Lendo mais uma das trágicas notícias cotidianas de homicídio, me retive a um detalhe nada inusitado, mas ao qual nunca dei merecida atenção. Um rapaz de 15 anos, suspeito de assassinar um garçom no bairro dos Jardins, entrou em pânico após esfaquear a vítima e correu com a arma em mãos até embarcar na estação Consolação do metrô, sendo depois reconhecido por testemunhas e preso. A notícia explica que houve uma briga trivial entre o garçom e seus clientes, e que todos os rapazes do grupo - aproximadamente 5 - participaram da agressão ao funcionário. Mas um deles em especial desesperou-se ao vê-lo morto.
Para entender a sensação de arrependimento, seria necessário supor uma razão inconsistente para o homicídio. De fato, parece ter sido um furor que saiu de controle e não algo pré-meditado; contudo, me questiono se essas pessoas envolvidas no crime já haviam pensado sobre a tênue linha que divide vida e morte e a interferência crucial do homem em seu rompimento.
Autores como Dostoiévski e Nietzsche tentaram, magnificamente, justificar certas ações “ilícitas” com conceitos de absolvição pela História, a exemplo do caso de Napoleão, e de auto-superação, o ‘Übermensch’ ou ‘homem superior’. Nelas a atitude considerada infratora pelas regras sociais teria sua exceção enraizada na conveniência dos propósitos do assassino; ou seja, em algumas circunstâncias ela seria absolutamente perdoável.
Já no caso de exacerbação da violência, mostra-se mera delinqüência; despropositada no aspecto mais aprofundado que o homicídio pode admitir. Um ato desrespeitoso, enquanto irrefletido. Ainda que Raskolnikóv tenha me permitido alguma flexibilidade nesse conceito, carrego a tradicional e ultrapassada valorização da vida e continuo me surpreendendo com a existência da irracionalidade nos atos criminais. O maior assombro é, no entanto, considerar que um motivo para ela talvez aproximasse essas atrocidades de clemência.
quinta-feira, 23 de agosto de 2007
Execrando um breve desvario
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4 comentários:
Foucault: 'Não se submeta...'
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Todas essas verdades inventadas não dizem nada, querida Nana devedora-de-quadradinhos-de-chocolate. A diferença entre viver e morrer é só uma, a sociedade.
Estrutura psico-social implantada.
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Levi-Strauss 'De enraizada então a natureza real do homem' + Propaganda da Sprite ' sede é tudo, obedeça sua sede!'
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sede é tudo, obedeça sua sede, não se submeta, natureza real do homem...
Locke: "estado de natureza..."
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assassinato.
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Enfim... os gauleses que cantam são os mesmo que vertem sangue... A sociedade é o mal estruturado em nossas mentes.
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Rage against..' Fuck you i won't do what you tell me!'
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O caminho é esse...
aqui está o texto!! Muito bom Ana. Problemas bem complexos para simples seres humanos...
beijo
esse eu consegui compreender como um todo. entendi tudinho! :)
É Nana eu também carrego uma idéia tradicional de respeito a vida, mas eu tenho a impressão que isso é cada vez mais ausente no momento em que vivemos.
Muito bom.
Beijo
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