-->

segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Frohes altes Jahr

As voltas na roda gigante, passeios noturnos pelo Sena e a particular solidão em meio a multidão de turistas ficou para trás. Estava de volta, a caminho do frio que insistia em não deixar o ar da casa aquecida. Mas como nem tudo é simples, e as situações se desenham de forma a te deixar cada vez mais encrencada, acabou a bateria do meu celular, eram 23h, nevava e eu não sabia o número de casa. Eu estava ferrada.

Por sorte, existem romenos bondosos no mundo. Esse povo cigano sabe o que é passar por situações “difíceis” e, felizmente, tem celulares. Liga pra amiga, pega o telefone da sua casa, pensa dez vezes nas malditas frases que você vai dizer em alemão pra alguém que estava dormindo até você ligar enchendo o saco, e pede carona.

E, então, eu agradeci os amigos (benditos sejam os romenos), e fiquei lá, sozinha, debaixo de neve esperando a carona. Mas, duro mesmo foi entrar no carro e não ter o que dizer, ou, não querer. Dizer. Voltar.

Bom, chegamos ao ponto, enfim. O fim. O importante é que no dia seguinte seria véspera de ano novo, 2006. Eu estava bem animada, não é sempre que se tem a oportunidade de vivenciar um autêntico reveillon alemão, eu tinha escolhido passar com eles, que ficaram bem felizes com o meu interesse. A festa seria na casa de amigos, que eu, particularmente, gostava bastante, um casal simpático com um filho de sete anos que me achava a rainha do futebol. Não se enganem, era só por eu ser brasileira e conseguir chutar a bola em linha reta.

Ninguém usava branco, é, eles não são muito supersticiosos. Durante a semana, também não vi programas de culinária oferecendo mil receitas de lentilha, sugestão de cores e seus significados para a virada, muito menos pais de santo jogando orixá (?) e prevendo o futuro das celebridades. Na ceia tínhamos frutos do mar. É, na salada, no prato principal, nos petiscos, a variação era o molho. Eu não reclamei, adoro comida em geral. Mas, enquanto brasileiros comem coisas quentes e gordurosas aos 30 graus na praia, estavam lá eles, comendo peixinhos enquanto nevava. Bacana, sabe.

Bom, eu, como sempre, comi, conversei, e brinquei de lego com as crianças. E, nem como sempre, fiz caipirinhas e embebedei todo mundo! Nas exatas doze badaladas é assim que funciona: vai todo mundo pra porta de casa (do lado de fora, minha gente), estoura champagne e brinda com os vizinhos. É, exatamente, com os vizinhos. Uma coisa meio paz mundial, confraternização com os membros da rua, saca?

Então entramos de volta na casa, porque nem rola ficar passando frio de roupa bonita embaixo de neve (como podem perceber eu não consegui estabelecer uma relação amistosa com a neve, nunca). Mais uma horinha brincando de lego, as crianças começam a ficar chatas e fazer birras. Hora de voltar para casa e dormir.

No meu quarto, sozinha, em meio a lembranças, planos e expectativas, tive saudades, fiquei feliz pelas minhas realizações e sonhei com o passar do ano novo. A casa dormia, e em alguns meses dormiria em casa. Mas nesse momento, só pensava na viagem a Berlim do dia seguinte, e nos tantos benefícios que essa sofrida estadia me proporcionava: viagens, lego e peixes. O que mais eu poderia querer?

.final ( )

Ponto final.

Começo no fim de mais uma decepção. Mais uma glória rasgada, e mais lágrimas desperdiçadas. O último. Sete significa sorte para alguns... Hahaha, até esqueci aonde ia chegar. Mas é o último. Dramático e perdoável como todos foram, o último.

O natal (assim com letras miúdas mesmo) passou quase despercebido. Teve que pendurar um colar de luzes e um sino dourado como pingente no pescoço do papai noel (assim com letras miúdas mesmo), tunar seu trenó e colocar mais 200rp - renas de potência; e o nariz do Rudolf agora é de xenon. E mesmo assim, eu não o vi.

O espírito de natal estava enrolado num carteado com o diabo, se atrasou todo e esqueceu de alguns lugares. E assim ele embolou com todo o fim de ano. Todos os planos, todas alegrias... As férias viraram castigo. Meu pai (que não é noel) desapareceu. Colocou tudo em seu saco e desapareceu. Levou o sorriso de minha mãe, as lembranças, o amor, e os DVDs (que até agora eu não me conformo). Ora, por que os DVDs? Aposto que ele também é o culpado por estes dias de sol escaldante.

Estávamos infelizes. Mas infelizes como sempre. Agora a tristeza é outra. Não é só minha, e isso é insuportável. Somos todos corpos escorregadios nos esquivando de abraços e carinhos. A atenção vem nas piores formas. Gritos e choros e velas derretidas. Nem a fé é sólida. E cá estamos esperando e tentando um ano novo (assim com letras miúdas mesmo) melhor, um ano novo mais digno e decente. Um ano novo fora daqui.

Não sei o motivo de eu escrever isso agora, eu tinha até outra coisa em mente. Mas essas semanas, o assunto não foi outro. Na televisão só se fala disso, nos jornais, nos amigos e parentes, nos filmes... É só isso.

Eu sinto raiva de todo ano que acaba porque ele nunca acaba bem. E sinto raiva porque se eu o aproveitei bastante, não deveria ter acabado.

Não sei como terminar esse texto, assim como não sei como terminar este ano; assim como não sei como terminar nada na minha vida. Mas ele sabe. E terminou.

Bombas do outro lado

A bomba que explodiu e afastou todos que estavam nos arredores atraiu, ao menos, uma pessoa. Ela sabia, obviamente, distinguir a explosão da bomba da dos fogos de artifício, ademais o espetáculo pirotécnico parecia muito mais palpável do que se estivesse no céu: estava ao seu alcance contrariando qualquer expectativa anterior. Dirigiu-se decidida a ela em meio à nebulosa e densa atmosfera, já quase deserta.

Seguindo por entre escombros e poeira, não via nem o que deixava para trás quanto menos o que vinha adiante, mas algo ainda lhe dava o rumo certeiro daquela decisão duvidosa para tantos. Confundindo pretérito e futuro, buscava resolver os seus conflitos atuais como nunca havia feito e com a convicção de que era dessa forma que acertaria todo o resto, os de ontem, amanhã e depois.

Sirenes gritavam e logo as autoridades amparavam aqueles que tentavam se afastar; o sangue já se alastrava vívido pelo asfalto, ultrapassando inclusive a cortina de fumaça que ocultava o miolo do caos. Havia uma mórbida e sensata razão para continuar até ele, pois já não adiantava manter a negligência.

A fuga da ilha que isolava do outro lado a verdadeira sensibilidade cruzava esta trilha onde a bomba explodiu, em seu curso já habitual. Dessa vez não foi necessário buscar um atalho.





Mais do que os soberbos fogos de artifício das festas finais, as bombas continuarão estourando com semelhante freqüência.
Um novo ano mais corajoso talvez esteja por vir, para lidar com todas as que se denunciarem pelo caminho.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

What Difference Does It Make?

Ela sabia das estatísticas. Era nessa época que o índice de suicídio aumentava, porque a pressão em ser feliz era muito forte, uma cobrança que não cabia mais no peito.

O problema é que em sua indecisão não sabia como virar um número.

Sempre achou os pulsos um problema, muita sujeira e ainda a banheira nem ficava no seu quarto para dar aquele ar que devia ter.

A dificuldade da pólvora é que além do barulho, tinha cheiro ruim e era algo muito grosseiro, não tinha poesia alguma. E não queria seus pedaços espalhados pela parede, embora gostasse de lagartixas não gostaria de terminar de forma semelhante a elas.

Sua família era de hipocondríacos não assumidos e contava com um bom arsenal de balinhas, todas as cores e formas, tudo muito alegre. Mas qual a beleza de engolir e algo e não existir mais? De falir tudo por dentro. Era um pouco nojento também.

Sempre achou que a morte podia ser algo poético, porque entendia ela como uma graduação, uma sacada de sorte do destino, mas nunca teve muita sorte em nada, nem no bingo de feijões.

Uma queda. Isso sim era bonito. Enfim um espírito livre. Era a concretização do que acreditava, descontruir para construir novo. Deixar de ser, para tornar se outra. Derrubar conceitos e atitudes estabelecidos por alguém que não era ela.

E no bilhete “Vocês ficaram com o Natal e eu com a vida nova” ¹





¹ Frase original de Yuri Kiddo : "Vocês ficaram com a Natal e a gente com o Ano Novo"

No ponto da sinceridade [ponto]

Eu não sei o que me faz estar aqui na frente agora, dizendo tudo o que vou dizer e ainda acertando as teclas desse teclado sem cometer muito erros. Eu agora queria ter um gravador mental, que registrasse todos os pensamentos que tive nas últimas horas, e poder dizer aqui, sem alterar qualquer vírgula ou ponto, tudo o que foi hoje.

Certa agonia chegou até mim, é verdade. Eu não poderia encontrar em outros olhos, que olhei fixamente, todo o carinho e amor que aparecem quando olho os olhos seus, mas encontrei verdade em cada olhar, cada música que dancei hoje e cada abraço que dei. Porque todos sabem em como adoro abraços quando fico meio alto.

Na verdade, não posso mentir dizendo que já estou melhor, não estou. Tudo embaralha e me surpreendo por escrever essas palavras. Meu primeiro texto não sóbrio, isso deve valer alguma coisa.

Deve valer porque fico mais verdadeiro, isso é fato, e não consigo esquecer, por enquanto, quantas vezes pude dividir a alegria que eu sinto com cada um que esteve em casa hoje. Nunca pensei que uma festa traria tantas coisas.

E trouxe, trouxe meus amigos queridos que hoje penso que só Deus mesmo para colocá-los no meu caminho. Vou contar: eu vivo de incerteza, e nela está meu curso. Eu não sei se quero o jornalismo pra toda vida, sendo que qualquer relação que tenho com a tinta e o as artes visuais, me seduzem muito mais. Eu não consigo passar horas matutando sobre coisas que eu não consigo idealizar direito. Tenho apenas poucas certezas, delas, meu amor e meus amigos fazem parte.

