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domingo, 9 de março de 2008

Fevereiro

Antes de você acabar com esse café tenho algumas coisas para te contar. Sim, eu percebi que já está no fim. Você quer me ouvir desde que seja rápido? Sim, eu falo rápido. Então tem esse assunto que você colocou aqui agora pra me fazer rir, eu ainda tenho as coisas para te falar, e enquanto você fala eu olho nos seus olhos e penso nessas coisas que queria te contar.

Você já vai levantar? Ah, sim, vai no caixa e volta daqui a pouco. Okay. Engraçado, você já se parece comigo, a impaciência e a vontade de estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Com várias pessoas e o gostar de estar sozinho. É, eu vejo que nossos defeitos foram se misturando pelo caminho. E juntos temos aquelas coisas, as que alguns querem conhecer e a gente guarda. Okay. Me dá um beijo e vai lá. Eu vou ficar aqui, pensar em como começar a te dizer. Sem te falar que preciso dizer. Precisa ser agora? Precisa, porque você não sabe, mas não fico muito mais aqui. Perto de você ficaria a eternidade. Mas, vou mudar, é, de país. Vida, mundo e gostos. Não, o seu gosto eu levo comigo. Os seus sorrisos e o jeito que você segura minha mão sem jeito. E tira a franja do meu olho, até eu perceber que é isso o que você tenta, balançar a cabeça e sorrir. Sim, tem os nossos dias e eu não poderia ir embora sem te contar. Os planos, sabe, aqueles lugares guardados que um dia pensamos em andar juntos? Eu vou. Porque tem umas coisas que você não sabe. Uma oportunidade sensacional de qualquer coisa que pode ser bom para nós dois. Sim, eu vou sozinha. Mas, eu vou com você. Sempre com você como eu te falei que ficaria depois do primeiro beijo. As marcas que você deixou na minha paciência e a impaciência que noto nas suas mãos enquanto espera a fila do caixa andar. Os cartões passarem e a mocinha deixar de comentar sobre o novo funcionário.

Preciso te contar do começo. Do nosso começo que você não viu nascer. Eu decidi tudo antes de você enxergar. Antes da minha cabeça notar os meus sentimentos já faziam festa no meu estomago. Se eu já pensei em te dizer? Nunca pensei que houvesse algo a ser dito ainda, depois de tantas palavras. E de como eu sentia o seu cheiro quando ia dormir. E como eu sorria perto de você. Seus olhos falavam tanto. Para os outros representávamos a nossa própria história, sem saber fazíamos isso em vida separadas. Depois nos unimos e fizemos dos nossos monólogos belos diálogos. Os nossos silêncios saciados e as mãos dadas. Os olhares demorados de reprovação que você me dava quando me via garota. E os que usava para acabar com os impasses bobos.

Sim, nossa diferença é que eu sempre fui mais fundo, é por isso que vou. Talvez queira sentir a sua falta. Ou ver se tudo isso vale mesmo a pena. Mentira. Não vou mentir pra você. Não consigo, você veria meu rosto vermelho e perguntaria o que eu tenho. Talvez dissesse nada e você balançasse a cabeça. Você sabe exatamente como respeitar o silêncio e eu gosto de roxo.

Você me fez abrir as janelas do meu quarto cheio de som e palavras. Me fez voltar a enxergar possibilidades. Do seu jeito me obrigou a voltar a ser eu. Aos seus olhos. Só aos seus olhos. Para os outros temos o nosso teatro. Lembra dele? O que a gente resolveu um dia fazer para passar aquela noite na qual não queríamos dormir. E as mãos já cansadas procuravam nos nossos barulhos calma. Então, eu parei, te olhei e perguntei se você tinha percebido. Até onde tinha andado e como era impossível voltar. Quanto de mim você sabia e ao contrário. Perguntei com medo de ouvir um, 'paro quando quiser'. Mas, era como cigarro e a gente nunca se iludiu. Só pararíamos quando quiséssemos e não queríamos. Não naquele momento, não ainda. Sorrio e você me olha aqui sentada. Tá quase chegando a sua vez. Quando você voltar conto tudo e acabo com isso.

Já falei do começo. Do agora. Dos outros. Já falei que vou embora? É, talvez eu vá mesmo, tenho mais um ou dois meses por aqui. Chegou a sua vez. Vou terminar a cerveja que pedi. Sim, é um café, você tomou café. Mas está calor e eu precisava dessa coragem ridícula que álcool empresta. Um último gole. Ah, sim, oi. Senta aí. Vou te contar a coisa. Não, não me olha assim. Desse jeito que não me deixa fugir. Sabe, era mentira, eu não vou sair daqui, não ainda. Porque aquelas oportunidades nem apareceram e se aparecerem você é meu convidado para aparecer sempre. Ou ir. Ou ficar e continuar a nossa história. Escreve a nossa história. Você escreve enquanto me olha. Acabou. Vamos levantar. Me abraça. Sim, forte, vamos. Eu talvez chore e não ligue pros outros. De alegria e só um pouco. A certeza de que poderia ir embora agora e tudo isso já estaria escrito. Um brinde, um beijo e a sua coragem. Acabou o último gole e nos acendemos os nossos cigarros de possibilidades. Vamos caminhar até ali com os passos sincronizados. Sentar e continuar. Porque no fim a gente sempre continua.




qualquer semelhança, pode não ser mera coincidência. [em vários sentidos]

Um comentário:

Milla disse...

E as semelhanças são claras.

Mas são só parecidas mesmo, porque as palavras são suas ;-)

=**