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domingo, 20 de abril de 2008

elev-a-dor

Ela chegou apressada no corredor, apertava o botão do elevador com muito mais força do que o habitual, olhando para porta dele. Esperando que ele saísse e viesse em direção a ela, e a envolvesse pela cintura, a tirasse da frente daquele elevador e em silêncio recomeçassem a discussão que a fazia esmurrar o botão com tanta força.

Então ela olhava a porta, imaginava ele, sentado na cadeira vermelha, com o rosto entre as mãos, pensando em todas as possibilidades que ela acabou quando fechou a porta. E ela ali parada, como se a porta batida fosse uma vírgula e na próxima frase ele apareceria. Ele não apareceu e o elevador finalmente chegou.

Os dias seguintes foram de incerteza. Algumas ligações bêbadas dela, outras não atendidas dele. Eles se falaram quando ela quis e ela só queria pelo impulso de retomar as coisas. Só que o impulso ia embora com o fim do álcool. Era como se o medo de continuar fosse tão grande e aquilo ficasse tão colorido de repente. Era tanto o medo, e as palavras dela eram separação, sempre separação.

Já tinha se passado quase um mês. Ela tinha encontrado amor ou resquícios disso em outro corpo. Ele tirava dela os pensamentos daquele outro, então, o medo tinha sido trocado pela ausência de sentimentos. Mesmo quando os lábios se encontravam, as pernas se entrelaçavam, os sorrisos de cumplicidade apareciam; a cabeça dela voltava naquele dia em que apertou o botão do elevador com força demais.

Dois meses depois, ela reencontrou nele, a coragem para vencer o medo inicial. Foi quando desistiu de levar aquela relação que tirava lembranças e acabava com o presente enquanto a embebedava de uma vida falsa. Ela desistiu das facilidades e voltou até aquele prédio, apertou o botão devagar, abriu a porta com a chave que ainda tinha e o encontrou ali, segurando a cabeça com as mãos e um livro entre as pernas. Ela o olhou, entre lágrimas e sorrisos, falou:

- Voltei para onde nunca deveria ter saído. As suas mãos tiravam do mundo, o peso. O seu sorriso devolvia a vida, esperança. O seu olhar mostrava que inocência ainda existia. Tudo, tudo, tudo. E eu perdi tudo porque era medrosa demais, idiota demais, queria demais experimentar tranquilidade. Mas a paz só existe no seu turbilhão.

Ele a olhou e disse:

- E o tempo todo eu sempre soube: é você, só você.