Eu senti falta sim, senti falta do abraço e do beijo, das bochechas e do corpo deslizando sobre minhas mãos enquanto dançava, mas a mantive a todo tempo num lugar que ninguém pode tocar, bem secreto, escondida no centro de um coração sonhador. Mas é injusto não lembrar de todos os olhares que cruzaram os meus e fizeram desse domingo algo valioso. Amizade.

Sinto a amizade a cada vez que uma frase sai sinceramente, a cada verso dos Beatles que tocou no som, a cada cigarro compartilhado, a cada pulo no meio da minha garagem, que se transformou em pista, a cada abraço, alívio, favor. Tudo, tudo, tudo. Não precisaria mudar nada, tudo veio em hora certa, mesmo que a saudade pudesse ser aliviada em cada palavrinha soada no celular pelos poucos minutos.

Eu me desculpo, porque tenho vício nisso, por qualquer erro aqui cometido. Digo que não estou sóbrio o suficiente pra reconhecer certas coisas e muito menos meus erros, ainda mais gramaticais. Mas por toda a semana que se desenrolou, agradeço até o autor do livro que amenizou a chatisse das manhãs de trem e metrô. Obrigado! Nunca consigo terminar algo assim, sem um obrigado.

Nunca, em toda minha vida, poderia premeditar coisas tão surreais que aconteceram nesses últimos dias. E é nessa falta de sobriedade, que me despeço. Mas cheio da sinceridade, que um dia achei que pudesse faltar aqui.

domingo, 23 de dezembro de 2007

I'm gonna waste my time

Na mesa do bar olhava todas as minhas certezas. Eu sempre levantei e busquei tudo o que quis. Não importa a quantos mil metros a vida estivesse. Nunca fiquei pulando e delimitando verdade e mentira. Só importava o que eu queria, mesmo que o que eu quisesse estivesse em uma espelunca do outro lado da cidade.

Naquela mesa, alimentando meus vícios, ouvindo o meu amigo, meu corpo saia da órbita. Eu procurava no fundo de tudo aquilo uma coisa que perdi. Uma vida que perdi. As palavras que cortaram o meu sentimento. Antes era admiração. Hoje, é rancor e um misto de qualquer coisa que não sei definir.

O teclado do meu computador pesa muito mais do que o comum. Uma palavra de cada vez. Um sentimento de cada vez. Um medo em letras, de cada vez. É isso.

Eu sou viciada em pessoas. Eu falei pro meu amigo que nunca amei de verdade. Talvez, seja verdade ou eu tenha colocado amor no mesmo lugar dos sentimentos ruins e quando você faz isso, só encontra o amargo. Coisas pequenas tem uma proporção enorme e eu subo a avenida querendo encontrar a frente do primeiro ônibus. Acabar com tudo.

Chega.

Os outros não me convencem. A vida não me convence mais. Tinham peças fora do lugar e o vento começou a ser mais forte. Os dias bons. Os amigos, as dancinhas, a saudades ENORME dos meus amigos do colégio e das nossas festas com o aumento de álcool gradual e a diversão na medida certa. Nunca experimentei tanta sinceridade como naqueles dias. Eles sabiam que se eu perguntasse era porque queria saber. Por dois ou três eu daria a vida.

A ladeira da ete, as escadas da casa do Rafa, a festa havaiana e a chuva. Tudo, tudo. É tanta saudades. E agora, todos eles entram em um avião e vão. Um de cada vez. Mas, vã é tudo aquilo que vai. E eles só mudam de país. Atrás dos seus sonhos.

Todos meus erros propositais ou não, deixaram o passado em lembranças. Tudo que eu quis fazer. Agora, eu flutuo na superfície, fico ali tentando descer e procurar ar. Lá em cima é tudo muito rarefeito. Nas raras vezes que olho para trás, percebo que me divirto tateando ao meu redor. Eu vou cometer mais um erro. E por que eu não poderia cometer vários erros?







Sim, está tudo infinitamente pior do que esteve um dia.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007



A Clace Palled Home

Antes eram gritos, e ecoavam pelos corredores do auto-intitulado "lar". Agora já não se ouve quase nada se não prestar atenção. Procure nos cantos, é de lá que vêm os gemidos. O que mata as plantas é o sal das lágrimas. E estamos todos morrendo, como ela(s). As sombras não são nada além de espíritos divagando tão perdidos como qualquer um que eu possa ver. Mas não quero ver ninguém, não quero nada. Queria que tudo fosse embora.

Ela diz exatamente tudo que eu sinto. Mas ela não sabe, e está sentindo agora o que sempre viu em mim e ignorou, fingiu não ser nada. "Não é nada!". Assim, simples, cinicamente acreditando nela mesma. Tem o dobro da minha idade, talvez mais. Nossa diferença é que ela não viveu, enquanto eu luto para não sobreviver. E como pode se abrir tão facilmente daquela maneira? Quase sinto inveja se já não sentisse outras milhões de coisas por ela. Meu pecado é desejar que fosse muda toda vez que grita. Então choraria em cima dela. Queria que ela fosse embora.

Minhas dificuldades aumentaram porque tentam tampar minha visão. Meus olhos que nunca olham o que está, porque a cabeça quer que (a)voe, e o coração. Seu "lar" na verdade nunca existiu, e se existiu, nunca fiz parte dele. Como eu posso chorar por alguém que nunca amei? E ninguém ouve meus pedidos de socorro abafados pelos seus.







...socorro...



































...socorro...




























...Adeus.

A farsa lavada

A chuva que bateu na janela pela manhã despertou quem dormia ali perto, correndo o risco de se molhar. As densas gotas d’água caíam no rosto ainda dormente para alertar sobre o que viria em seguida, como se a água fosse capaz de prever mudanças e ainda descrevê-las com a finalidade de possibilitar maior precaução.

O rosto molhado e atônito dirigiu-se ao espelho do lavabo e constatou que a profecia da chuva já havia se iniciado: não se reconhecia. Não pela fisionomia que lhe parecia a mesma desde a época em que ainda não sabia andar ou mesmo se expressar sem ajuda, mas pelo que ele representava por trás daqueles traços palpáveis e disformes.

Não era o mesmo rosto, por mais que apresentasse alguma semelhança. As olheiras fundas de cansaço acumulado e a sobrancelha perfeitamente desenhada numa tentativa de compensação. Agora no espelho não via nenhuma razão para amenizar algo que a sua própria realidade escancarava em sua face. Dezenas de minutos se passaram enquanto os olhos se viam por meio de um reflexo querendo entender porque tantos outros minutos foram gastos na produção desta farsa.

A feição amena provinha do esforço ditado por um motivo já desaparecido e, com ele, até mesmo sua essência transposta por características mais aceitáveis havia sumido. O rosto não se via e nem reconhecia o que era visto, por pouco não se apresentava como um estranho que teve a ‘impressão de já conhecer o outro de algum lugar’.

Sua imagem já dizia nada a seu respeito e o que ela mostrava o fazia esquecer de quem realmente era; sua imagem o denegria da maneira mais sutil e, um tanto pior, com o seu consentimento. O desespero tomou conta do rosto anônimo e logo ele se pôs em baixo da corrente de água fria despejada pela torneira complacente. A água da chuva o havia alertado, por isso talvez esperasse algum milagre da água encanada, mas a imagem estranha continuava inerte, estampando seu conteúdo incógnito.

Aquela impureza provavelmente era demasiado concentrada para ser eliminada com tão pouco. Tentava, então, o sabonete, a esponja, o sabão em pó, o detergente e, em sua última tentativa, pensou em recorrer à cândida. Antes que a pusesse em sua pele, já sem qualquer esperança de obter um resultado positivo, lembrou que a limpeza de seus pertences domésticos e até mesmo da água que bebia poderia ser feita por efervescência.

Levou uma panela de água ao fogo e, quando as bolhas subiram declarando seu estado máximo de pureza, o rosto invejoso mergulhou-se nela até que ele não pudesse mais sentir o seu processo de re-estruturação por desintegração. Sem sentidos caiu no chão da cozinha e, até onde pôde, esboçou um sorriso. Agora não seria mais reconhecido pelo que não sabia o que era: em carne viva sentia-se mais próximo do que de fato era. Satisfeito, só esperava que ainda estivesse chovendo para ir, de corpo inteiro, agradecer.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Ever After

Como dizia Vinicius de Morais, “que seja infinito enquanto dure”, e eu acredito que dessa maneira funcionam os relacionamentos e o amor. Tudo é eterno, até acabar. Momentos ficam marcados para sempre, nunca nos deixando esquecer que algo existiu. Latentes em tudo o que você representa, te construíram.

No entanto, os finais felizes nem sempre me deixam feliz. O sofrimento, a amargura, a morte, são mais marcantes. E, ao invés de um sorriso no rosto, deixam um aperto no coração. Te fazem remoer os fatos e cenas, até lacear um pouco o nó na garganta. Você continua não entendendo, e não querendo aceitar, mas ele estará lá enquanto o sorriso já tiver abandonado o rosto dos outros.

A cada fim do para sempre fico imaginando até quando tudo durou. E penso que não há final de contos mais inteligente do que os alemães: “und wenn sie nicht gestorben sind, dann leben sie noch heute”.

Uma bala pra você que compreendeu.

Pois, então, seria a solução começar, sabendo que, quando acabar, durou?

A falta de duração deixaria falhas na construção?

E se, chegada a hora do para sempre, nada funcionasse por não haver precedentes?

E se o filme da minha vida estivesse fadado a um final feliz? Seria assim tão ruim?

Preferível a sofrimento, amargura e mortes.

Ou, talvez, eu esteja só confusa. E a mistura de vida real e fictícia seja inevitável nesse momento.

Mas, e se?





*ta, eu não seria tão má: “e se eles não morreram, vivem até hoje”, e isso deveria bastar.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Continuamos o revezamento.

Aproveite a rodada!

Paper bag

Resolvi que é melhor andar devagar. Que nesse ritmo as coisas acontecem. Enquanto corro, esbarro e derrubo todos eles. Derramo possibilidades. Chego nos lugares sempre cansada, impaciente, contando os minutos pra sair. Se tivesse uma maneira melhor de ir. Um caminho mais curto. Minhas neuras, seus problemas, uma estrada e a sua boca.

Mas, os caminhos não existem. As neuras ficam. Seus problemas continuam. Não encontro a estrada. E, a sua boca fica por aí soltando algumas palavras ao vento.

