Apoiada com os cotovelos na mesa ela pensava no que seria dito nas próximas horas. A situação delicada a impedia da verborragia natural dos diversos encontros. Teria de dizer tudo a ele, não poderia poupá-lo dos fatos que se concretizavam em sua mente e a impediam de estender a atual situação que, talvez por indiferença ou descompromisso, ele fingia não saber. Porque ele sabia, ele devia saber, mas desde o começo o pacto silencioso foi de nunca expressar em palavras o que poderia ser sentido. O jogo se invertera. Lá estava ela, sentada naquela mesa do bar lotado de pessoas estranhas a procura dos olhos destinatários que deveriam surgir a qualquer instante roubando seus suspiros. Tinha pensado em escrever, já que não era possível falar, letras costumavam ser mais certeiras que a própria voz. Aliás, não era boa no jogo do diálogo, sentia-se perdedora sempre que falava demais. E ele tinha essa incrível capacidade de escutar tudo que tinha a ser dito. Ela não suportava sua habilidade. Que a interrompesse, ou a lembrasse do combinado, mas quando via já era tarde, as palavras haviam denunciado as letras cravadas no peito. Todas impregnadas e se debatendo naquele pequeno espaço, querendo livrar-se do bloqueio imposto pelos lábios. Sua mente era a grande culpada. Porque tinha de dizer? Porque deveria fazê-lo saber daquilo que não queria perceber? Era burrice, era muita burrice botar tudo em jogo a troco da decepção de ouvir o que não gostaria. E as chances disso acontecer eram enormes, pois sentia-se fraca e indefesa frente a ele, a admiração a encolhia. E esse sentimento de impotência só era rompido quando se abrigava em seus braços, e sabia que ele a tinha por inteiro e que assim a queria.
Pois ele chegou. Os olhos se cruzaram antes do primeiro passo em sua direção. Foi como mágica, ao vê-lo todas as palavras saltaram em seus lábios e as barreiras e bloqueios desfaziam-se, a cada passo o calor de seu corpo parecia atravessar as emoções, embaralhar a mente e explodir no peito.
Era ele. Ele. Ele.
Ele ainda estava em pé próximo à mesa quando a ouviu.
- eu te amo.
- como?
- eu te amo e não agüento mais isso. eu não funciono como você e não consigo ficar quieta diante desse sentimento que parece romper minha sensatez e destruir a minha tão prezada racionalidade em busca da aceitação em palavras que já tive em toques e olhares. Não, não. chega de tentar entender as suas verdade e aceitar seus termos enquanto me acabo buscando as respostas de minhas dúvidas quanto a esse amor maior que tudo. Chega, chega. eu te amo.
Do modo como a ouviu, ainda perplexo, virou-se e a deixou. Enquanto caminhava se arrependeu de ter ido até lá, sabia que não poderia confiar em suas palavras e que os tratos feitos, ao seu ver, eram meras desculpas para a reunião e desfecho da cena feliz em sua mente. Seus sonhos utópicos. Percebeu que o grande erro foi ter aceitado conversar sobre o assunto encerrado, pois da última vez ela prometera deixá-lo definitivamente em paz, e assim deveria ter sido feito. Fazia um ano que o amor havia acabado, assim como tudo o que havia entre os dois e o tempo se encarregara de banir da mente dele, mas não do coração dela.
domingo, 9 de março de 2008
Obsessão
Postado por De Lancret às 23:48
Marcadores: Talita Galli
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Um comentário:
É sempre perigoso permitir que aquilo que foi banido volte para uma visita sem intenções.
Nada de contos de fadas, adeus final feliz.Só a realidade, o amor e a dor que ele causa.
Very good.
=**
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