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segunda-feira, 24 de março de 2008

Nano relevante

Qual o tamanho do problema e qual a medida da solução? A vida microscópica demanda pouquíssimos recursos e já é capaz de garantir muitas outras. O fitoplâncton, desgraçado ser invisível a olho nu, com aquele ínfimo tamanho produz quase todo o oxigênio do ar que respiramos, consumindo boa parte do gás carbônico que acabaria nos intoxicando. Os humanos, um tanto maiores, se dedicam à produção de recursos vantajosos somente para eles mesmos e acabam por destruir tudo que o cerca a fim de alcançar tal objetivo.

Os plânctons se ocupam de ‘respirar’ até o dia em que servem de alimento para algum outro ser. Não que exista essa preocupação, é algo intrínseco a sua sobrevivência e ainda assim benéfico para qualquer tipo de vida, já que eles não são predadores. Transformam a minha poluição em ar puro para a atmosfera pública e eu me cerco de natureza morta para meu próprio conforto e lazer. (Lembrando também de todos os outros seres que acabo respirando e que, provavelmente, não sobreviverão no meu organismo inóspito à vida. Meus pêsames, colegas microscópicos. Ocasionalmente sou predadora involuntária.)

O fato é que a utilidade desse bichinho de nem um milímetro ridiculariza meu metro e sessenta e seis entorpecido de pura neura. Eu penso enquanto ele produz. Eu continuo pensando enquanto ele, instintivamente, cria condições para que eu prossiga com tal atividade. Por esse prisma, a maior capacidade dos homens se torna até desprezível por requerer tanto tempo e acabar resultando em tão pouco, pouco a pouco. Não vejo o resultado das minhas análises. Elas são ramificadas constantemente quando as questões são esparramadas em complexidade, de modo que não há vez para uma resolução sucinta e definitiva.

Reconheço a futilidade de muito mais da metade dos meus pensamentos e temo pela possível incapacidade de produzir alguma coisa grandiosa e essencial para os outros. Temo pelo que não realizei enquanto expunha aqui algumas das razões para não realizar. Parece um carma humano essa aptidão para raciocinar; e talvez seja mesmo o carma feminino a fantástica habilidade de problematizar.
Já o do fitoplâncton, 'só' respirar.

Um comentário:

Milla disse...

Fingimos que são nanos problemas para nossa comodidade.

Se um fitoplâncton pudesse ler seu texto ele ficaria arrogante e começaria a cobrar por respirar.

=]

Adorei!