Vou me mover do meu jeito. Andar e dançar conforme a música que eu escolher. Brincar de imitar a nêga. Fazer da mesa um piano imaginário. Meus dedos no ar como se pedisse mais uma dose de alguma coisa que faça meus olhos brilhar mais.

Ontem, eu andei. Desci e subi todas aquelas avenidas que passamos um dia juntos. Conversando sobre nada que encurta-se o caminho. Andei devagar por todas aquelas ruas. Com um copo cheio de um líquido rosa, da inauguração de umas lojas, naquela rua. Na rua do nosso bar. Só que do outro lado. Na rua da nossa casa. Mas, era longe dela.

Atravessei as avenidas. Andei. Andei, ainda devagar conversando sobre os caras. Os caras que já morreram e transformam a ficção deles na nossa realidade.

Eu e a minha amiga paramos entre fumaça e garrafas, conversando sobre esses que de um jeito qualquer nos faz querer encontrar o caminho. Naquele lugar que já não consigo classificar como um boteco na praça. É o meu boteco. O meu canto. A minha segurança velada por essa cidade. Debaixo dos pés das lembranças. Paramos e, não preciso te contar, não achei o caminho. Mas, ainda tenho a séria intenção de só me mover do meu jeito.

Nada que caiba aqui

Poderia até falar do silêncio e de como ele tem ocupado os espaços e os desespaços do meu cotidiano. Ultimamente ando tão lacônico, que até meus botões parecem me questionar de tanta falta de qualquer sussurro. Acho até que encontrei de vez a verdade, encrustada na estagnação dos ruídos.

Mas ele (o silêncio) me diz tantas coisas, que prefiro não agir como os tais botões, e por segurança qualquer, fico assim, sem ter muito a questionar. Carrego todas aquelas malas no trem. Voltar pra casa tem sido sido raro nestas semanas. A promessa de tudo o que há de vir é tão grande que nem cabe nos meus pensamentos. O silêncio retorna, mas o coração acelera com a ansiedade causada por pensar na possibilidade de vê-la. Eu poderia sentetizar nós dois em poucas palavras. E eu até sei resumir, ainda mais nestas condições. Ela, sem dúvida, é uma destas que chamo de mulheres da minha vida. Tirando minha mãe e minha amada, acho que ela ocupa o lugar mais próximo, e um dos mais espaçosos nesse meu coração de sonhador.

Não consigo nem esconder o contentamento e a ansiedade que me invadem, só de saber que a verei. E apesar da demora, tudo chega em seu tempo. Ela vem com o sorriso discreto que sempre tem, e o jeito de menina eterna. Eu finalmente a entrego o abraço, que há tanto tempo tenho guardado. Nada é diferente. O tempo passa, mas a sintonia ainda é tão grande, como nas vezes em que vivíamos coisas simultaneamente, em lugares diferentes e descobríamos depois a coincidência dos fatos. Apesar de surreal, causava um contentamento estrondoso.

E tudo isso me deixava feliz. Me deixa feliz, mesmo quando faz com que o silêncio impere sobre nós. E, ao contrário do desconfortável, eu me sinto bem, só de ouvir sua respiração. Quase sempre fazemos as mesmas coisas, e incrível como nada torna-se batido. Temos na simplicidade dos momentos, as construções mais maravilhosas e valiosas que carrego comigo. Às vezes pouco falamos de nossas vidas, mas sabemos sempre de tudo. Sonhamos coisas juntos, e também esperamos o dia em que conheceremos as respectivas garotas.

Quando ela vai, a noite já se fez há algumas horas. Todo tempo ainda parece pouco quando nos juntamos, mas a leveza posterior é indescritível. No fim, todas as promessas penduradas nos post-its do quarto ainda berram por atenção, mas não as trocaria pela tarde que tive. Têm sido engraçados os dias de engasgo e a falta de eloqüência que tenho quando tento escrever. Nada parece ser tão justo como as coisas são. Mas acredito que nem em meu melhor estado, saberia descrever o que ela é pra mim.

Incompleto e ainda cheio de palavras a serem ditas, eu encerro. Mas ainda carrego a vontade de poder passar mais um tempo com ela, falando sobre o nada, dividindo risadas e sonhos, curtindo nosso silêncio.

Sorriso de quem?

Eu não sou adepta de casamento, pelo contrário não tenho a mínima vontade de casar e jamais me imaginei num longo branco e flores na mão.

Hoje eu vi uma camiseta que tinha um desenho de um casalzinho de mãos dadas, ele de terno e com uma boquinha de tristeza e ela de noiva com um sorriso de orelha a orelha e acima escrito Game Over.

A idéia é boa, mas porque é só fim de jogo para ele? Que preconceito, coisa mais machista achar que todas as mulheres passam a vida esperando o momento de casar, de agarrar um macho para acasalar, ah faça-me o favor.

Odeio certas atitudes machistas como achar que é a mulher que deve cuidar do homem. Como quando meu namorado estava saindo da casa dele para morar sozinho na minha cidade e tive que escutar, e ainda sorrir por respeito, a vó dele me falar: - “Cuida bem dele viu?” ah que cuidar! Veja a idade do marmanjo, ficam achando que toda mulher tem espírito materno? Minha maternidade é latente para cuidar de bichinhos e só.

E a história de fazer enxoval? Como assim? A mesma vó que citei acima me deu um conjunto desses troços de pegar arroz e feijão e eu nem sei cozinhar. Minha mãe que usou o meu conjunto de colheres que tinha até umas flores no cabinho, bem feminino.

Tem que ache que casais devam sair somente com outros casais, putz que coisa mais chata, fica aquela conversa idiota de como se conheceram, que compraram geladeira, que querem dois filhos e que a lua de mel será na Praia Grande. Com tanto assunto interessante, porque iria querer falar dessas coisas com alguém? Desculpe a franqueza, mas isso não me interessa em nada.

Que fique claro que muitas mulheres namoram porque gostam da pessoa e não porque querem casar e constituir família somente. E que também essa idéia que casamento é torturante apenas para o homem é a maior mentira já inventada, porque é muito mais penoso uma mulher conviver com um homem do que o contrário.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Venus in Furs

Meus olhos fecharam-se e minhas pálpebras já não mais me obedeciam. Caminhava cego pelas ruas, porém despreocupado. Era um caminho de todo dia. Só via o que era necessário. Sendo assim, os olhos tornaram-se obsoletos naquela terra. Não havia mais função alguma para se usar a visão na rotina. Quanto descaso.

Sentia a brisa daquela noite. Um sopro delicado acariciava meu rosto. Esquecia meus tênis e sentia o que devia sentir. Andava cada vez mais rápido e arrancava minhas roupas. Elas nos fazem escravos. Aqueles que ainda tinham olhos, me olhavam. Suas vozes eram abafadas porque nada interessante diziam. Como sempre não dizem. Meus ouvidos não eram necessários para mais que aquela música em meus ouvidos. O chão cada vez mais distante se despedia de mim contente por aliviá-lo.

"Abra os olhos" ecoava como se fosse de dentro de mim. Passeava pelo céu gelado e me enrolava nas nuvens para suprir o frio. Aqui me sentia extremamente bem, nesse vazio. Sentia o vento cortar-me os póros fazendo-me sorrir. Eu queria mais. Queria o calor de uma estrela. E nada me impedia.

Era uma longa viagem, conforme atravessava camadas de tempo e espaço, eu ficava mais velho. Cada vez mais. E mais fraco. Aquilo me consumia, mas eu só me permitiria morrer no calor do colo de Afrodite, na luz das estrelas. E lá pereci. Quanto mais me aproximava, mais escura elas ficavam. Quanto mais perto chegava, mais frio ficava. Meus pequenos sóis, minhas doces ilusões. Rochas retraídas e mortas como eu. Cansado, comecei a esfarelar e enrijecer. Já não conseguia me mexer. Aquela luz eram os olhos da paixão. Seu calor, era desejo. E pude entender o porquê de todas aquelas estrelas no céu.

Curva desreguladora

Movimentos retilíneos e constantes são executados de maneira quase imperativa pelas pessoas ao longo de um dia inteiro. Ninguém os convida, nem vê opção para que seja diferente. A dinâmica corporal é um hábito que nada tem a ver com as vontades de quem a permite; muito pelo contrário, ela é tão intrínseca e particular que foge aos regramentos estabelecidos por cada um, garantias da personalidade conduzida.

Os passos são dados de maneira débil, insegura e lenta, os gestos são dispersos, a escrita é regida por outro ritmo independente do que carrega suas idéias e a dança é interna, imperceptível aos olhos de quem julga vê-la. Uma descrição banal como essa sobre a postura dos indivíduos a partir de sua movimentação leva à formação de sua imagem, apesar de todas as singularidades entre um movimento genérico e outro. Como dizer, por exemplo, que a caligrafia é uma extensão da personalidade e a observação de uma frase escrita em letra corrida pode desvendar alguma característica pessoal?

O costume adquirido em anos e alguns fatores mais específicos são desprezados por “analistas” que costumam aparecer com mais freqüência em programas de televisão direcionados a donas de casa, ou revistas cujas pautas são selecionadas pelos próprios leitores. Eles traçam um perfil pelo contato mais superficial e padronizado que puderem ter dentro do limite de cinco minutos. Como em sessões de terapia, a esperança é a de conseguir incluir a pessoa em um determinado grupo para deduzir o modo como deve se lidar com ele.

Algumas das características individuais são atropeladas para possibilitar o encaixe em moldes pré-estabelecidos e eles já existem em diversos departamentos, cada vez mais fragmentados, visando a maciça inserção por algum aspecto em comum. Desde um posicionamento político ao modo como dirige o olhar, as pessoas estão aptas a se incluírem em qualquer grupo que quiserem e, dentro deles, a serem analisadas de maneira uniforme por qualquer um de fora que pensar ser conhecedor de tais especificidades.

Ao apressar o passo, você é posto num patamar de urbanizados, inquietos e compromissados. No entanto, feito o contrário, o relaxo é ressaltado e levado às últimas conseqüências, podendo ser considerado fruto do desinteresse pelos dias que só passam. O meio termo entre estes dois extremos é omitido por não ser denunciador de nada muito interessante, neste caso, o grupo é comum demais para ser levado em conta. Há necessidade de beirar o extravagante, contudo isso não ocorrerá enquanto existirem muitos adeptos do mesmo trejeito.

