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domingo, 2 de dezembro de 2007

It's what you do to me

Você chegou sem avisar. Tomando conta dos espaços, preenchendo o vazio. E, de repente, eu te tinha por perto, e tudo parecia certo e correto e seguro. E quando você sorria, eu sorria, e você me fazia feliz, como nunca, como sempre. E era bobo, e me contava histórias que eu não entendia, sempre falando, eu sempre sorrindo. Você chegou, descarregou as malas, e quando o caos passageiro da mudança acabou, as emoções se normalizaram, deixando a alegria e sorrisos.

Os dias pareciam completos, e minha imaginação tinha a quem retornar quando se via perdida em delírios e preocupações inúteis. Eu te usava como ponto fixo, me mirava em seu reflexo criado em minha mente quando não achava onde me apoiar. E dessa maneira, me prendendo a você, enfraqueci. Quando, naquela tarde, você me deixou, não só minhas pernas fraquejaram com o peso de sua decisão, o coração trincou, e, por um momento, pensei que não suportaria os arranhões dos estilhaços no peito.

E então você se foi. Naquela tarde. Só me deixou ouvidos impregnados com sua voz, meus olhos, e seu rosto. Pra onde olhava, te via. Voltei para aquele mesmo lugar. Foi ali, entre sexo, drogas e pubs irlandeses. Naquela tarde, na frente da igreja, o pôr-do-sol dava um ar dourado às torres da igreja. Papéis que anunciam algo numa língua estranha espalhados pelo chão, pombas, lixo, pessoas e você. Foi ali que te achei. Naquele tarde de sol dourado.Você com seus três amigos, tirando fotos em frente à Madame Tussauds. Você olhou, e naquele olhar, tontura e pânico, me perdi. Foram poucos segundos, separados pelo asfalto e a faixa de pedestres, antes que o farol abrisse e a multidão te levasse embora. Procurar-te não foi suficiente, perdi o instante mágico daquele olhar, que enganchou na minha alma e machucou ao separar-se. Em algum momento, inebriada por sua falta, o enxerguei. Foi um daqueles sorrisos, sabe, meio de canto, que nos faz pensar em milhões de possibilidades que poderiam ser, mas que logo deixam de existir. Quem dera ter ouvido minha razão e, então, o pessimismo convicto tivesse mantido as chances queimando lá dentro. Continuariam a arder, e não causariam os estragos que você provocou. Entre tantos outros sorrisos, você foi Amsterdam.

Sempre foi assim. Coleciono olhares, donos de sorrisos. Por onde passo, te acho. Você com o cabelo bagunçado e os olhos cansados, você com aquele brilho intacto e os dentes a mostra, você com os pés no chão enquanto os pensamentos voam. Os olhares me atraem, as possibilidades aparecem e tudo acaba com um belo sorriso. Guardo a lembrança como um retrato em minha mente e despejo as idéias que assombram o futuro no espaço da imaginação. Porque assim é tudo mais simples. Meus dias voltam ao normal, e as ilusões não me sufocam.

2 comentários:

Lígia Ruy disse...

"Eu te usava como ponto fixo, me mirava em seu reflexo criado em minha mente quando não achava onde me apoiar. E dessa maneira, me prendendo a você, enfraqueci"

adorei. O apoio é confortante, mas costuma enfraquecer. Pelo menos sempre foi assim comigo.

beijo querida

(Parabéns! \o/)

Milla disse...

"Sempre foi assim. Coleciono olhares, donos de sorrisos."

Com certeza vc está na coleção de alguém também Tata =]

Gostei muito do texto e da melancolia nele.

Beijo!