Eu vegeto aqui. Meu corpo - pêlo e cicatriz - não me diz mais nada. Os ossos estão cada vez mais pesados. Tanto faz se eu choro ou se dou risada. Meu reflexo no espelho me ignora. Toda vez que tento conversar, ele vai embora. E eu tento ir ao seu encontro, e com lâminas eu me deparo. Pronto, mais sangue, mais e não paro. Mais morte eu desejo, mais isso eu almejo.
A repulsa. Outros na minha cabeça gritam o que fazer. Eu não lhe dou mais ouvidos, eles pararam de dizer. Minha imagem deu-me as costas e partiu. Como o espelho, meu coração. Ruínas e manchas fazem de mim um homem frio. É esperança, É PRA EU SENTIR QUE ESTOU VIVO, OUVIU?! E a culpa disso tudo é tua. É minha, eu sei meu rei, a culpa é toda minha.
Me tornei tão inóspito que já não percebem minha presença. Ninguém vê se eu chego ou me vou. Eu construí meus castigos e minha própria sentença. Minha voz, de tanto desuso atrofiou. Nós criamos os deuses e nossas doenças. Meu rosto envergonhado sempre diz: O que você (não) se tornou?
Ainda mais, que se fosse eu faria melhor. E repete insensatemente como sou imperceptível. Minha dor não é som, meu sangue não é cor. Como viver pode ser tão horrível! e alguém sempre me diz sem parar: Quando morrer, você pode avisar?
Tarde demais.
Um comentário:
"Como viver pode ser tão horrível!"
Acho que prefiro o sofrimento do que ausência de tudo. O nada.
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