Diante de tantas ocorrências de “inclusão”, sobra pouco espaço para as curvas daqueles que desvencilham-se do movimento padrão em linha reta. Sento-me na guia desta estrada para acompanhar estes que rasgam os blocos congestionantes, já que, quando são desmembrados, qualquer movimento recupera sua singularidade e ganha novas opções para a trajetória.

domingo, 2 de dezembro de 2007

It's what you do to me

Você chegou sem avisar. Tomando conta dos espaços, preenchendo o vazio. E, de repente, eu te tinha por perto, e tudo parecia certo e correto e seguro. E quando você sorria, eu sorria, e você me fazia feliz, como nunca, como sempre. E era bobo, e me contava histórias que eu não entendia, sempre falando, eu sempre sorrindo. Você chegou, descarregou as malas, e quando o caos passageiro da mudança acabou, as emoções se normalizaram, deixando a alegria e sorrisos.

Os dias pareciam completos, e minha imaginação tinha a quem retornar quando se via perdida em delírios e preocupações inúteis. Eu te usava como ponto fixo, me mirava em seu reflexo criado em minha mente quando não achava onde me apoiar. E dessa maneira, me prendendo a você, enfraqueci. Quando, naquela tarde, você me deixou, não só minhas pernas fraquejaram com o peso de sua decisão, o coração trincou, e, por um momento, pensei que não suportaria os arranhões dos estilhaços no peito.

E então você se foi. Naquela tarde. Só me deixou ouvidos impregnados com sua voz, meus olhos, e seu rosto. Pra onde olhava, te via. Voltei para aquele mesmo lugar. Foi ali, entre sexo, drogas e pubs irlandeses. Naquela tarde, na frente da igreja, o pôr-do-sol dava um ar dourado às torres da igreja. Papéis que anunciam algo numa língua estranha espalhados pelo chão, pombas, lixo, pessoas e você. Foi ali que te achei. Naquele tarde de sol dourado.Você com seus três amigos, tirando fotos em frente à Madame Tussauds. Você olhou, e naquele olhar, tontura e pânico, me perdi. Foram poucos segundos, separados pelo asfalto e a faixa de pedestres, antes que o farol abrisse e a multidão te levasse embora. Procurar-te não foi suficiente, perdi o instante mágico daquele olhar, que enganchou na minha alma e machucou ao separar-se. Em algum momento, inebriada por sua falta, o enxerguei. Foi um daqueles sorrisos, sabe, meio de canto, que nos faz pensar em milhões de possibilidades que poderiam ser, mas que logo deixam de existir. Quem dera ter ouvido minha razão e, então, o pessimismo convicto tivesse mantido as chances queimando lá dentro. Continuariam a arder, e não causariam os estragos que você provocou. Entre tantos outros sorrisos, você foi Amsterdam.

Sempre foi assim. Coleciono olhares, donos de sorrisos. Por onde passo, te acho. Você com o cabelo bagunçado e os olhos cansados, você com aquele brilho intacto e os dentes a mostra, você com os pés no chão enquanto os pensamentos voam. Os olhares me atraem, as possibilidades aparecem e tudo acaba com um belo sorriso. Guardo a lembrança como um retrato em minha mente e despejo as idéias que assombram o futuro no espaço da imaginação. Porque assim é tudo mais simples. Meus dias voltam ao normal, e as ilusões não me sufocam.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007




E muito felizes, apresentamos a 14º edição!

Know you now

Abriram a porta sem avisar. Entrarem sem pedir licença. Colocaram os pés na mesinha da sala. Mexeram no meus cds, reviraram meus livros, buscaram minha verdade na palavra de alguns Deles. Fizeram tudo isso com meu consentimento embriagado. Foi assim com todos eles. Pra você eu abri a porta, deixei você entrar, permiti seus pés na mesinha, mostrei as músicas e te empresto os livros mas, você parou na porta, quieto, observando meus olhos como se fosse capaz de enxergar além deles. Os meus olhos e os seus ligados por uma linha de impossibilidade.

Nossos corpos se cruzando em momentos de alegria extrema, como não são comuns, em nenhuma das duas vidas. Lá fora uns cachorros fazem barulho com latidos desafinados. Os gatos se equilibram em muros, mas gatos tem sete vidas, e podem se arrebentar 7 vezes. Se eu cair do muro uma vez, ela pode ser suficiente, daí você vai parar na porta olhando tudo que um dia deixei você tocar, dessa vez com o olhar cheio de saudades. Sempre pode ser tarde demais pro que deveria ter sido feito ontem.

Eu passei na frente daquele bar e lá dentro eu via aquela tarde de sol caindo sobre nossas cabeças e o mundo distribuindo música ruim e consentimento. Eu passei, mas fui embora com pressa de me livrar das lembranças. Não funciona assim tão bem esse jogo. Eu perdi a folha que a gente anotou as regras. Esqueci os números que a gente combinou. Minha memória é uma querida filhadaputa em alguns momentos. Uma pena é ela guardar o seu nome no mesmo lugar que guarda o meu. Tudo tão perto. Ah, cara, vai lá. Segue a sua vida com o que você escolheu pra ela. Vai ser mais fácil, vai ser melhor pra você, só não pergunta como estão as coisas pra mim. Elas vão ficar bem. Vão ficar melhor do que estão. O seu nome vai sumir como sumiu o deles. Ou não. Mas, o que importa é que uma hora um qualquer faz tudo aquilo com meu consentimento embriagado. Eles precisam do que você nunca precisou. Mas, pode ser tarde demais pro que deveria ter sido feito ontem.

Go to bed, World!

Bem sabia da certeza que tinha, mas a certezas acontecem quando as pequenas coisas as chamam em qualquer canto dessa cidade cheia de novidades. Eu tive a maior certeza de que tudo aumentava e que o caminho era sim para o certo e não para qualquer outro lugar, quando avistamos aqui a primeira noite de estrelas estampadas no céu.

Surpresa foi a dela ao vê-las ali piscando, na noite de terça-feira. A metrópole só lhe havia trazido noites de céu com cor homogênea e indefinida, estranha o suficiente para sempre encobrir os astros reluzentes. E nós apenas caminhávamos na madrugada, fazendo de qualquer ponto interessante, ou não, da rua, como nosso espaço de liberdade. Não tinha mais a saudade, não tinha o aperto, não tinha nervosismo ou qualquer outra coisa que desgaste o rumo de seus antônimos.

De tanto querer dizer o quanto é verdade, eu, sempre entregue a essas emoções da situação, tento transcrever mais uma vez o que foi ali jurado. Raramente duvidamos das jornadas que o destino ainda vai nos agendar, nem parecemos temer o que o futuro reserva. Tudo bem... às vezes. Mas perante àqueles olhos e sorriso, eu quase não tenho chão ou força maior que me faça acreditar em avesso de otimismos. Coisa nossa, mas que quase torna-se pública de tão explícita.

O ponto tenta me convencer de que os horários são maiores. Tenho dado tantas voltas e soltado tantas frases que me perco nesses dias tão turbulentos. Quando muito, me destino a confissões tolas para um computador, mas as dúvidas se esvaem quando lanço frases onde digo que as terças-feiras têm minha preferência. Daquelas onde o céu nos ilumina com as estrelas e a cidade inteira reflete, em seu sorriso, nossa condição de donos do mundo. O nosso.

Child

Eu fui uma criança quieta. Não gostava de conversar muito e nem de me sociabilizar com as demais da escola e de lugar algum.

Brincava sozinha, andava sozinha, lanchava sozinha e eu nem ligava, mas acho que incomodava as outras pessoas que insistiam em me comparar com as crianças mais falantes do que eu.

Daí um dia na escolinha eu conheci uma menina, a Dani. Ela era tão quieta quanto eu, na verdade nós fazíamos companhia uma à outra, mas quase nunca conversávamos, partilhávamos o silêncio sem nenhum constrangimento, era confortante não estar só.

Faz tempo que não falo com ela e que devo uma visita porque tudo anda muito corrido, mas de qualquer forma, mesmo com a distância, o sentimento de carinho e amizade permanece.

Amizade de infância acho que foi só ela mesma, porque muitas crianças me irritavam. Meu cabelo nessa época era bem comprido, abaixo da cintura, então algumas meninas sempre puxavam meu cabelo e eu sempre era muito mal humorada (não que isso tenha mudado muito). Tinha um menino que eu odiava, ele adorava me irritar e sempre tentava me empurrar do balanço até um dia que eu o empurrei de cima do trepa-trepa(nome indecente) e ele quebrou o braço. Nesse dia só confirmei como homens podem ser imbecis, porque ele preferiu dizer que caiu sozinho a admitir para professora que uma menina o tinha empurrado. Azar, ele quebrou o braço e eu nem levei bronca.

Falando em azar, eu tinha pé chato e por causa disso fiz seis anos de balé. Meu avô me levava para a aula e eu saia na rua de meia calça rosa, maiô, saia rosa e na cabeça um coque. O pior de tudo é que achava que estava bonita (é comprovado, desde pequena não tinha mesmo talento para moda).

Não bastando meu gosto duvidoso em me vestir, por culpa do maldito pé chato, eu caia demais. Em uma única semana eu caí três dias consecutivos no mesmo lugar e na mesma hora.

Na saída da escola avistava meu avô no portão, saia correndo e ploft caia! Ele me dizia: “Nina, não pode correr, você sabe que vai cair e machucar”. Ele disse isso dois dias e no terceiro quando corri e caí novamente, meu joelho ficou parecendo qualquer coisa nojenta, eu levantei, tentei tirar as pedrinhas do joelho sangrando e fui andando, mancando até meu avô, que só me olhou e eu disse: ”Tááá bommm vô, eu não vou correr mais”. A lembrança é bem mais forte do que a cicatriz que levo no joelho ainda hoje.

Quantas recordações. Acho que no meu aniversário de seis ou sete anos, minha avó, cozinheira de mão cheia, conseguiu fazer quatro bolos errados, não sei como ela conseguiu essa proeza, mas o resultado foi que os ingredientes acabaram e eu passei meu aniversário sem bolo.

