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segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Inside my head


Às vezes eu paro na porta da minha vida e começo a olhar lá para dentro. Vejo as pessoas que passaram por aqui, as que passam correndo, as que ficam, as que aparecem. Da porta da minha vida tudo parece tão mais interessante.

Entro, tímida. Atravesso o corredor da minha história. Descanso as cartas na mesinha da sala. Atravesso as escadas e começo a subir. Ando cada passo mais para dentro. Visito os quartos. Sinto os medos. Atravesso. E continuo andando por entre a minha vida. Uma roleta russa. Sempre atirando sem saber quando a bala resolve se soltar de vez.

Sinto falta de uma coisa forte que me tire de vez daqui, de dentro de mim. Me arranque as palavras. Me puxe os cabelos com força. Uma coisa e tudo diferente. Só uma verdade enorme metida dentro dessa voz triste. Ecoando do outro lado da casa. Tão longe que o eco quase virá uma palavra. Andei por toda vida com suas palavras virando duas na minha cabeça. Tudo que você desfilou em voz alta.

Atravessei você. Ando pelos quartos. Sento no porto-seguro infantil. Aquela pureza toda ali parada. As minhas milhares de cicatrizes vindas daquela época. Posso contar a minha vida olhando o meu corpo. Apontando as feridas. As férias com meus primos. O meu amor pelos cavalos. Deve vir daí o meu amor por você. Um cavalo sem gosto bom. Com o pêlo mais macio. Os dentes mais bonitos. Te comprei, como meu vô compra cavalos. Pelos dentes. Os seus dentes e como eles sabiam ser especiais.

A minha adolescência. Os meus saudosos quinze anos. O meu quarto e esse computador com o qual ainda divido minha vida. Foi lá onde tudo começou. Talvez, minha vida tenha entrado nesse ciclo quando eu tinha 15 anos e tudo continua ali. As coisas me atormentam mais. Pego a arma e tento mais uma vez. A roleta gira e eu ainda tenho o meu corpo em matéria para desfilar nessas mentiras.

Ontem à noite. Ontem e a casa do meu amigo. E os meus amigos. Entrei em outro lugar e ainda é a minha vida. É a minha história toda mudada. Enquanto nos perdíamos até chegar lá, pensei em um pedaço do que me aconteceu. Tudo poderia ter sido diferente e eu não estaria ali. Muito provavelmente eu não seria assim. Tudo teria continuado insosso demais, falso demais, sem graça demais. Eu precisei de tudo aquilo. Eu precisei de você para poder arriscar os meus miolos nessa roleta russa.

Vou guardar os meus tiros para quando te apagar da lembrança. Tranco a porta da minha vida. E continuo andando para fora, eu sempre continuo.

4 comentários:

carla castellotti disse...

texto FORTE,
e vc é sim uma roleta russa em disparada. Algumas vezes acerta bem em cheio.

Beijos querida.

Milla disse...

Gostei do texto Su...
Achei ele especialmente mais forte, mais corajoso...

Acho que te vi melhor nele.

Beijo

ligiazm disse...

"Uma coisa e tudo diferente."
eu espero por isso, ainda.

e olha... sabia que esse texto era seu logo na primeira frase. foi sensacional reconhecer sua escrita! háhá :)

Yuri Kiddo disse...

bom texto su. diferente, viagem.. t vi nos corredores infinitos das lembranças. lá td eh sempre melhor. gostei.