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domingo, 7 de setembro de 2008

Longe, acima do mundo


Era um fixado, cujas raízes lhe haviam sido recentemente arrancadas, que ouvia uma fábula, dessas geralmente contadas para crianças com a intenção de passar uma lição moral. Deixou a sala com um bilhete aéreo em mãos, somente de ida.

Take your protein pills and put your helmet on

Corria para longe de casa porque tinha pressa em dar os últimos passos antes de embarcar em busca da causa maior que havia procurado até então. Sem grandes ambições, afinal era um projeto pessoal, ele entrou no aeromodelo que o levaria para a experimentação de um devaneio.

Assim que perdeu o contato indireto com o solo ao qual esteve preso por tanto tempo, ele se percebia pela primeira vez de maneira avulsa e capaz de envolver efetivamente o seu contexto. Abriu a porta e se adentrou na lasciva sensação de pertencer a alguma coisa, sem que estivesse dependente ou preso a ela. Era único, em reciprocidade com o que estava ao seu redor.

Now it’s time to leave the capsule if you dare.

Voava de um jeito particular e notava o céu como se ele nunca tivesse estado ali. Mergulhando sem fim naquilo que julgou ser o maior objetivo que poderia ter para toda uma vida, imaginava que era um dos poucos a se realizar tão completamente. Quiçá o único, pois ele já não distinguia em toda a paisagem que o ambientava, alguém tão avulso quanto estava que compartilhasse de tamanha liberdade.

I'm feeling very still

O sentido se esvaia e a queda chegava ao fim com a aproximação do chão. Num vácuo, ele clamava pelo fim do sonho explicando ter ocorrido um "erro técnico", de uma expectativa mal planejada.

There’s something wrong.

Can you hear me, Major Tom?
Can you hear me?


* texto baseado na música do David Bowie, Space Oddity.

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