Eu ainda hoje não gosto de comemorar aniversário e não sei direito se é pela lembrança da ausência do bolo ou se é por insegurança de criança anti-social de dar festa e ter somente balões preenchendo o espaço da sala.

São essas lembranças que fez quem eu sou hoje. Um pouco de tristeza, alegria, solidão e muita saudade.

Shoots and ladders

Não podemos ver o vento, mas vemos sua vontade se manifestar. 1h21 e um barulho de porta bate no silêncio. Minha postura muda como a de um cão atento. Abro a porta do meu quarto e lá vou eu. Não temo. Na verdade, tomado às vezes por um pensamento insano-sociopata, eu sempre desejei isso.


Desço as escadas e olho o escuro. Conheço a casa melhor que qualquer invasor, mas acendo as luzes. Até hoje não sei por quê acendi aquelas luzes. Mas acendi. Todas. Esquivando nas paredes, sorrateiro. Nada. Portas fechadas. Nada.
Algo gelado encosta em minha costela por trás. Me gela e falha a minha perna. Uma mão cala minha voz e outra diz para eu ficar calado. Se essa era a hora de ter medo, eu estava cumprindo o roteiro. Manda eu acordar minha família. "Acorda quem tá vivo pra não morrer dormindo". Impotente, obedeço. Minha coragem definhou ao olhá-los. Eu não tinha maturidade praquilo. E qual a idade que se atinge maturidade pruma coisa desse tipo? Hun. Me revoltei, me acalmei. Ainda não tinha problemas com o ar.


Não tem telefone. Não havia sequer uma esperança de ajuda. Parecíamos carne fresca à leões famintos. Seu rosto encapuzado gritava abafado: "A chave!" Calma. Eu vou buscar. Sempre vigiado. Ele era minha sombra, meu fetiche, meu pecado. Minha boca estava seca, mas ele me negou um copo de leite, na minha própria casa. Meu desejo maior. Vingança. E lá fomos nós buscar a chave. Nem sei de que chave ele estava falando, mas levei-o para o meu quarto. Um lugar simples, aconchegante, de paredes vermelhas.


O vento era a trilha sonora. Procuro a chave-que-eu-não-sei coincidentemente aonde guardava uma faca. Coincidentemente. Seguro-a como seguraria um amor caindo de um penhasco. Nada vai me impedir. Suas balas não vão me impedir. Que isso custe a minha vida se for preciso. Eu não ligo. Eu não tinha problemas com o ar naquela época. Minha boca estava seca. Meus olhos molhados. Deveria ser ao contrário.


Desconfiado e confiante ele se aproxima. Respira-vira-foi, tudo no mesmo fôlego. Ele olha e ri. Eu olho assustado e rio. Então é assim, uma facada? Tão rápida, e quantos tecidos pude atravessar e sentir... Não solto. Não dói. Morrer não dói. Permaneço ajoelhado, minha faca é minha cruz e não solto. Então é assim, uma coronhada? E meu nariz empurra o corpo desequilibrado pra longe. Sangue. A faca permanecia na minha mão. Sangue. Ele olha desacreditado e me xinga. Olha em meus olhos com perdão. É só o que consigo ver de seu rosto. Soa mais sincero. Ele aponta a arma em minha direção. Mas antes que ele complete o ato, eu já estava lá. O rei agora sou eu. Ele encosta na parede. Minha primeira carne, minha semelhança. Minha primeira morte. O doce gosto da vingança. Um, dois, nove. Clic, clic, clic. Clic. Ele só repetia até perecer: "Um lugar simples, aconchegante, de paredes vermelhas..."






















Queria ver seu rosto. Queria saciar ainda mais minha sede de vingança. O copo de leite que não tomei. Tirei a máscara. Era eu quem estava morto.


"Jovem acorda no meio da madrugada, acende todas as luzes de casa, acorda família e se mata."

Surpresa entorpecida

O convencionalismo semanal é encerrado pontualmente às dezoito horas de sexta-feira. A rotina ficou atrás daquela porta de vidro que causa tanto repúdio por já denunciar escancaradamente o que será encontrado no recinto. Porta maldita, mas frágil de dar pena. Os passos aceleram, ainda que não haja pressa para chegar, somente para sair dali, e a corrida impulsiona o sorriso e a leveza de quem abandona o corpo a fim de conseguir se locomover menos passivamente. A tolerância aos imprevistos também transcende o limite imposto pelo urbanismo padrão; adquire-se o super poder de permanecer inabalável e os problemas que causavam arrepios já são motivo pra riso.

Ninguém precisaria prolongar as preocupações acumuladas ao longo da semana, a menos que sejam inerentes a quem as têm. Entretanto, as pessoas não se dão mais o direito de se libertar dos deveres que não lhes dizem respeito, como se eles fossem mesmo importantes para si. Como se não houvesse nada que denunciasse a barreira existente entre os “interesses públicos e privados”, como se estivessem fundidos em um episódio só. Nesse ritmo surge a patética tendência de estar à disposição das expectativas banais e cotidianas em tempo integral, em substituição das expectativas individuais que passam a ser desmerecidas e aniquiladas.



The cars crawl past all stuffed with eyes.
Street lights share their hollow glow.
Your brain seems bruised with numb surprise.
Still one place to go.


São apenas dois dias para atenuar a semana que foi vendida e provar que ainda há espaço para ser você, alheio às determinações de outrem. Todas as pessoas se devem isso no final das contas, embora sejam poucos os que levam essa obrigação tão a sério quantos os seus outros deveres. Uma liberdade motivada por tão pouco, como poderia ser depreciada? A sociedade e seus costumes já não significam tanto quando saturam a boa vontade de alguém em uma semana útil. As ruas ficam pequenas para a indignação que circula, um tanto contida por estar atrofiada, mas ainda perceptível para qualquer um capaz de entendê-la.

Pisoteando o asfalto de maneira torpe, as solas dos sapatos esmagam mais do que o piche e as impurezas aderidas. Caminha-se para qualquer lugar para ultrapassar a sensação da última esquina de que a corrupção pelo dia-a-dia talvez possa, no futuro, fazer algum efeito.


(*) Soul Kitchen - The Doors

Ode a ele

As vezes eu fico pensando em quanto tempo gasto pensando em amor... muito. E como tudo o que eu escrevo costuma passar pela minha cabeça antes de ir pra tela do computador, conseqüentemente, tenho escrito muito sobre amor. Portanto, dedico meu texto aos desamores.

Isto mesmo, aos amores que não funcionam, que não deveriam ser e acontecer devido ao alto grau de chateação gerada aos envolvidos, inclusive a aqueles que são obrigados a compartilhar das alegrias e tristezas de um casal mal resolvido.

Durante a semana passada ouvi duas histórias deste tipo, que envolvem duas amigas minhas (e eu peço, desde agora, permissão pra contar os devidos contos – e como, mesmo se vocês não aceitarem, eles já estarão aqui, considero a permissão concedida, obrigada).

Pois então, a primeira já namora há um ano e trá-lá-lá, mas não aos fins-de-semana, que é o período reservado para brigas. É, todo final de semana recebo a mesma ligação perguntando: “vamos sair?”, e eu, boba, respondo “mas ué, e ele?”. Ele não faz, permanentemente até segunda-ordem, parte dos planos temporários. E daí a gente sai, eu passo a noite ouvindo a respeito da mega-briga que eles tiveram e da chatice e dos defeitos dele, logo prosseguida da necessidade louca de ter-lo de volta. Aquela velha história do “ruim com ele, pior sem”. A reconciliação acontece no domingo, e então eu sou obrigada a escutar suas lamúrias sobre o quanto ela está de saco cheio da relação desgastada e que isso não vai durar muito tempo. Ahan, disso eu sei, só dura até sexta, minha querida. Mas saiba que na próxima segunda teremos a mesma conversa.

Já com a outra foi tudo muito rápido, e desse jeito bem moderno, por msn. Me diga, qual o babaca que tem coragem de terminar um namoro por msn? Se ele tivesse dez anos e ainda completasse dizendo: “eu não quero andar de mão dada com você amanha na escola”, eu acharia fofo (mas daí seria pedofilia, esse não é o caso. E ok, eu sou ingênua e ainda acredito que crianças de dez anos andam de mãos dadas na escola e NÃO se beijam). Mas não, o rapaz tem 35 anos e um futuro incerto quanto a sua integridade moral. Ba-ba-ca.

Agora eu poderia encerrar o texto dizendo que é por essa e outras razões que eu não namoro, mas eu prometi não falar de amor, ou no caso, da minha falta dele.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007



Preço: $12
Com nome na lista: $8

E-mails para lista: contatojukejoint@gmail.com
com o nome inteiro, RG e digam que vão pelo susi.

Lançamento dos nossos primeiros passos impressos!

segunda-feira, 19 de novembro de 2007



Susi já é quase uma mocinha. Seu corpo e voz estão mudando!
O layout está diferente e temos um novo timbre. Agora somos seis.

O Yuri dará o novo tom no Susi, seus textos melancólicos e surreais completarão a diversidade oferecida por aqui.

As postagens também mudarão. Seremos semanais, mas publicados de três em três. Explico: dois grupos de três escritores que se intercalarão a cada domingo, compreendido?!

Durante as próximas postagens traremos mais novidades, prepare-se e aguarde ansiosamente!

Nessa edição inaugural damos seis textos de presente a Susi, esperando cativar os convidados dessa festa.


Então mexa-se, dance, e aproveite para ler uns textinhos por aqui!

Sobre cantos

Os cantos caracterizam. Mais do que a altura, o comprimento, a espessura, a textura, o material, a cor ou o odor, os cantos delimitam um tempo: A embalagem ganha seu fim em cada contorno: ali ela acaba para recomeçar mais adiante; A frase tem sua pausa a cada pontuação, que em seu formato já representa uma linearidade interrompida; Pessoas têm suas diversas curvas estabelecidas pelo que pensam, sentem ou fazem em diferentes momentos de suas vidas.

Não mero ponto convergente que também diverge, o canto sintetiza todo o processo de transição considerado desinteressante. O miolo do pão francês, por melhor que seja, nada seria se não existisse a superfície torrada. É ela que caracteriza a receita; o miolo é uma conseqüência. Até mesmo porque se não houvesse os cantos da superfície a serem tostados, o miolo é que seria e, nesse caso, perderia suas atribuições.

