-->

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Mercadorias em curso

Debaixo do sol escaldante e submetendo suas narinas ao ar seco e poluído que castigava a infinita estrada, um rapazinho de no máximo 10 anos convidava todos nas calçadas a entrarem na Kombi que seu pai dirigia com destino à rodoviária mais próxima, aproximadamente 17 km dali.

Apesar da simpatia do menino, o que levava as dúzias de pessoas a disputarem os assentos do veículo era, na verdade, a impossibilidade de chegar ao destino nas próximas horas por outro meio que fosse mais confortável ou menos arriscado.


A Kombi que saía da fronteira com o Equador, embora não cheia de passageiros ainda, chegava abarrotada de mercadorias que ocupavam boa parte do espaço interno. Além dessas, muitas outras vinham como bagagem de quem entrava posteriormente. Via-se bugiganga de todo o tipo, desde pequenos artesanatos para venda no centro de alguma cidade até grandes baldes, provavelmente para uso doméstico e pessoal. Em razão da fiscalização insuficiente, é uma maneira bem comum de transportar mercadoria contrabandeada (de qualquer gênero) pelo país.

O garoto de traços indígenas, cabelo preto e liso, pele escura e olhos muito marcantes viajava com a cabeça para fora da janela do carro, talvez tentando escapar do calor que fazia ali dentro, contemplando a paisagem e as crianças da sua idade que brincavam lá fora e, por vezes, convidando mais pedestres e andarilhos a entrarem. Não havia espaço para um perro raquítico que fosse, mas o pai do garoto insistia que caberia, sim, sem problemas e sorria para cada um que se arriscava a entrar e apertar ainda mais os peruanos já irritados.

Eles não padeciam em silêncio e acabavam reclamando para o responsável mais próximo: o menino. Sem ter o que fazer e sem chances de contrariar a ordem paterna, ele só improvisava novos bancos em meio à bagunça que tomava o lugar das pessoas e ouvia o misto de críticas e insultos bem distante dali, com sua cabeça sonhadora para fora.

4 comentários:

Toad - Matheus H. disse...

As vezes o peso da responsabilidade chega mais cedo e é absurdo querer lidar com isso, querer agir como se fosse normal.
Dadas suas proporções, eu sei como é isso.
Bom, te vejo hoje como uma pessoa ainda melhor! Isso é bom!
Bjs!
Toad

• Yuri Kiddo • disse...

às vezes o melhor a fazer é andar com a cabeça do lado de fora da kombi.

ás vezes é o melhor a fazer antes que a kombi bata de frente e fim.

Ogami disse...

Veeery, veeeery, veeery good! (Tanto tempo que não dizia isso né? hauaha...)

A moça viajada que menos bebe com os amigos.
Esses textos bem estruturados, as frases com muita informação, sempre, sempre contendo vírgulas.
Muito bom...
Pena que ela não paga os chocolates que deve...
hauaha.

Chatices a parte.
keep this way...
See ya

Milla disse...

Todo mundo tem sua Kombi particular e tenta colocar a cabeça pra fora.

Um suspiro, um alívio da realidade.

Muito bom.

Beijo