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domingo, 20 de abril de 2008

Don't leave the light on

Era naqueles dias estranhos que ele se refugiava na sensação que teve aquela vez. Era naqueles dias, que ela voltava a reinar os pensamentos mais simples, singelos e capazes de qualquer atitude regida pela emoção. Mas a razão também estava ali.

Ele se lembrava daquela vez. Tudo tão incerto, tudo tão certeiro. Os dois no carro, a música que ela intitulou deles. A música que ele tinha aceitado como um dos vários presentes que você ela lhe deu naquele fim de semana. Mas sabia que ela tinha feito muito mais. Tanto que nem imaginaria, nem saberia calcular ali, nem saberia durante tanto tempo. Tanto que nem sabe se hoje sabe plenamente.
Falava da intensidade. Foi tudo um começo, um fio que a incerteza plantou e depois juntou com tantos outros até que tudo parecece correto. Havia aparecido de surpresa, ouvido sua voz de um telefone público no centro da pracinha da cidade. Ouviu sua voz pela primeira vez. Sentiu o corpo trêmulo, a barriga cheia de "borboletas". E decorou cada pontuação das frases pra quando chegar na hora, mudar os planos e o cronograma.

Depois, foram tantas as voltas, tantas as canções, as conversas, o pouco espaço no carro pra expor a felicidade. Talvez ele nunca tenha falado a ela sobre os detalhes. Talvez não, mesmo depois de todo o tempo. Talvez. Ela então poderia nem saber do quanto sorria tão mais largo quando pôde ficar sozinho no hotel pra pensar em tudo. E também não soubesse dos carros que assistiu pela janela, do clima da cidade, do coração pulsando tão mais forte, tão mais novo. Era tudo novo, era o começo de algo que lhe dava a chance de viver um novo começo.

E, no fim, era tudo ela. Era o gosto dela ainda na boca, a cidade ao alcance dos dois e os hermanos no rádio. Os cabelos entre os dedos, o devedê já sem importância, porque o filme era tão menos interessante que seu olhar. Era o comentário sincero de como ela tinha um beijo bom e o dela dizendo que podia ouvir o pulsar do seu coração. E ele vibrava com toda aquela situação. Ele tentava se controlar, mas era impossível. Talvez nem desse mesmo pra disfarçar. Talvez, de novo, depois nem estivesse preocupado em disfarçar.

Então, voltava para a cena do carro. Todos os momentos, todas as mudanças em questão de poucas horas. a despedida que acarretaria em algo melhor. O caminho de casa tão mais leve, com o vento trazendo o novo e levando o gasto. E aquela sensação em que sempre se refugiava. Os cabelos, a estrada, as mensagens e a boca dormente. Com o gosto. Dela. Anunciando um sorriso. Fofoqueiro. Exibindo pra quem quisesse ver. Que tudo mudou. Pra melhor. Para as certezas.

Por eles dois. E a música.