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segunda-feira, 21 de abril de 2008

Vazio sem espaço


O vazio vem preencher a cabeça e encontra sofás, livros e uma televisão. Ele se acomoda, se ocupa e me incomoda. Vem aqui só para fazer uma visita, mas acaba ficando por um período ilimitado demais para alguém que zela pela privacidade.

Como anfitriã, tenho muito espaço e tempo para mimar o desgraçado. Claro, ele gosta e eu quase me acostumo, não fosse o tempo que me falta só para ter mais tempo. Vamos dividindo cada aposento e eu não tenho receio de demonstrar todo o meu ódio e desprazer - nem tão mútuos nesse caso por serem absolutamente meus. Aquele parasita.

Se conseguisse achar esse vazio, eu o rebentaria até não sobrar mais nada, até ele deixar de existir e ser mais vazio. Trata-se da perda do meu recinto tão particular e, a cada vez que eu repito isso, a fúria dele aumenta e me ataca.

Agora a guerra é declarada. Eu sei quando ele está chegando e já me preparo para evitar a aproximação derradeira. Aquela determinante que acaba com as chances de contra-ataque. ‘Pode vir agora’, disse da última vez. Apesar da coragem que teve de me enfrentar, eu saí sem o vazio. Livre dele.

Tenho ciência de que ainda não acabou porque posso perceber quando ele chega perto. Ouço o silêncio de longe e sinto cada movimento da sua inércia. Calhorda. Agora não. De onde está talvez saiba que não é hora; muito do espaço e daquela calmaria que tanto aprecia já não estão por aqui. Sentaram no seu sofá e tiraram o marca páginas daquele livro que você começou a ler. Seu perdedor.

É nessa hora que você não pode mais voltar.