades de quem a permite; muito pelo contrário, ela é tão intrínseca e particular que foge aos regramentos estabelecidos por cada um, garantias da personalidade conduzida.
Os passos são dados de maneira débil, insegura e lenta, os gestos são dispersos, a escrita é regida por outro ritmo independente do que carrega suas idéias e a dança é interna, imperceptível aos olhos de quem julga vê-la. Uma descrição banal como essa sobre a postura dos indivíduos a partir de sua movimentação leva à formação de sua imagem, apesar de todas as singularidades entre um movimento genérico e outro. Como dizer, por exemplo, que a caligrafia é uma extensão da personalidade e a observação de uma frase escrita em letra corrida pode desvendar alguma característica pessoal?
O costume adquirido em anos e alguns fatores mais específicos são desprezados por “analistas” que costumam aparecer com mais freqüência em programas de televisão direcionados a donas de casa, ou revistas cujas pautas são selecionadas pelos próprios leitores. Eles traçam um perfil pelo contato mais superficial e padronizado que puderem ter dentro do limite de cinco minutos. Como em sessões de terapia, a esperança é a de conseguir incluir a pessoa em um determinado grupo para deduzir o modo como deve se lidar com ele.
Algumas das características individuais são atropeladas para possibilitar o encaixe em moldes pré-estabelecidos e eles já existem em diversos departamentos, cada vez mais fragmentados, visando a maciça inserção por algum aspecto em comum. Desde um posicionamento político ao modo como dirige o olhar, as pessoas estão aptas a se incluírem em qualquer grupo que quiserem e, dentro deles, a serem analisadas de maneira uniforme por qualquer um de fora que pensar ser conhecedor de tais especificidades.
Ao apressar o passo, você é posto num patamar de urbanizados, inquietos e compromissados. No entanto, feito o contrário, o relaxo é ressaltado e levado às últimas conseqüências, podendo ser considerado fruto do desinteresse pelos dias que só passam. O meio termo entre estes dois extremos é omitido por não ser denunciador de nada muito interessante, neste caso, o grupo é comum demais para ser levado em conta. Há necessidade de beirar o extravagante, contudo isso não ocorrerá enquanto existirem muitos adeptos do mesmo trejeito.
Diante de tantas ocorrências de “inclusão”, sobra pouco espaço para as curvas daqueles que desvencilham-se do movimento padrão em linha reta. Sento-me na guia desta estrada para acompanhar estes que rasgam os blocos congestionantes, já que, quando são desmembrados, qualquer movimento recupera sua singularidade e ganha novas opções para a trajetória.
segunda-feira, 3 de dezembro de 2007
Curva desreguladora
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Ótimo isso :
"a esperança é a de conseguir incluir a pessoa em um determinado grupo para deduzir o modo como deve se lidar com ele."
Pessoas separadas por modelo, marca, estilo e atitude.
Adorei o texto.
Acho que é um dos que mais gostei!
Fora o título quer ficou ótimo.
Beijo
Postar um comentário