Mas ninguém se importa com a história da preparação do pão comprado, todos identificam o detalhe mais relevante na estética dos cantos dele. Assim também acontece na escolha de frutas em uma feira ou na compra de um carro usado. É como se eles narrassem o trajeto de determinado material apenas denunciando uma possível deformação.


Hoje em dia atenuam-se os cantos das pessoas. Na intenção de omitir o tempo que os formou, simplesmente são tirados de seu devido lugar de maneira indigna. Eles representam um certo período que não pode ser anulado e nem o seria se fosse uma questão de textura. Mas o fato é que cantos são mais maleáveis do que qualquer outra característica. Aliás, é perceptível até um certo desrespeito com alguns que pareciam imutáveis, como o da melancia que acatou a inovação de ter só quatro em lugar de seus inúmeros naquele tradicional formato esférico. Enfim, delírio cubista dos chineses.

Não sei exatamente até quando é aceitável a tolerância com a alteração dos cantos já acomodados. Percebo que isso pode desencadear uma reação incontrolável de mudanças conceituais, afinal, mal conseguimos estabelecer alguma definição sobre os cantos e agora já se pensa em generalizá-los.
Evito a homogeneização que se dá pelos arredondamentos insistindo em permanecer nestas quinas avessas.

Happy Mess

É uma bagunça. Quando tenho um pensamento não encontro a caneta e quando a tenho ele já foi embora. Assim como meu quarto que não acho nada, mas ao menos não me perco dentro dele. Na verdade é lugar que me acho e sei quem sou. No meio da cama, na porta do armário, nos livros, cd´s e papéis. Eu completo o ambiente, não sou invasora, sou peça essencial, sem eu, ele não precisa existir.

Os invasores são os que não me deixam dormir e que me convencem que a escrita é sua única forma de existir. Todos têm direito a vida, certo? Os torturadores, sádicos, apaixonados, dramáticos, frios, pessimistas, alegres, imbecis, falsos e até eles, meus pensamentos.

E eu estou bem no meio desse caos e de ter com quem me dividir, estou feliz como nunca dentro desse furacão. Agora eu recorto os momentos, alguns eu guardo comigo, outros reciclo para aprender algo, e muitos, jogo no lixo. Não tenho mais apreço em manter o que está velho e caquético.

Eu recorto certo e colo errado, tento arrumar e pioro. É isso mesmo, sou assim, uma tentativa atrás de outra. Coleciono muito mais fracassos e sei que ainda terei outros. Mas no momento eu estou bem. Tão simples quanto admitir que sou loser é saber que posso ser o oposto a qualquer momento também.

Sou uma Dorothy que olha com felicidade seu cachorro e sua casa voando, porque sabe que mais cedo ou mais tarde tudo volta pro chão.

Na incoerência eu consigo ver sentido e minhas palavras tortas parecem certas.
O que tenho de falso serve pra justificar o verdadeiro, os defeitos existem pra lembrar que tenho qualidades, minhas lágrimas caem pra depois me fazer rir, meu riso descontrolado para me mostrar que sou capaz de controlar minha vida, meu pessimismo para ter ciência que nem sempre posso ser feliz e minha felicidade incoerente para provar que nem tudo deve fazer sentido para ser bom.

Lacrado

04:23. As coisas são sempre assim. Basta ouvir aquela música que combina com tudo o que eu sou agora, às 04:23, pra desembestar a ansiedade que circula por todas as partes desse amontoado de carne e osso que eu virei na madrugada.

Abro tudo o que esse amigo de placas e sistemas me permite pra socializar com os amigos que a vida trouxe, virtualmente ou não. O "sempre" sempre volta, ninguém compartilha a insônia comigo. Acordar alheios seria trabalhoso demais, confesso que agarraria qualquer adicionado em alguma dessas tecnologias. Inúteis no momento, diga-se de passagem. Me refiro às tecnologias, digo para esclarecer.

Aqui tá tudo muito pequeno. A janela é passagem ilusória em que eu tenho vontade de me atirar e engolir tudo lá fora. Mas não. Surrealismo na hora errada. Hábito adotado momentâneamente pelo nervosismo da busca por palavras sólidas que reconstruam o solo perdido. Ou seja, dor na ponta dos dedos, unhas roídas. Patético.

O tremor dos olhos investigam cada canto do cômodo. Muito barulho. Os ouvidos quase pedem arrego a tanta subversão de sons. Bebo tudo o que tenho, pena não ter o que preciso pra suprir a inquietação. Os ícones piscam, parecem ser a única coisa "viva" a me fazer companhia. Queria um quarto selado.

O estalo ajuda a pungente dor na nuca trazer alívio. Efêmero. A postura é sempre citada nas conversas. Bendita. O sono desregrado também é tópico preferido. Desprezível. O vento invasor causa arrepio na espinha. Apreensão. O som alto acarreta na perda de audição. O quê?! Ganha-se a timidez.

Conforme a síndrome autoritária dos ponteiros revive o paradoxo do tudo mais distante e próximo, o arquejo dura mais que o esperado e a persistência em dividir o momento com alguém morre aos poucos, dentes escolhem outro alvo. Possuo uma compilação de tampas de caneta. Olhar ao céu. Agora mais claro. Saudade mais ampla que toda essa extensão.

Engasgo. Desistir é opção válida. O botão que tudo apaga cumpre sua função e o grito aqui perde a força. Já deitado, eu só espero me livrar de todo o barulho insistente. Muito barulho. Mesmo sabendo que dentro do quarto, nem mesmo um sussurro tenha se pronunciado.

'Ficção é a realidade melhorada'

Se eu adiar todas as oportunidades, pode ser que um dia daqui muito tempo, ele se recolha ao pé da minha cama e então, arrependida, o diga tudo que sempre quis. Todas as coisas que ele gostaria de ouvir e eu ficaria extremamente aliviada em dizer. Os dentes que ele gostava de ver e desde então eles remetem desespero. Os meus olhos de paz, guiados por ilusão. O sentido todo vazio. O medo entravando cada pedaço do que eu chamei um dia de coragem.

As nêgas cantando coisas tristes no som do meu quarto mórbido. Como elas fazem agora, no meu quarto colorido. Do lado da estante com meus livros. Na frente de um dos caras que me prova a cada nova linha que amar é impossível de definição. Porque ele falou dos sentimentos ruins e neles eu vejo todas as coisas boas do mundo. O gosto dos outros. Algumas pessoas que falam, falam o tempo todo, e eu continuo acreditando no meu fone de ouvido e nos livros. Eu continuo acreditando no que comprei para ontem.

Você levou tudo quando carregou o meu coração. Debaixo do seu braço descansei minhas mentiras. Encostada no seu peito compreendi as palavras do mundo. Dentro dos seus olhos conheci a paz. Mas, tudo isso foi muito pouco para manter a vida nos trilhos. A minha calma no lugar. E o mundo parado. Tudo é sempre pouco quando a gente precisa manter o mundo parado.

Dentro da praça Roosevelt ou na Augusta, os meus fantasmas se congelam, algumas pessoas congelam as minhas expectativas e eu aceito tudo que tem para hoje. É o preço do meu amanhã e eu vejo em olhos sinceros que eu sou sujeito da minha história. O resto é objeto intransitivo, não dá pra manipular a vida e nem transformar ninguém em personagem. Tem coisas que vivem melhor em palavras e são nelas que fica minha falta. São em palavras que penso enquanto deixo as oportunidades esmurrarem a janela e continuo com o livro do cara na minha frente, dois dvds de filme bom me esperando, o celular desligado no sábado à noite e as músicas tristes como são as mais belas.

É quase tudo verdade, o resto, faz parte da página 853 de um livro sem fim.

Hella

É engraçado como não guardo tantas lembranças da última viagem. Talvez por ter sido a mais longa, o cansaço me obrigou a esvaziar a cabeça. Mesmo assim foi a mais representativa, sonho de consumo, sabe?

Quando criança sempre fui apaixonada por mitologia grega. Interpretava personagens no teatro, escrevia peças para a escola, lia e relia a Ilíada e a Odisséia constantemente. Para qualquer um que perguntasse, respondia que meu livro preferido era “O Livro de Ouro da Mitologia”, adorava. A Grécia me encantava, e foi assim, encantada, que realizei meu sonho nº1: Atenas.

Minha memória falha quando tento relembrar o percurso inteiro. Mas eu lembro que tinha sol, que eu pude usar blusinhas de manga curta, que eu estava gorda, e que a Acrópolis é maravilhosa! Montes de templos e ruínas, pedras brancas, vistas fantásticas, tudo é mágico. Pra curtir o momento, enquanto estava no mirante, deitei no parapeito e tomei minha primeira apitada, que seria seguida de muitas outras. Tudo lá era proibido. Piiiii, não pode deitar no murinho. Piiiiii, não pode tocar na parede do templo. Piiiiii, não pode tirar foto atrás da estátua sem cabeça colocando sua cabeça no lugar. Ah, droga!

A não ser os guardas chatos, os gregos são gente boníssima. Tão calorosos e animados e falantes e brasileiros. A língua é uma piada a parte, é de se fazer rir saber que alguém entende aquele treco. Aliás, aprendi algumas poucas coisas interessantes, do tipo: Hella em grego significa Atenas, mas é também oi. Isso, oi! É um tal de Hella pra cá, Hella pra lá, e eu respondia sempre sorrindo: Hella! Repita você também, soa tão feliz!

Durante os dias quentes, os gregos sentam em mesinhas bonitas colocadas na rua em frente a Cafés e tomam um negócio parecido com frapê de Café, sabe, daquele com bastante chantilli num copo alto e chique? É isso, bem gostoso e bonito.

Lá também tem praia, e eu fui. Não é nenhuma maravilha, tem pedras ao invés de areia, mas a água é salgada, e eu pude molhar meus pés cheios de bolhas. Fui também ao estádio olímpico construído pra as Olimpíadas de 2004, que agora parece uma cidade mal-assombrada. Imagine um lugar lindo, cheio de azulejos e murais de pedras lindos, e sem uma alma viva. Agora imagine o que aproveitei pra fazer ali. Isso, eu tirei mil fotos imitando estátuas gregas, e sem levar apitadas desta vez!

