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segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Venus in Furs

Meus olhos fecharam-se e minhas pálpebras já não mais me obedeciam. Caminhava cego pelas ruas, porém despreocupado. Era um caminho de todo dia. Só via o que era necessário. Sendo assim, os olhos tornaram-se obsoletos naquela terra. Não havia mais função alguma para se usar a visão na rotina. Quanto descaso.

Sentia a brisa daquela noite. Um sopro delicado acariciava meu rosto. Esquecia meus tênis e sentia o que devia sentir. Andava cada vez mais rápido e arrancava minhas roupas. Elas nos fazem escravos. Aqueles que ainda tinham olhos, me olhavam. Suas vozes eram abafadas porque nada interessante diziam. Como sempre não dizem. Meus ouvidos não eram necessários para mais que aquela música em meus ouvidos. O chão cada vez mais distante se despedia de mim contente por aliviá-lo.

"Abra os olhos" ecoava como se fosse de dentro de mim. Passeava pelo céu gelado e me enrolava nas nuvens para suprir o frio. Aqui me sentia extremamente bem, nesse vazio. Sentia o vento cortar-me os póros fazendo-me sorrir. Eu queria mais. Queria o calor de uma estrela. E nada me impedia.

Era uma longa viagem, conforme atravessava camadas de tempo e espaço, eu ficava mais velho. Cada vez mais. E mais fraco. Aquilo me consumia, mas eu só me permitiria morrer no calor do colo de Afrodite, na luz das estrelas. E lá pereci. Quanto mais me aproximava, mais escura elas ficavam. Quanto mais perto chegava, mais frio ficava. Meus pequenos sóis, minhas doces ilusões. Rochas retraídas e mortas como eu. Cansado, comecei a esfarelar e enrijecer. Já não conseguia me mexer. Aquela luz eram os olhos da paixão. Seu calor, era desejo. E pude entender o porquê de todas aquelas estrelas no céu.

Um comentário:

Milla disse...

Nossa que surreal isso tudo.

Como um sonho mesmo.

Gostei ficou muito delicado, diferente dos seus outros textos.

Beijo