Junto comigo caminhava uma parede. Era grafitada com as cenas da minha vida e passava como num projetor de filme velho. Acelerava nos momentos que queria rever e era vagarosa naqueles que queria esquecer.
Eu podia correr ou esticar o olhar, mas não via o final dela. Estava próxima, mas não o suficiente para tocar. De concreto somente as imagens que eu via.
Minha infância correu como um vídeo adiantado em que mal se entende as falas. A adolescência era nostálgica como a Sessão da Tarde e tinha até trilha sonora. Na vida adulta somente um fundo cinza com legendas amarelas.
Não esclareciam nada. Eram palavras soltas, jogadas na parede por quem teve pressa. Apareceram três pontos e as legendas foram embora. Eu continuava andando e do meu lado só o cinza e a incerteza do que viria.
Cansada e com bolhas nos pés de tanto andar com o vazio, apareceu uma curva. Excitação. Possibilidade de algo novo. Uma mudança naquela vida de andante, mas não veio nada. Era só uma imperfeição, parecia um erro de quem traçou aquela parede e aquele caminho.
Eu entendi a cor. Não tinha vida. Não tinha história. Era cinza porque não tinha nada, ainda.
“Quando pego no sono e sonho, não sei se estou no meu quarto ou se torno a acordar e tudo está acontecendo mesmo."
Charles Bukowski.
2 comentários:
O Texto ficou ótimo.
Fazia tempo que eu não gostava tanto de um texto seu. E a imagem casou muito bem.
PS> Vou ouvir Pink Floyd, ok?
Inevitável!
E o Bukowski demorou tantos anos até colocar coisas na vida dele, alheias a auto-destruição, ficou mais alguns anos produzindo e foi.
Quando penso nele, penso também em sorte, talento e coragem. Pros meus amigos espero: nenhum dos meus pensamentos bukowskianos faltem.
Gostei do texto, mesmo.
Beijo
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