Peguei o Ferry e fui para Ägina, uma ilha grega cheia de casinhas brancas parecida com Mykonos, que, depois fiquei sabendo, devido ao sucesso da novela global, todo mundo conhecia. Lá visitei outros templos, do outro lado da ilha. Perdi o ônibus na volta e fui obrigada a voltar andando para o lado certo da ilha. Já não gostava mais de sol e calor, principalmente quando tirei o óculos de sol e me vi usando uma máscara da tiazinha, diabos.

Em meu último dia de Atenas comprei um doce grego que marcou minha viagem. Era um daqueles doces cheios de melado e açúcar, e eu consegui me sujar tanto comendo aquilo, que minha bolsa e blusa foram para o lixo. Não tinha como desgrudar aquela meleca de mim. Pois é, que doce marcante.

De lá ainda seguiria para Roma, Florença e Veneza. Foi uma longa viagem, cheia de detalhes que eu não consigo me lembrar direito. Que Mnemósine me ajude da próxima vez!

Susi não anda mais sozinha, ...

"A Susi não quer mais rezar
botou piercing, roupa preta e all star
ela só quer, só pensa em namorar
que nada
quer fuder, beber e fumar

Nana neném que a Susi vai pegar
boneca com defeito de fabricação
ela vai brincar contigo ela vai te controlar
te jogar na caixa de brinquedo e roubar teu lugar." ¹

Foi numa conversa despretenciosa que a conheci. E assim fui levando. Desencanados, conversávamos sobre o mundo, suas viagens por ele; seus amores perdidos. Ora tão simples e romântica, ora me engana com palavras difíceis. Sua descrença me simpatiza mais, e sua depressão me deprime.

Viciante, nos encontrávamos num intervalo de pouco mais de uma semana. Que demora. Mas não tínhamos tempo pra antes. Foi numa conversa despretenciosa que a conheci. Era ela quem sempre falava mais. Seu papo às vezes me cansava. Mas ela se refazia a cada instante e retomava minha atenção. Outras vezes, o silêncio em que parava pra pensar doía. Nunca chegamos a nos abraçar.

Seu comportamento dislexo, porém organizado, é algo intrigante. Ela nunca admitiu, mas tenho certeza de que também segue a Bíblia dos Dados, e se joga no acaso. Ela é colorida. Seis faces. Seis lados incoincidentes que se encontram em pontos comuns. Talvez seja esse seu segredo, sua essência sedutora. Talvez seja esse o motivo da minha insistência. Minhas visitas religiosamente programadas. Mesmo que nunca tenha me dirigido diretamente as palavras, ou me tocado. Mesmo que nunca me tenha tido em seus olhos.





... Pois nos têm ao seu lado.

¹. Trecho da música Susi, da banda Medulla.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007


Enquanto a 13º não chega, aproveite a 12º, curta o presente esperando por um futuro cheio de novidades.

Ria, chore, goste, desgoste. Leia.

E mesmo não sendo nem 1/10 tão bons quanto quem lemos, fica a tentativa.

=)

Nome pulsante

O ruído robótico contagiava causando euforia e descontrole dos inúmeros movimentos que o seguiam, incessantemente. As percepções da multidão variavam de acordo com a batida, mas não destoavam daquilo em que eram focados os demais sentidos; elas apenas palpitavam.

A dança expressava a satisfação propiciada pelo som como forma de recompensa a ele. O ambiente se completava com qualquer um dos componentes da cena que se deixava envolver, e estes não eram raros. Aos que renegavam o estrondo magnético, havia o castigo de não mais tê-lo diretamente para si. Pouco depois já haveria razão para pedi-lo emprestado a quem estivesse próximo, embora não houvesse pessoa alguma disposta a abrir mão da parte que lhe cabia neste deleite conjunto.

Fora de um padrão em que todos buscam divertir-se pelo mero prazer que isso representa, ali o regozijo aparecia de maneira bem mais particular, quase íntima entre as partes envolvidas. Com braços erguidos, corpo entorpecido e olhos atentos a qualquer estímulo visual, o bloco sentia-se, enfim, justiçado pelas tensões sentidas anteriormente.

Esquecia-se por um instante dos assuntos pendentes e dos que foram encerrados com pesar, mas não propunha reflexões futuras. A sensação era somente dali, naquele momento, enquanto durasse o tum-dum. Só então o mundo das preocupações já banais estaria paralelo. Contudo, o que não era exatamente uma inquietação muito silenciosa poderia se encaixar no contexto, e foi para tal exceção que um vocábulo veio se confundir com as batidas dando a impressão de serem todas uma única e estrepitosa referência a ele.


O nome ecoava e embriagava até o fim de cada seqüência sonora, para depois recomeçar na próxima. Uma melancolia vinha atravessando aquele barulho para fazer cócegas e desestruturar a dança. Esta, sim, destoava dos outros sentidos, era real e duraria um tanto mais. Sua oscilação corpórea era demasiado sincera e fazia do cenário psicodélico uma brincadeira doentia, espontânea e contraditoriamente sóbria. Uma palavra que acrescentava à ocasião, enquanto seu significado se ausentava.

Daqui pro inferno

As luzes foram acessas tem muita gente nas ruas e carros enfileirados.

Pessoas vazias carregam suas sacolas cheias de embrulhos esperando que com sua entrega sejam diferentes.

Volta o velho que não é comunista e nem integrante do White Stripes, mas sempre usa vermelho, branco e preto para atazanar as idéias dos mais velhos e iludir os mais novos.

E assim segue a compra do peru, das nozes, daquelas frutas secas horrorosas que nunca ninguém come e sobra para o próximo Natal, do presente do inconveniente amigo secreto, a roupa nova para ceia e a discussão familiar de onde será celebrado o nascimento do Natal...ops...digo de Cristo.

Nessa época todos são tomados de sentimentos de amor e carinho e eu sempre fico sem esse espírito aí e só me resta o de porco mesmo. Porque esse lance da manjedoura, dos burrinhos e afins me irrita. Nada contra a história e quem curte ela, mas pra mim não funciona.

Ao contrário da maioria, normalmente nessa época ao invés de sentir amor e carinho pelos meus semelhantes tenho raiva deles.

Muitos acham bacana acordar cedo e pegar ônibus até a 25 de Março para comprar bugigangas que brilham, cantam e se mexem, mas eu não acho legal ter que disputar lugar para sentar com um velho que só funciona com quatro pilhas ou com uma árvore morta que espera dar vida a casa de alguém.

Não bastando toda essa chateação, ainda é preciso rever toda sua família, inclusive parentes que você nem lembrava que tinha, gastar com coisas inúteis, comer coisas ruins.

A ironia de tudo isso?Essa é a época do ano que eu menos tenho vontade de ser sociável e sorrir, em que tudo conspira a favor do mau humor e de um alto nível de irritabilidade.

Meu pedido de Natal? Que ele acabe logo.

Love me or leave me

Tudo muito rápido. O começo. O meio. O fim. Parece que tudo foi uma coisa e não houve se quer uma divisão de tempo. Desorganização. Corpos, o meu corpo. Uma mentira, nossa verdade.

O chão debaixo dos nosso pés se desmanchando e você parado naquela janela achando que o céu sorria para você. Garoto, você às vezes é tão cheio de imaginação. Tanta ilusão, e me faz falta a verdade segurando a minha cintura como foram aqueles dias. Seu olhar está sempre perdido. Você não desisti de ser ele, mas eu já te falei que ser velho não é fácil, e ser velho como ele não é possível. Ele tinha a Linda e você tem uma invenção da sua cabeça.

Perdi todas as minhas palavras naquela mesa e, nesse quarto sinto raiva dessa janela e das suas costas. Se você sair agora, vou ficar vazia como nunca estive antes. Se eu largar essas coisas aqui, talvez nunca mais encontre o caminho de casa. Meus passos trocados com a saudades. Minha cabeça foi para longe, garoto. Meu corpo tenta e eu percebo que não posso. Nenhum esforço move qualquer músculo. Meu cérebro acelerado e os meus olhos só encontram as suas costas. Você acha que o céu te sorri. Você acha que essa cidade te tem nos braços. Você acha tantas mentiras e, não sei porquê não me nota de verdade dentro do seu quarto. No meio da sua vida.

Eu cansei de programar. De procurar coisas que levam mais de um mês. Os meus sonhos estão guardados naquela caixa que eu não abro para ninguém ver. Os sonhos e a promessa que eu fiz. Eu fiz uma promessa muda e eu vou cumprir, é o meu plano para os próximos anos. Pode levar todos os meus anos, mas um dia vou enxergar a vida que Ele roubou nos olhos daquelas crianças. Ela sabe, eu sei, eu sei que ela me ouvia, mesmo que estivesse branca e gelada. E agora, garoto, você fica aí olhando por essa maldita janela se sentindo incompreendido e cheio. Cheio de um sentimento que você se quer provou. Tanta coisa longe do seu raio de visão. Os 180º que esse prédio te permiti enxergar. Tem tudo do outro lado. Vida atrás das suas costas. A minha vida bem aqui parada as suas costas. Mas, você não vai enxergar isso nunca.

Vou levantar e recolher a saudades junto com a minha bolsa ali no canto. Subir a augusta e ter medo dos carros, como quando eu tenho certeza de que ainda não é hora de ir. Hoje, só uma doce ilusão e a certeza de que nada muda enquanto continuar igual.

Say I want your love, don't wanna borrow
Have it today to give back tomorrow
Your love is my love
My love is your love
There's no love for nobody else
(NIna Simone)

Bilhete

Não que fosse ligar, mas ainda assim manteve o cuidado de avisar quando saiu.
Talvez ainda voltasse antes de sua chegada, talvez ainda nem tivesse saído quando chegasse. Mas assim fez. Dentro da gaveta da arca haviam papéis recortados em pequenos retângulos, próprios para o uso de recados. Dentre todas as cores, puxou qualquer um. Se deparou com o verde clarinho.
Ao encostar a caneta no papel, riscou as frases em poucos segundos.
Saiu e trancou a porta, passou pelo corredor e seguiu o destino.

Quando ele chegou, o sol não mais invadia a cozinha. Não ligou para a luz apagada mas acendeu o cigarro. Chamou seu nome. Ela parecia não estar. Caminhando lentamente se deparou com o bilhete que estava fixo na geladeira. Com os olhos cansados, forçou para ler as letras miúdas, que diziam:

"Embora existam alguns motivos, eu não fugi!

Fui às compras. Tem coisas em falta por aqui.

Talvez até demais. Talvez eu tenha apenas saído com a esperança de encontrar o que acusa falta além no vazio da despensa.

Nessas horas me questiono mesmo sobre fugir. Acho que não o faço por não saber. Acho que só volto por... bobagem.

Se eu demorar e você se afligir, não hesite em me procurar. Me faça lembrar como é ser amada.

Sua. Sempre sua.

M."

Ele hesitou, é verdade. Cambaleou por todas as palavras e sentiu toda a formigação no cérebro. Aquela típica sensação de uma epifania. Demorou para realmente cair em si, novamente. E perguntou-se: "Por onde andava? Por onde havia andado?".

Abobado pelos movimentos repentinos e toda a descarga tempestuosa de idéias, ele tentou dar um passo e sentiu suas pernas bambearem. Depois, quase que ao chão, tentou manter-se em pé. E tentou de novo. E de novo. E de novo. E de novo.
Com muito custo, conseguiu. Agora, com um pouco mais de resistência, caminhou a passos largos, em direção à caneta. Apontou-a para o verso do papel. E rabiscou.

"Não saltei ou saí correndo, porque as pernas que um dia foram boas, hoje não conhecem o peso de meu sustento. Fragilizadas por palavras.

Há tanto esperei. Esperei por sentir minhas pernas sacudirem em resposta à esse coração instável. E hoje posso dizer. Hoje, descobri que esse coração pulsa mais que qualquer outro de dezoito.

Agora que isso me prova. Digo que só não vi por ser dotado de lerdeza. A memória tenta não ser falha, mas as mãos indicam, no suor, toda minha ansiedade em dizer-te. Se a ausência fez-se presente, não foi por querer. Venho tentado me valer ao seu lado. No entanto não percebo o quão estive errado.

Errado em desistir, errado por fugir. Mas se chegares e eu não estiver a mesa, suba correndo e entre sem bater. Não se espante com a bagunça. Talvez você queira ajeitar tudo, com essa mania dos anos. Mas peço que esqueça. Perceba apenas que a bobagem possui nome. Largue-se comigo no chão. E ame como faço.

Pois ainda amo-te. Pedaço por pedaço.

Teu.

P."

...

domingo, 11 de novembro de 2007

The Collection


E você continua aqui.

Naquele dia não pude me segurar. Tinha tanto a dizer e minha garganta ardia por tentar segurar lágrimas que insistiam em cair. Meus defeitos e vícios cuspidos em minha cara, algo que não pensei que você faria. Por todo esse tempo nunca imaginei que tais pensamentos ocupassem sua cabeça, e, assim de repente, descubro cicatrizes profundas que causei e que, por não conhecer, nunca respeitei. Foi como um tapa na cara saber o quão rápido você pôde listar todos os meus erros. E eu não tinha escolha, além de te ouvir.

Agora ouça, eu posso ser a pessoa mais pessimista, e a mais adorável, ao seu lado. E ainda que você me veja por inteira, cave meus sentimentos e me envergonhe, eu peço, continue aqui. Você viu cada parte, viu minha luz, agora ame minha escuridão. E continue aqui.

Por favor, seja capaz de me tirar dos saltos altos. Seja o idiota que eu sempre suportei, e amei. Você foi meu amigo, meu melhor amigo, sempre teve seus benefícios. E quando te via, te vejo, e sempre, eu perco o fôlego. Sabe, talvez eu não consiga ser boa sem você.

Eu tento argumentar o seu amor na triste convicção de que eu já o experimentei antes. Isso talvez nunca aconteceu (acho incrível a maneira como eu saboto minhas fantasias de reconciliação). Mas, então, porque você continua aqui?

Você me vê, desse modo em que não há amnésia seletiva, e que eu acreditava não existir, antes que você começasse a falar esta noite. Minha memória é simples, eu sempre esqueci o que preferia não lembrar.

Mesmo arrasada e perdida, seu sorriso me dá esperança de que talvez tudo possa ficar bem. É que eu só percebi agora, me desculpe. Se nos apaixonarmos novamente tudo seria resolvido. O amor sempre foi analgésico para a rotina, tome a pílula. E continue aqui.

Não se surpreenda se eu te amo pelo o que você é, sempre foi desse jeito. E ao invés de listar seus erros, preferi sorrir por suas qualidades. Por favor, mantenha meus pés no chão.

E você continua aqui. Posso voltar a sorrir?

segunda-feira, 29 de outubro de 2007



Nossa Susi chega aos 11.
Aproveite enquanto a infância é doce e ingênua, logo mais virá a adolescência, com todos seus problemas e indagações.

Novamente temos cinco textos, de estilos, gostos e cheiros diferentes.
Se lamber os lábios ao final, conte e faça-nos felizes.

Propostas e idéias são sempre bem-vindas.
Caso surja alguma por aí, nos avise!

E até a próxima, que ainda não será aos treze, porque depois disso tudo muda.
(Ua-há-há!)

Küsse! =*

Isn't that all life really is?

Não adianta ficar aqui tentando montar o quebra-cabeça que você desmanchou. Nada do que aconteceu volta daquele jeito que já foi. As coisas mudaram, eu mudei, e não estou disposta a voltar atrás nas minhas decisões para agradar o seu convencionalismo barato. Continuo com as coisas que tenho agora, a pessoa que eu sou de ontem em diante, se o preço for ficar sem você, eu pago. Eu pago o quanto vale a minha liberdade e às vezes ela vale muito mais do que eu tenho.

Sem você, eu vejo aquele show, e continuo feliz porque estou ao lado de quem faz toda a diferença. Ao lado do atemporal, eu sorrio molinha e com sono. Sem as suas mãos, eu sou mais forte. Sem o seu sorriso, eu sou mais leve. Sem o passado eu vejo um monte de possibilidades pela frente. Você levantou e foi embora. Você vai e volta. Mas, dessa vez você foi e voltou sorrindo extasiado por aquilo que a gente também viu. Pela banda que a gente ouviu. Mas, eu não queria saber o que você tinha achado. Aliás, eu quero saber muito pouco ultimamente. As minhas certezas mudam em questão de segundos. Os meus medos não são mais enumeráveis. Eu acho que perdi alguma coisa dessa vida que mantinha minha prudência no lugar.

Às vezes o que seria dor pesa como alivio. Deve ser um misto de cansaço, algumas obrigações, uma overdose de música boa, certa ansiedade e alivio que me faz seguir nessa segunda-feira com um calor escaldante sobre São Paulo.

Some Changes

Olhava e tentava achar uma ligação, um elo qualquer que conferisse lógica ao que via.

As mãos geladas e os pensamentos desencontrados, o telefone toca, mas não era nada importante, nada que a fizesse sair de si.

Impaciente mexe nos cabelos, olhas suas unhas feitas e pensa como seria não respirar, deixar de ser.

Parada na frente do computador ela conta 1, 2, 3 e mergulha. Uma tentativa de experimentar a ausência do ar nos pulmões e de tudo aquilo que não quer mais. Após 60 segundos o coração acelera, a visão embaralha as letras e numa explosão volta a existir. Abre os olhos e está tudo igual, nada mudou.

Teve sono, mas não dormiu, teve fome, mas não comeu, não quis respirar, mas respirou.

Sempre fazia o oposto do que queria e justamente naquele momento em que queria desistir de tudo, de todos e de si fez o contrário.

Acreditou em si mesma, confiou e foi sincera com os amigos e gostou de tudo o que tinha até então.

No dia seguinte acordou e por instinto odiou sua condição e aquela sensação, mas como todo viciado em reabilitação pensou “Ok um dia por vez” e se levantou, escovou os dentes e tratou de sorrir, dificilmente quebrava promessas.

Estava bem, estava feliz e sorria com sinceridade, mas como qualquer adicto sabia que não há transformação plena sem recaída.

Temia porque o fruto do vício sempre estava nela, estava trancado, mas podia ser solto, pois era preso por engrenagens que ela mesma controlava.

Mas estava indo bem e não tivera nenhum ataque de abstinência.

Sua droga?O pessimismo. Que de tão pessimista que era, acreditava que nunca mais escaparia da jaula da sua dona.

E ela?Ah estava bem e tão otimista que até podia pensar em soltar seu pessimismo, nem que fosse para um passeio e para ajudar a escrever uns textinhos aqui e ali.

domingo, 28 de outubro de 2007

Fim das linhas

Hoje a angústia que percorreu o calendário acordou prevendo sua morte. A jornada que ela cursou mais arrastada do que com alegria denuncia uma última curva, logo ali em frente.

Transitava de um dia para o outro com a sensação de ter a sua perspectiva se esvaindo; nada acumulado pelos números anteriores e nada que pudesse esperar de diferente nos seguintes. A satisfação que poderia ter em deixá-los para trás se limitava na iminente repetição deles que viria no próximo número. Sentia também certo remorso por pensar em admirar o tempo passado em branco, contudo continuava se esforçando para deslizar por entre dias, semanas, meses... até certo momento que ainda desconhecia.

Não lembra quando começou a fazer do calendário uma pista ou, ao menos, quando é que se motivou a acatar essa definição e correr por sua extensão. Agora que se deu conta, está dando seus últimos passos. Pequenos detalhes acumulados nos derradeiros dias lhe deram essa certeza – detalhes que, se fossem avulsos, talvez não fizessem qualquer diferença. A angústia chegou a sentir pequenas alfinetadas ao notar a imensa dose de expectativa contida nesses fatos, só não pôde prever que nas seguintes linhas da tortuosa lista, eles é que seriam os responsáveis pela sua possível aniquilação.

Sabe que seu tempo já é curto e o instinto autodestrutivo a faz abreviar ainda mais a virada das páginas. Tal esforço tem consumido a consistência de seus atributos, tornando-a uma angústia quase neutra. Orgulho nenhum é capaz de conviver com a ciência de sua própria degeneração e vindoura substituição por qualquer sentimento antagônico e muito mais agradável. Um fim para ela é inegável e ninguém tentaria impedir. Pulando toda a parte emotiva e precocemente saudosista do discurso de despedida, a verdade é que da decadente angústia que se desintegrará nos próximos dois meses ninguém sentirá falta.

Seu posto já está vago e são abertas as inscrições para o candidato a lidar com o calendário dos próximos doze.